"Estava usando este vestido quando tive a minha filha dentro de um carro"
Em 2017, eu e meu companheiro, Rafael, fizemos uma viagem pela Europa. Descemos de avião em Paris e pegamos um carro para visitar Amsterdã, na Holanda, e Berlim, na Alemanha. Era a nossa primeira viagem juntos. Na última cidade, estava andando pela rua quando vi a fachada da loja Monk. Tinha várias coisas legais, mas o que mais gostei foi um vestido quadriculado com rosa.
Como ele era solto, pensei que seria uma peça que usaria em várias ocasiões. Na época estava fazendo estágio em Direito, então seria algo com o qual poderia ir trabalhar e sentar para tomar uma cerveja.
Durante cinco anos, eu o usei muito. Consegui, de fato, que essa peça estivesse em várias ocasiões do meu dia a dia. Em uma ida ao mercado, ao bar. Eu o combinava com salto, com chinelo. Sei que ele sempre vai ficar bom quando precisar usá-lo. Ele se tornou uma das minhas peças favoritas e o lavava com muito cuidado, porque me lembrava da viagem que foi tão especial para a gente.
No fim de 2020, fiquei grávida da minha primeira filha. O vestido continuou participando dos meus dias. Eu o usava muito, porque ele é solto e não apertava a barriga. Como é de botão, é fácil de colocar e tirar. Assim, quando saía para ir a uma consulta médica, eu sempre o colocava. Até que, no dia que a nossa filha nasceu, ele se tornou a peça mais importante do meu guarda-roupa.
Comecei a ter contrações às 23 horas do dia 16 de agosto de 2021. À meia-noite elas ficaram mais fortes e, às duas da manhã, minha doula e enfermeira obstétrica vieram para casa. Depois disso, parei de sentir dor e fui tomar banho, tentei dormir um pouco. Às cinco horas, as contrações voltaram e, por volta das 5h30, minha bolsa estourou. Nessa hora, começamos a nos arrumar para ir para o hospital para o parto da minha filha.
Um dia desses a fotógrafa que registrou o momento me mostrou o material bruto do vídeo. Nele, aparece eu terminando de ter uma contração e o Rafa me perguntando que roupa eu gostaria de vestir. Eu respondi: "O vestido quadriculado, de Berlim". Não sei porque disse isso, já que não gostaria de sujá-lo. Foi uma escolha muito arriscada. Porém, estava com muita dor, precisava de uma roupa fácil de colocar e de tirar e só pude pensar nele.
À caminho do hospital, meu companheiro estava dirigindo enquanto eu tinha contrações no banco de trás. Uma hora, eu gritei que ia nascer. Cecília nasceu 16 minutos depois da minha bolsa estourar, ainda no carro."
Quando dei entrada no hospital, coloquei a camisola e vi os enfermeiros colocando a minha roupa em um saco. Tudo estava com muito sangue. Imaginei que tinha perdido o meu vestido, junto com uma manta que tinha levado para a Cecília. Minha mãe foi ao hospital nos ver e pedi, pelo amor de Deus, o que ela poderia fazer para salvar o vestido e a manta. Minha avó, com muita paciência, ficou esfregando para tirar a sujeira sem estragar as peças. No fim, ficou uma manchinha de sangue.
Agora, eu guardo o vestido com muito carinho. Sem criar expectativas — mas já criando — espero que, um dia, a Cecília goste e use ele. Afinal, este vestido é a peça que eu estava usando quando o meu maior amor do mundo nasceu."
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