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Aos 58, ela viaja sozinha no Brasil: "Torço para mulheres se jogarem mais"

Lurdes começou a "mochilar" depois da aposentadoria. Na foto, ela estava em Barreirinhas, no Maranhão - Reprodução/Instagram
Lurdes começou a "mochilar" depois da aposentadoria. Na foto, ela estava em Barreirinhas, no Maranhão Imagem: Reprodução/Instagram

Gisele Rodrigues

Colaboração com Nossa

08/03/2022 04h00

Quem vê Lurdes Almeida (@lu_na_rotadossonhos), 58 anos, está realizando o seu sonho de viajar sozinha pelo mundo depois de passar 33 anos de sua vida trabalhando no setor administrativo.

Em junho de 2021, a ex- assistente jurídica deixou sua casa em Cabo Frio (RJ) e decidiu viajar pelo Brasil. Com poucas roupas e uma mochila de 50 litros, a mãe de dois filhos que hoje moram fora percorreu vários estados brasileiros trocando seu trabalho por hospedagem, começando pela cidade de Paraty, no Rio de Janeiro.

Eu queria começar a viagem próxima da minha casa, por precaução e ver se iria me adaptar, eu fui aprovada para trabalhar na recepção de um hotel na cidade por quinze dias. Mas foi tão boa a experiência que eu renovei por mais quinze dias".

Lurdes em passagem pelo Ceará - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Lurdes em passagem pelo Ceará
Imagem: Arquivo pessoal
Lurdes em Japaratinga, Alagoas - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Lurdes em Japaratinga, Alagoas
Imagem: Reprodução/Instagram

Experiência nova

Com o trabalho, além de economizar nas suas viagens, ela aprendeu uma nova profissão. "Nunca trabalhei com hotelaria, então foi uma experiencia nova. Não sei falar inglês, mas me resolvi bem no Google Tradutor quando precisava falar com algum hóspede".

Depois seguiu para a próxima cidade, Ubatuba (SP), também trocando trabalho por um lugar para ficar. "Percebi que a viagem ficava financeiramente mais viável para viajar por mais tempo. Eu me senti tão útil que não me sentia assim fazia anos".

Em Maragoggi ela pode curtir um pouco a viagem, enquanto trabalhava em um hostel - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Em Maragogi, ela pode curtir um pouco a viagem, enquanto trabalhava em um hostel
Imagem: Arquivo pessoal

"A rotina do trabalho era muito boa, porque eu trabalhava apenas 5h ao dia, e tinha dois dias de folga. Além disso, eu poderia trocar a minha folga caso eu conseguisse algum passeio. É uma troca de experiências.

Nesse tipo de viagem, eu nunca estou sozinha, sempre estou rodeada de gente nova, hóspedes, e voluntárias que fazíamos planos juntas".

Rumo ao Nordeste

Assim que conquistou a confiança de viajar sozinha, a mochileira resolveu seguir para o Nordeste do Brasil, mais uma vez buscando trabalho em locais em que pudesse se hospedar. A ideia era passar um ano viajando, começando por São Luís até a Bahia, mas no total acabaram sendo 140 dias de estrada.

Eu me candidatava em algumas vagas, mas algumas não eram confirmadas, então eu esperava para ver para onde eu ia. Era uma euforia quando eu finalmente passava na entrevista, porque já começava a comprar as passagens".

Lurdes em Praia dos Carneiros - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Lurdes em Praia dos Carneiros
Imagem: Arquivo pessoal
A viajante passou por Jericoacoara - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A viajante passou por Jericoacoara
Imagem: Arquivo pessoal

Em sua andança pelo Nordeste, mais experiências novas.

"Quando cheguei em Fortaleza, eu morei durante um tempo em um quarto misto com mais cinco homens, e dormir em beliche, coisa que eu nunca tinha feito na vida. A primeira noite foi mais complicado, dá uma insegurança uma mulher sozinha, mas eu sentia que eles se preocupavam mais comigo, do que eu realmente com o lugar".

Além disso, ela passou a trabalhar com outros tipos de atividades, como fazer o café da manhã paras os hóspedes e também a limpeza do hostel. "É um desafio, porque eu nunca tinha feito isso, não sabia cozinhar para muita gente, e aprendi", relembra.

Em trechos dos trajetos, Lurdes também contou com a solidariedade de estranhos, como quando decidiu ir para Barra Grande, Piauí.

"Para chegar até meu destino final, eu precisava chegar até o meio do caminho e pegar um outro transporte, mas chegando até esse local não haveria mais ônibus para Barra Grande". Sem cartão e também sem ter como sacar dinheiro, ela precisou da ajuda de um restaurante local para pagar o valor do transporte.

Amores de viagem e nada de preconceito

A viagem pelo Nordeste começou em setembro e acabou em janeiro desse ano, e foi durante a sua experiência no mochilão que ela conheceu duas grandes paixões, que duraram pouco, porque Lurdes tinha o objetivo de continuar a viagem.

Então eu fui curtindo, e deixando rolar. Dá uma energia, mais viva, e alegria naquele momento e de repente tem pessoas boas no caminho. São pessoas que valorizam muito, e me levantavam o astral."

Um dos lugares onde a viajante mais curtiu no Brasil foi Lençóis Maranhenses - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Um dos lugares onde a viajante mais curtiu no Brasil foi Lençóis Maranhenses
Imagem: Arquivo pessoal

Apesar da idade, Lurdes acredita e não sofreu nenhum preconceito por parte dos viajantes que ela conviveu, seja nas atividades que ela trabalhava e era aprovada, quanto as amizades que fazia na estrada.

"No início eu estranhava um pouco, mas depois eu via que era muito bacana, mas dificilmente eu via pessoas da minha idade viajando sozinhas, principalmente homens era bem raro. Então, em nenhum momento eu sentia solidão".

Paraty foi o pontapé inicial para uma nova vida aventureira - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Paraty foi o pontapé inicial para uma nova vida aventureira
Imagem: Arquivo pessoal

Futuro é o mundo

A viagem foi tão incrível para Lurdes, que ela decidiu agora se aventurar para fora do país, agora em Portugal. A experiência deve acontecer em julho, e ela vai aproveitar o tempo até lá para aprender o inglês, e quem sabe se aventurar por outros países pela Europa

Precisa de coragem e determinação. Torço para mulheres se jogarem mais. A Lu na rota do sonho era o meu sonho que se realizou".