Rio com "buracos" é atração curiosa em plena Floresta Amazônica. Conheça
Do alto, são inusitados círculos alinhados no leito do rio. No nível da água, parecem jacuzzis encravadas no interior da maior floresta tropical do mundo.
A 110 quilômetros de Manaus (AM), aproximadamente, o município de Presidente Figueiredo é famoso pelas mais de cem quedas d'água catalogadas, com opções que vão das isoladas em grutas e cavernas a versões familiares em áreas privadas.
A mais intrigante delas, porém, é a Cachoeira do Mutum (@oficialcachoeiradomutum), conhecida pelas formações geológicas circulares sobre a laje de uma rocha no rio Mutum e abertas à visitação pública.
São cerca de 11 poços naturais de formas cilíndricas perfeitas, chamadas localmente de "marmitas" ou "panelas", e com diferentes diâmetros e níveis de profundidade.
Assim como conta a geóloga Isabela Apoema, mestranda em geodiversidade pela Universidade Federal do Amazonas, uma das explicações para essas formações seria o fluxo elevado de água que se infiltra pelas rochas e, como uma esponja, o absorve e tem seus sedimentos levados pela força da correnteza.
Conforme esses sedimentos vão sendo [naturalmente] retirados, esse buraco se alarga e se aprofunda. É como se a rocha fosse retirada grão por grão", descreve.
Terra das Cachoeiras
Diferente do que se costuma imaginar, a floresta Amazônica não é uma imensa área plana cheia de árvores gigantes. Segundo Apoema, as diversas quebras geológicas ao longo das eras deram origem a um terreno cheio de altos e baixos que propiciaram o surgimento de tantas cachoeiras.
"Presidente Figueiredo é um ponto estratégico para muitas dessas quedas", completa a geóloga.
Eis a Amazônia com cachoeira bem no quintal de casa.
"Sem dúvida, nosso atrativo principal são os 'buracos', mas tem também a própria queda d'água [Cachoeira do Mutum] com uma praia ótima para banho e areia branca", diz Louise Ravedutti, proprietária da atração.
A cachoeira em degraus tem cerca de sete metros de altura e águas de tons ferrugem que correm em direção às inusitadas piscinas naturais. Para ir detrás do véu d'água, uma corda ajuda a vencer a correnteza.
É uma das cidades que tem mais cachoeiras no Brasil, é um presente da geologia para a região", explica Apoema sobre esse atrativo no Baixo rio Negro, na Região Metropolitana de Manaus.
A geóloga só lamenta não haver ainda estudos geológicos para a exploração do turismo na região, a fim de evitar acidentes como a recente tragédia em Capitólio, em Minas Gerais.
"Está havendo um boom do geoturismo no Brasil, mas eu sinto falta de um plano de segurança nesses locais. Muitos deles não têm sinalização nem um posto de atendimento ao público. Se acontecer um acidente, a cidade mais próxima fica a uns 50 quilômetros de algumas cachoeiras", diz a geóloga, que também alerta para a falta de acessibilidade de pessoas com mobilidade reduzida.
Embora sejam frequentados por grupos ou famílias com crianças, atrativos locais nem sempre contam com infraestrutura como restaurantes ou serviço de salva-vidas.
Assim como avisa a proprietária da Cachoeira do Mutum, que fica em uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural), o restaurante com banheiros ainda está em obras, mas será inaugurado na entrada do ramal de acesso, longe do atrativo natural "para não levarem lixo para a cachoeira nem consumirem [ali] a comida do restaurante".
Turismo e ciência
Diante da diversidade de geoformas esculpidas pela erosão causada pelas chuvas, foi instituído na região de Presidente Figueiredo, em 2011, o Geoparque Cachoeiras do Amazonas, que propõe a implementação de um plano de ação que permita o geoturismo, a partir de um tripé que inclui conhecimento científico, gerenciamento do patrimônio e informações relevantes para todos os públicos.
"Isso é de extrema importância para o povo reconhecer o chão que pisa. Às vezes, a gente está tomando banho nas cachoeiras e tem fósseis ao lado", descreve Apoema, que também acredita que a criação de geoparques ajuda no desenvolvimento das comunidades locais e na criação de mais empregos.
Fundada há pouco mais de 40 anos com a construção da hidrelétrica de Balbina, a jovem cidade de Presidente Figueiredo tem o turismo como uma das principais atividades econômicas.
Recentemente, foi anunciado também um mapeamento das atrações turísticas, encabeçado pelas secretarias estadual e municipal de Meio Ambiente, como o levantamento na APA Maroaga com regras de conservação e melhoramento da infraestrutura.
Como chegar
Para quem vem do lado de cá do país, sobretudo do Sudeste, pode ser grande a frustração ao chegar em Presidente Figueiredo e se deparar com cachoeiras em áreas privadas que lembram clube de férias (com bar e cadeiras de plástico na beira de praias de água doce em alguns empreendimentos).
Mas para explorar o mais inusitado do destino não basta entrar na primeira placa da estrada que indique uma queda d'água.
Para chegar à Cachoeira do Mutum, localizada no km 56 da Estrada de Balbina (AM-240), por exemplo, é preciso encarar uma trilha de terra de seis quilômetros de extensão, que pode ser percorrida em carros 4x4, a pé ou nos "paus de arara", transporte alternativo oferecido pelo empreendimento para grupos mínimos de 15 pessoas.
E como não poderia ser diferente em terras amazônicas, é possível dar de cara com aves, macacos, cobras e onças.
Entre as apostas inusitadas da geóloga Isabela Apoema estão atrativos como a cenográfica Caverna do Maroaga e a Gruta da Judeia, a Cachoeira do Santuário e a Cachoeira das Orquídeas.
Para quem ainda prefere a facilidade do turismo na beira da estrada, a geóloga recomenda as corredeiras do Urubuí e a Cachoeira da Porteira, equipada com camping e banheiros.
O acesso para os principais empreendimentos é feito pela BR-174, rodovia entre a capital amazonense e Boa Vista, em Roraima.
Melhor época
Com o aumento das chuvas, a partir de dezembro e picos de precipitações entre março e maio, os níveis das águas da cachoeira aumentam, ocultando as piscinas naturais da Mutum.
Por isso, a melhor época para visitar a atração é durante o verão amazonense, que vai de julho a outubro. Já o período mais seco costuma ser entre os meses de setembro e novembro.
A temperatura média anual é de 25,5 °C, mas durante todo o ano o visitante pode esperar o bafo quente típico dessa floresta úmida que mais parece uma imensa estufa a céu aberto.
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