De anfitrião naturista a vítima de guerra: as experiências do couchsurfing
Uma das maneiras mais baratas e diferentes de se hospedar pelo mundo é usando a plataforma couchsurfing, que permite que o viajante fique na casa de uma pessoa sem pagar quase nada. Por causa da pandemia, a empresa passou a cobrar um valor simbólico, mas por muitos anos era possível permanecer de dois a três dias na casa de um desconhecido de forma gratuita.
Diante dessas estadias, sempre há histórias curiosas, engraçadas e até ruins que rendem bons relatos pós viagem. Nossa conversou com cinco viajantes que contaram suas experiências e compartilharam seus relatos abaixo.
Anfitrião acumulador
Depoimento de Luan Delgado:
"Eu e minha namorada estávamos fazendo um mochilão pela Europa e tentamos fazer nosso primeiro couchsurfing. Como era a primeira experiência, estávamos ansiosos e queríamos ver como seria lidar na casa de um morador. A cidade escolhida foi Amsterdã, justamente por ser uma das mais caras da Europa.
Quando chegamos lá, íamos passar três noites e fomos para o apartamento do anfitrião. Porém, ao chegar no local, se tratava de um acumulador. Ele tinha tudo pela casa: livros, quadros, roupas, móveis. Não tinha nenhum espaço.
Eu tenho rinite alérgica e pensei que realmente não ia dar para ficar ali de jeito nenhum. Ainda tinha uns franceses que queriam ficar mais tempo e dormiriam no quarto que era para ser nosso. O anfitrião falou que daria um jeito e acharia um cantinho para ficarmos.
Saímos e fomos dar uma volta na cidade.
Quando voltamos para casa, ele disse que tinha uma notícia boa para nós e que poderia oferecer a casa do seu irmão gêmeo, que era extremamente organizado e tinha TOC de limpeza.
O apartamento estava praticamente vazio e ele disse que o irmão era muito minimalista. Ele falou que sabia que era acumulador e viu nos nossos rostos, mas falamos que não tinha problema nenhum e tentamos desconversar. Ficamos no apartamento 'clean' três dias e depois fomos embora.
É engraçado pensar que os irmãos eram totalmente opostos. São histórias que só acontecem quando você se aventura no couchsurfing."
Estadia em porão
Depoimento de Daniele Jacinto:
"Fiz um mochilão pela América do Sul e a maior parte da nossa experiência foi em couchsurfing. Estávamos na cidade de Abancay, no Peru, e tivemos muita dificuldade de achar o local.
Ficava em uma rua de terra e o anfitrião descreveu como uma casa na árvore e realmente tinha uma árvore enorme. Mas tinha uma espécie de tatame, colchonetes de academia e um lençol dentro da árvore. Para nossa surpresa, tinha uma meia dúzia de viajantes dormindo lá.
Como estava grávida de três meses e não tinha muitos hotéis na região, disse que não poderia ficar dormindo naquela árvore e o anfitrião nos colocou em um porão. Lá só tinha uma cama de solteiro, um colchão super fino e uns lençóis. O porão não tinha luz e para enxergar a gente acendia a luz celular. A vista era tão horrível, que dava para um monte de mandioquinhas.
Lembro que estava um frio intenso e o banheiro era lá fora. Como grávida urina muito, sempre levantava para ir lá fora, me agachei e meu corpo travou. Voltei para a cama e meu marido ficou desesperado. Para completar, estávamos sem seguro viagem e fiquei três horas deitada até meu corpo destravar.
Fiquei travada, dormimos mal e foi só o tempo de ir para a rodoviária e seguir viagem. Pegamos o primeiro ônibus para ir embora e fomos rumo a Nazca".
Tragédia na Síria
Depoimento de Joana Pimentel:
"Fui para Carcassone, na França, onde tem vários castelos. Fiquei na casa de um sírio, que foi muito receptivo e fez até jantar para mim. No meio da refeição, ficamos conversando e ele me disse que era jornalista e que denunciava várias atrocidades que ocorriam no país dele.
No meio da conversa, ele disse que a casa em que ele morava havia sido bombardeada e que ele perdeu a esposa, filhos e tudo. Mesmo diante de tudo isso, ele não chorava e era um pouco durão.
Ele foi para França tentar uma nova vida e saiu fugido de lá. O mais interessante é que mesmo morando na Europa, ele continuou denunciando tudo que ocorria na Síria. Senti que não sei nada da vida e que sou muito privilegiada".
Alergia deu fim à festa
Depoimento de Amilton Fortes:
"Eu viajei para Europa e estava usando muito couchsurfing. O anfitrião fez uma festa e no meio estávamos comendo.
Ele fez um prato mexicano e eu não sabia que era alérgico à pimenta e percebi algo estranho na minha garganta. Minha glote começou a fechar e eu perguntei o que tinha na comida.
Ele disse que tinha colocado pimenta. Acabei em um hospital em Barcelona, não falo espanhol e foi um tanto cômico. Não conseguia explicar o que havia acontecido. Me deram um antialérgico e fui embora.
Foi assim que descobri que tinha alergia a um tipo de pimenta mexicana. A festa parou por causa disso, mas o host foi super atencioso comigo. Hoje dou risada, mas não aconteceu nada mais grave do que isso".
Assédio na estadia
Depoimento de André (nome trocado a pedido da fonte):
"Eu já tinha feito o cadastro no couchsurfing, mas acabei não ficando da outra vez que viajei. Como queria economizar, pensei em usar a plataforma. E tive três experiências com a empresa.
A primeira foi muito boa, o anfitrião me mostrou a casa, um sofá cama, o que eu poderia comer e me deu até uma chave. Eu fiquei dois dias nesse.
A pior experiência foi a terceira mesmo. Estava em Estrasburgo, na França, e comecei a procurar lugares para economizar. Encontrei um pelo couchsurfing e na descrição ele já falava que ele era naturista, mas não vi problema porque já havia frequentado praias naturistas.
Talvez não me atentei no anúncio, que dizia que tanto o anfitrião quanto o hóspede deveriam ficar pelados. Ele me mostrou a casa e onde eu ia dormir. Ele falou para irmos para cozinha e ficarmos mais à vontade.
Coloquei uma bermuda e ele disse que eu não tinha entendido e que todos da casa deveriam ficar nus. Eu já estava cansado e fiquei pelado também. Comecei a me sentir constrangido porque percebia que ele sempre olhava para o meu pênis.
O detalhe é que ele trabalhava na ONU e falou para eu colocar o relógio para despertar porque ele ia sair para trabalhar. Ele foi dormir e eu fui depois de um tempo.
Quando estava praticamente pegando no sono, eu comecei a ouvir um barulho que era de masturbação e achei muita falta de respeito. Pensei até em agredi-lo. Levantei, atravessei a casa, vi que tinha uma cama de casal vazia e achei estranho, porque ele poderia ter me deixado dormir naquele quarto.
Na hora pensei que ele poderia me obrigar a fazer algo, chamar a polícia e realizar algo contra mim, justamente porque trabalhava em uma empresa como a ONU. Voltei, peguei meu passaporte e meu dinheiro. Dormi nesse quarto, acordei às oito horas e voltei para sala. Quando ele acordou, perguntou se eu tinha dormido bem e falei que foi muito constrangedor o que aconteceu.
E ele disse que fazia isso às vezes e me ofereceu café. Achei um absurdo e perguntei se podia ficar na casa só para pesquisar um outro lugar para ficar e ele disse não. Estava sem chip de telefone e a minha sorte foi que achei uma praça com wifi livre. Estava tudo muito caro e eu pensei em ir para Genebra, na Suíça, que fica bem perto.
Comecei a olhar passagens de ônibus e eram muito caras. Quando eu consegui internet, ele me mandou mensagem falando que iria receber um italiano e disse que eu poderia dormir na cama de casal que tinha aparecido no anúncio.
Nessa noite nem vi eles, eles só abriram a porta, fiquei até umas quatro horas da manhã e fui direto para o ônibus. Foi muito constrangedor. Eu imagino como é para uma mulher passar por uma situação dessas. Eu ainda tenho a força física, mas se é uma mulher passando por isso, é bem complicado".
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