Comer bem em Paris: como fazer um dia de orgia gastronômica por 100 euros
Que Paris é uma das melhores cidades do mundo para comer, todo mundo já está cansado de saber (ainda que, no geral, as ofertas sejam um pouco superestimadas, é preciso dizer?). Mas também já se tornou igualmente conhecida a fama da capital francesa de ser uma das mais caras do mundo.
Levantamento do Worldwide Cost of Living de 2020, o relatório do Economist sobre as cidades com o custo de vida mais caro, mostra que Paris lidera o top da lista — ao lado de Zurique e Hong Kong.
Um simples café espresso, na cidade, ronda os 3 euros. E uma garrafa de água pode facilmente chegar a 5 euros. Com a conversão desfavorável para nosso desvalorizado Real, fica difícil aproveitar todas as ofertas gastronômicas que Paris tem a oferecer.
Mas há meios de devorar a cidade sem ter que entrar no cheque especial na volta. E, mais que isso, ainda aproveitando a comida dos chefs mais estrelados, comendo nos restaurantes mais cobiçados e tendo um dia de verdadeiro exagero gastronômico parisiense.
Criamos um roteiro de 24 horas para um casal devorar a cidade por menos de 100 euros, do café da manhã ao jantar — e até com uns bons copos depois. Pode ir com fome, que o cardápio é caprichado.
10h
Croissant para começar o dia
Preço: 1,30 euros (unidade)
Uma das melhores coisas de se estar em Paris é ter os melhores croissants recém-saídos do forno a cada esquina. A grande maioria já é muito melhor do que estamos habituados, mas alguns são tão bons que chegam a dar sentido à nossa insignificante existência.
É o caso dos da Poilâne, uma pequena e famosa padaria familiar que assa maravilhosos pães de fermentação natural e croissants dourados e estaladiços que transformam o dia de uma pessoa. Apollonia Poilâne, terceira geração da família, é a responsável pelas receitas que se mantêm por décadas e que transformaram a marca (com três unidades na cidade) numa espécie de culto entre famintos e chefs de cozinha.
Poilâne: 8 Rue du Cherche-Midi
10h30
Hora do café
Preço: 2,5 euros (espresso)
Alain Ducasse é hoje o chef mais estrelado da França — o que significa que é também o que detém mais estrelas Michelin no mundo. São 19 delas espalhadas por um império gastronômico de 72 endereços, de Las Vegas a Tóquio. Foi o primeiro cozinheiro a ter 3 restaurantes com a cotação máxima (3 estrelas) do guia francês.
A maior parte dos seus restaurantes está em Paris, onde ele tem criado modelos de negócio mais, digamos, democráticos.
Recentemente, Ducasse abriu sua fábrica de chocolates e uma torrefação de cafés para expandir sua atuação na gastronomia — dar acesso a qualidade a mais pessoas, ele diz. Os cafés vêm de algumas das melhores regiões produtoras do mundo (como Colômbia e Etiópia) e são vendidos nas lojas próprias do chef (três em Paris e uma em Londres).
Com caprichado apelo estético, serviço de alta gastronomia e chocolate de origem para acompanhar, é a xícara de café mais estrelada que se pode tomar na Cidade Luz.
Le Café Alain Ducasse: 47 rue du Cherche-Midi
12h
Bao do bom
Preço: 16 euros (5 unidades)
Adeline Grattard ficou conhecida por estrelar um dos mais sensíveis episódios da popular série gastronômica "Chef's Table", do Netflix. Mas muito antes, ela já tinha marcado seu nome na cena parisiense por seus pratos franco-asiáticos feitos com delicadeza e criatividade no Yam'Tcha, seu famoso restaurante com uma estrela no Guia Michelin.
Mais recentemente, Gattard e seu marido, Chi Wah Chan, decidiram abrir um novo espaço com um menu focado em seus deliciosos baos (os pães chineses feitos no vapor com distintos recheios), a poucos metros da matriz. Chegam fofinhos e quentes à mesa e são ótimos para acompanhar os muitos chás da carta (especialidade do sr.Chan).
Os recheios mudam sempre: porco Basco com berinjela, queijo Comté com curry, vegetais e o imperdível Stilton com amarena — a versão mais emblemática da casa, que Grattard define como "a história da nossa vida", se referindo às raízes francesas e taiwaneses da receita, representando ela e o marido. É o jeito mais barato de comprar umas horas de aconchego em Paris.
Yam'Tcha Boutique: 4 rue Sauval
13h30
A maçã cobiçada
Preço: 17 euros (cada sobremesa de fruta)
Cédric Grolet é o mais celebrado chef de patisserie do momento em Paris. Criador das sobremesas lindas e cheias de cores do luxuoso hotel Le Meurice (que tem Ducasse como chef executivo), suas sobremesas são para poucos.
Ou eram, até que uma pequena boutique nas intermediações do próprio hotel abriu as portas para receber os pobres mortais que se avolumam na porta para provar uma das sobremesas do talentoso confeiteiro, entre elas as suas famosas frutas esculpidas.
Maçãs, mangas e limões que combinam fruta fresca, geleias e ganache para o deleite dos que se dispõem a gastar quase 20 euros pelos frutos quase proibitivos — mas que valem cada dentada.
La Pâtisserie du Meurice par Cédric Grolet: 6 Rue de Castiglione
15h
Um judeu tipicamente parisiense
Preço: 6,5 euros (cada sanduíche)
Entre os bairros mais culturalmente efervescentes de Paris hoje, o Marais se destaca pela sua mistura diversa e sua forte herança judaica, que está espalhada pelas sinagogas, padarias kosher e nos muitos restaurantes israelenses sempre apinhados de peregrinos em busca de algo quase sagrado: um sanduíche de falafel.
A capital das estrelas Michelin tem a fama de oferecer algumas das melhores versões do mundo dessa popular comida de rua no Oriente Médio.
Os bolinhos verdes de grão de bico e especiarias aninhados em um pão pita com repolho em conserva, pepino picado, tahine cremoso e pedaços de berinjela são uma iguaria na Rue de Rosiers, onde uma quase dezena de casas especializadas ombreiam pelo título de melhor falafel da cidade.
O do L'As du Fallafel é o mais recorrente nas listas e guias, algo comprovado pelas longas filas que se formam em frente à sua chamativa fachada verde. Pra levar ou pra comer ali (no salão com mais de 100 lugares): é tão típico de Paris quando um delicioso pain au chocolat, pode acreditar.
L'As du Fallafel: Rue de Rosiers
16h30
No Pain, no chocolate
Preço: 1,60 euros (cada)
Por falar nele, é andar poucos passos para abocanhar um dos melhores de toda a cidade. O famoso chef confeiteiro Yann Couvreur faz clássicos franceses revisitados com o apuro da melhor alta patisserie francesa (famosas as suas tartes, como a de limão, e seu Paris-Brest).
Mas ele não sai em nada pior em suas caprichadas viennoiserie (os assados feitos com massa folhada e boas doses de manteiga).
O pain au chocolat vai se quebrando delicadamente a cada mordida para revelar o chocolate amargo escondido em suas muitas camadas. A vontade é comer uns três, mas melhor guardar espaço que ainda há muito pela frente.
Yann Couvreur Pâtisserie: 23bis Rue des Rosiers
19h
Umas e ostras
Preço: de 22 a 26 euros (6 unidades)
Depois do enorme sucesso com o Septime, seu bistrô moderno no 11º Arrondissement, o chef Bertrand Grébaut conseguiu fazer do seu charmoso bar de frutos do mar talvez o endereço mais concorrido na cidade. Tudo graças a uma combinação matadora de ótimos produtos, atmosfera sem afetações e um serviço atencioso, além de uma carta de vinhos curta e esperta.
Se puder escolher, sente-se ao balcão, onde é possível acompanhar todo o incansável movimento do pequeno, mas aconchegante espaço.
Um prato de ostras é tudo o que você deve querer comer depois de um dia tão gastronômico, certo? Todos trazem 6 unidades de localidades distintas da França, como Oleran ou Chausey, sempre muito frescas. Como não há reservas, chegue mesmo na hora de abertura para conseguir lugar.
Clamato: 80, rue de Charonne
21h
Para dormir bem
Preço: 12 a 15 euros (por coquetel)
Antes de dormir, ainda há espaço para um coquetel a embalar uma boa noite? Sempre há! O The Little Red Door é o bar francês melhor colocado na lista dos 50 Best Bars, que reúne os melhores lugares do mundo para um bom drinque.
A diminuta porta vermelha no meio do quarteirão seguida por uma fila indica que é mesmo ali. Os coquetéis inventivos valem a espera: a carta é enxuta, mas traz sabores inusitados (couve no coquetel? pó de batata roxa?) em combinações equilibradas e celebração aos produtores rurais.
A trilha sonora, de jazz do Leste Europeu a trap francês, mantém a boa atmosfera. Pra terminar um dia muito bem acompanhado de um copo.
The Little Red Door: 60 rue Charlot 75003
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