Por que comer andando na rua não pega bem no Japão (e tem até "lei" contra)
Comprar um espetinho ou outro petisco e sair andando mordiscando o lanche. Que mal tem? Para os brasileiros, nenhum. No Japão, porém, apesar da grande fama que o país tem em comida de rua, a prática não é bem vista e virou até preocupação governamental.
A prefeitura de Kamakura, cidade turística a pouco menos de uma hora de Tóquio, solicitou formalmente, desde 2019, que o público não realize as duas atividades ao mesmo tempo.
De acordo com o município, a portaria traz princípios básicos para preservar o "bom ambiente" e tornar o lugar agradável para todos. A recomendação para não comer caminhando veio numa leva de outros alertas que incluem evitar correr no meio de outras pessoas e andar de bicicleta na calçada.
Pouco espaço e muita gente: entenda o contexto
Kamakura é um destino turístico que entra no roteiro de quem vai a Tóquio. Como fica pertinho da metrópole, trata-se de um "bate-volta" atrativo e cheio de história.
A cidade foi a capital do país, é sede de festivais culturais e abriga templos históricos como o Kencho-ji, o mais antigo mosteiro de treinamento Zen, e a segunda maior estátua de buda (pesa 93 toneladas).
Tudo isso atraiu, em tempos pré-pandemia, mais de 20 milhões de turistas por ano ao pequeno município, que tem área similar a Diadema, na Grande São Paulo.
"A portaria visa concretizar uma cidade turística madura onde todos possam sentir-se bem ao viver ou visitar", diz a prefeitura.
Qual a solução para os famintos, então? Comer parado em frente aos estabelecimentos e às barraquinhas de rua ou embrulhar o quitute e levar para outro ambiente, como uma praça.
Entre a obrigatoriedade e o consenso
Após repercussão na mídia, a prefeitura criou uma ilustração para exemplificar os atos considerados incômodos e esclareceu que não se trata de uma proibição sujeita a penalidades, mas de uma política de conscientização.
Brasileiro, viajante profissional e morador do Japão há 16 anos, Roberto Maxwell explica que isso evita que as pessoas se esbarrem e sujem umas as outras.
Virou um consenso e as pessoas acabam seguindo. Os japoneses têm como base não incomodar os outros".
Piti Koshimura, moradora de Tóquio e autora do blog e podcast "Peach no Japão", afirma que a orientação está ligada também ao descarte de lixo.
"Aqui, é difícil encontrar lixeiras em lugares públicos (medida preventiva tomada após um atentado terrorista). Então, se compramos um espetinho num lugar e saímos andando, dificilmente vamos achar uma lixeira para descartá-lo mais adiante".
A mentora de viagens e sansei Marina Tsuge fala que o pedido é comum em lugares turísticos para além da Kamakura. "Comparando com o Brasil, é como se tivesse placa nas praias de Copacabana dizendo que não pode jogar lixo na areia... Para a gente é óbvio, mas para quem é de um país diferente pode ser algo 'novo'".
A jornalista Mirela Mazzola morou no país por dois anos e sentiu que não comer andando é uma regra velada. "É um costume ocidental que chega a ser visto como falta de educação".
Emiko Miyata, que se casou com um japonês e vive lá há 30 anos, ressalta um outro aspecto da norma: o olhar cuidadoso para a alimentação. "No passado, a tradição era comer sempre em casa, sentado e, de preferência, sobre um tatame".
Há exceções
Embora não seja bem visto no dia a dia, comer e andar está mais do que permitido em determinadas situações. "É o caso dos festivais, onde faz parte do passeio beliscar e caminhar", lembra Maxwell.
A dica para o viajante brasileiro é: fique de olho nas regras locais. Se a cidade, como Kamakura, diz "não", não faça. Mas se não existe um cartaz com a proibição e você vê os japoneses comendo, coma também".
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.