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Como Jobs e Zuckerberg: guarda-roupa super básico está em alta para homens

Steve Jobs, da Apple, e Mark Zuckerberg, do Facebook: looks minimalistas viraram "uniformes" - Reprodução
Steve Jobs, da Apple, e Mark Zuckerberg, do Facebook: looks minimalistas viraram "uniformes" Imagem: Reprodução

Caio Delcolli

Colaboração para Nossa

08/03/2022 04h00

Além da genialidade em tecnologia, outra semelhança bem aparente uniu Steve Jobs e Mark Zuckerberg: a maneira de se vestir. Tanto o criador da Apple quanto o cabeça do Facebook elegeram "uniformes" para o dia a dia.

Tênis, jeans e blusa preta de gola alta foi o combo escolhido por Jobs para praticamente toda sua carreira pós anos 1990. Zuckerberg seguiu os passos e adotou as indefectíveis camisetas cinza de mangas curtas e os jeans retos de cor azul-médio.

O criador do Facebook explicou certa vez o motivo de usar sempre o mesmo look:

Tomo decisões todos os dias. Estou numa posição afortunada em que posso ajudar milhões de pessoas. Se eu gastar o meu tempo ou energia em coisas que são superficiais na minha vida, sinto que meu trabalho não evoluiu"

Jobs e Zuckerberg são os representantes natos do normcore, neologismo criado em 2009 para classificar uma forma objetiva e despretensiosa de se vestir. De certa forma, veio deles e de toda a gama de empreendedores-garotos do Vale do Silício o aval para trocar a gravata e o paletó no ambiente corporativo sem perder a credibilidade.

Segundo Katia Lamarca, coordenadora da graduação em design de moda do IED (Istituto Europeo di Design), de São Paulo:

Estes jovens profissionais de tecnologia do Vale do Silício ganharam o mundo dos negócios, movimentando milhões de dólares e fazendo-se respeitados no mercado de inovação, utilizando o vestuário tipicamente jovem da época — camiseta e jeans"

A partir de então, ter uma camiseta básica prontinha para uso no guarda-roupa virou uma boa pedida. Além de ser simples e elegante, a versatilidade da peça ajuda qualquer um a compor um visual descomplicado — e quem a veste pode sugerir ter uma atitude "direto ao assunto".

Nos últimos anos, o mercado de moda brasileiro tem ganhado novas marcas que contemplam este recorte social do novo homem de negócios, apostando em peças básicas e cores perenes. Elas se diferenciam das já consolidadas lojas de varejo ao adequarem a qualidade de suas peças às exigências desse público consumidor, além de se beneficiarem do crescimento do mercado digital.

Sob medida

Quando trabalhava em uma consultoria de marketing, Eduardo Ferrazza, de 25 anos, notou algo interessante acontecer no escritório. O dress code era flexível e algumas pessoas pareciam não saber bem o que vestir.

As que mais conseguiam ter um resultado legal eram aquelas que se vestiam da maneira mais clean possível"

Eduardo Ferrazza, da Parla - Divulgação - Divulgação
Eduardo Ferrazza, fundador da Parla
Imagem: Divulgação

Pesquisando o tema, ele notou que jovens profissionais usando camisetas minimalistas e de cores neutras já não era uma cena recorrente apenas em startups, mas em agências bancárias também. Eduardo viu ali uma oportunidade de empreender.

Em 2020, ele fundou a porto-alegrense Parla, uma das jovens marcas que contemplam os critérios de caimento, tecidos de qualidade e simplicidade do público-alvo em questão.

No caso da Parla, a escolha pelo tecido peruano de algodão pima, uma das fibras mais nobres do mercado, torna o preço das camisetas mais alto se comparado às de algodão comum.

A matéria-prima que Eduardo oferece é, segundo ele, funcional para quem vai à rua e, na pandemia, tem trabalhado no modelo híbrido, começando o expediente em casa e depois, pondo uma calça, um tênis e indo ao escritório com a mesma parte de cima. O empreendedor aposta ainda no toque do tecido no corpo, que ele diz ser leve, macio e gelado, algo positivo em um país com altas temperaturas como o Brasil.

Novas marcas

Caíque Basso, de 24 anos, também quer vestir jovens profissionais. Ele lançou em 2019 a Maré 8, em Florianópolis, que também lança mão do modelo de negócios de venda direta ao consumidor. Assim como a Parla, ele vende pelo próprio site, cortando os custos da cadeia varejista.

Caíque Basso, da Maré 8 - Divulgação - Divulgação
Caíque Basso, da Maré 8
Imagem: Divulgação

"Quando a gente desenvolve um produto novo, leva em consideração três pilares: sofisticação, funcionalidade e conforto", conta, e completa:

Se você quiser usar nossas peças durante o dia, você consegue. Se quiser usar à noite para sair com os amigos, também consegue"

A Maré 8 oferta camisetas, cuecas boxer e slip produzidas com o modal, tecido sustentável e de alta tecnologia.

A paulistana Insider, de Yuri Gricheno e Carolina Matsuse, ambos de 30 anos, é outro exemplo de marca que se guia pelo que há de específico no dia a dia dos homens que querem usar a moda básica e propõe soluções tecnológicas.

Fundada em 2017, ela começou, assim como a Parla e a Maré 8, com uma necessidade de seu fundador: Yuri precisava de camisetas para usar sob a camisa social no ambiente de trabalho.

Eu trabalhava de roupa social, transpirava bastante e tinha camisetas que estragaram por causa de desodorante"

Yuri Gricheno, criador da Insider - Divulgação - Divulgação
Yuri Gricheno, criador da Insider
Imagem: Divulgação

A primeira peça da Insider foi uma camiseta antissuor e antiodor para usar sob a camisa, feita com microfibra que se ajusta à musculatura do corpo. Depois, vieram cuecas, camisetas, meias e as linhas esportiva, de proteção antiviral e contra a proliferação de bactérias.

Como atrativo extra, a marca afirma que as peças têm secagem rápida e tecidos não desbotam com o tempo e nem precisam ser passados.

A empresa expandiu o portfólio para uma linha feminina — que se tornou maior que a masculina — e outra de máscaras e camisetas antimicrobianas e antibacterianas para a pandemia.

Da mesma forma que marcas fast fashion criam várias coleções, a gente cria várias tecnologias. Essa é a nossa principal proposta de valor", explica Yuri.

Desafios

A covid-19 fez o mercado digital tornar-se ainda mais valioso para o setor, analisa Katia Lamarca, do IED.

"A tendência do minimalismo, de modo geral, já vem de alguns anos e tem sido amplificada à medida que mais e mais usuários se preocupam em manter um guarda-roupa com apenas o essencial", comenta.

Marcas iniciantes têm ganhado espaço democrático na internet e acredito que a pandemia não tenha afetado o desejo de consumo ou as escolhas de produtos desses homens"

Descobrir uma linguagem para se aproximar do público nos meios digitais, atualmente, é um dos desafios para a construção de marcas, diz Eduardo, da Parla.

"Diferente das lojas de anos atrás, que nasceram e cresceram no meio físico, hoje as empresas têm a oportunidade da conexão direta com os clientes pelas redes sociais", analisa.

"O Instagram permite um crescimento mais lento do que no passado. O TikTok, por outro lado, é uma plataforma em ascensão em que é possível crescer rápido, mas é importante entender se meu público consome essa rede".