Cecil Hotel: o que aconteceu com o prédio famoso por mortes e mistérios?
O famoso Cecil Hotel, onde ao menos 16 pessoas morreram em condições brutais que inspiraram a série "American Horror Story: Hotel" e um documentário da Netflix, reabriu suas portas para o público em dezembro de 2021, desta vez como moradia popular para habitantes de baixa renda de Los Angeles.
No entanto, segundo o youtuber Peet Montzingo, que é vizinho do atual Hotel Cecil Apartments, o prédio não parece tão aberto assim. Seu lobby foi fechado para visitantes e a movimentação é mínima no local. Ele acredita que a taxa de ocupação esteja longe do total de 600 unidades.
Ao site Insider, Peet contou que acredita que a entrada tenha sido realocada para o fundo do prédio, para evitar a presença de curiosos no lobby, após sua reabertura há três meses.
No dia da inauguração, aliás, Peet foi expulso pelos guardas do local — que o reconheceram pelos seus vídeos sobre o prédio. "Fui ameaçado e não entendo o porquê exatamente", queixou-se.
O Skid Row Housing Trust, que atualmente administra o residencial, justificou ao site que o evento era apenas para convidados "incluindo servidores eleitos [da administração municipal], parceiros da comunidade e imprensa credenciada". Além disso, a baixa movimentação foi explicada como normal para o primeiro ano do negócio — em que não se espera atingir a ocupação mínima de 90%.
No entanto, estes não são os únicos motivos de curiosidade atualmente a respeito do antigo Cecil Hotel. O próprio Peet conta que presenciou incidentes curiosos enquanto o prédio esteve fechado, entre 2017 e 2021.
Fenômenos inexplicados
"A primeira coisa que vi foi um homem em uma das varandas fumando um cigarro. Eram duas horas da manhã e parecia que ele estava olhando para mim", contou ao Insider.
Eu corri de um lado do meu apartamento para outro para ver se a cabeça dele me seguia e, de fato, seguiu"
Para ele, a experiência pode ter sido provocada por sua imaginação, por um morador de rua que tenha entrado no local ou também por um fantasma. Em outra ocasião, ele chegou a ver uma pessoa pendurada no último andar.
Não chamei a polícia para não parecer maluco"
Lisa Rios, gerente de comunicação do Skid Row Housing Trust, confirmou ao veículo que quatro pessoas moraram no prédio no período em que ele esteve fechado. Em julho de 2021, mais uma vez Peet — o vizinho xereta — conseguiu entrar no Cecil Hotel com a ajuda de um guarda que o contou que já sentiu "coisas estranhas" lá dentro.
Por que o Cecil Hotel é tão temido?
Inaugurado em 1924, o Cecil era inicialmente um lugar planejado como destino cheio de glamour para empresários internacionais e turistas: localizado na principal avenida de Los Angeles, tinha espalhado pelos seus 14 andares uma estrutura imponente.
No entanto, com a Grande Depressão, em 1929, ele se viu em dificuldades financeiras. No centro da cidade, tornou-se um reduto fácil de prostitutas, criminosos e dependentes químicos.
A "má sorte" começou dois anos antes, no entanto. Um hóspede, o ex-corretor imobiliário Percy Ormond Cook, se suicidou no local em 1927, após um rompimento com a ex-mulher e o filho.
Entre 1931 e 1938, outros três homens tiraram sua própria vida ali: W.K.Norton, Louis D.Borden e Roy Thompson. Outros oito hóspedes ainda sofreram quedas suspeitas, que não foram confirmadas como acidentais ou intencionais na época.
Foram eles: Grace E. Margo (1938), Robert Smith (1947), Helen Gurnee (1954), Julia Frances Moore (1962), Alison Lowell (1975), e outros dois homens não identificados em 1992 e 2015.
Em 1944, uma jovem de 19 anos, Dorothy Jean Purcelll, deu à luz um menino no banheiro. Ela não sabia que estava grávida até então e acreditou que o bebê fosse natimorto, segundo jornais da época. A mãe acabou jogando o bebê vivo pela janela do hotel, que então faleceu. Ela foi internada em um hospital psiquiátrico em seguida.
O famoso caso da Dahlia Negra, o assassinato não resolvido até hoje da atriz Elizabeth Short em 1947, não aconteceu dentro do Cecil Hotel, mas há relatos na mídia e às autoridades americanas de que ela estivesse hospedada ou ainda tivesse frequentado o bar dali quando o crime aconteceu.
Short foi encontrada em um terreno baldio próximo do hotel. Esta versão, relatada pela primeira vez ao jornal Los Angeles Times em 1995, nunca foi totalmente confirmada pela polícia.
Nos anos 60, outros dois crimes marcaram o Cecil. O primeiro foi o suicídio que se tornou também homicídio de Pauline Otton, então 27 anos, que se jogou do prédio e caiu sobre um pedestre, George Giannini, de 65 anos.
O segundo foi o brutal homicídio de "Pigeon Goldie" Osgood uma mulher de 59 anos, querida pela comunidade local por alimentar pombos na praça próxima ao hotel. Ela foi encontrada morta em um dos quartos depois de ter sido estuprada e seu assassino nunca foi encontrado, segundo reportagem do Buzzfeed.
Dois assassinos em série e um desaparecimento
Apesar de todas estas tragédias, o Cecil Hotel é mais conhecido por ter abrigado dois serial killers: Richard Ramirez, o "Night Stalker" que pagava 14 dólares, cerca de R$ 70 hoje, para pernoitar no 14º andar durante o período em que ele aterrorizou Los Angeles, entre 1984 e 1985.
O vizinho Peet conta que chegou a visitar o quarto do assassino: número 1419.
Eu definitivamente senti como se estivesse sendo observado, o que foi esquisito. Assim que saí de lá, ouvi este uivo esquisito, do vento. Foi bem assustador. Acho que [no hotel] tem uma mistura de energia ruim, sendo mal-assombrado, e dos eventos infelizes que aconteceram ali."
Já em 1990, o ex-presidiário austríaco e escritor Jack Unterweger se hospedou no Cecil enquanto escrevia uma matéria sobre prostituição para uma revista. Ele matou três garotas de programa durante sua estadia na cidade — e no hotel, segundo o Los Angeles Times. Ele tiraria a própria vida na prisão, na Áustria, em 1994.
Mas foi o caso de Elisa Lam que voltou a catapultar o hotel à (má) fama. Em 2013, a jovem canadense de 21 anos desapareceu dentro do próprio prédio. Ao checar câmeras de segurança, a polícia não encontrava mais do que algumas imagens em que ela aparecia transtornada dentro do elevador, aparentemente tentando se esconder de algo ou alguém.
No entanto, era impossível reconstituir seus passos — o andar em que ela estava hospedada, segundo o documentário "Cena do Crime: Mistério e Morte no Hotel Cecil", não possuía vigilância. Quase um mês e muitas teorias da conspiração depois, seu corpo foi encontrado na caixa d'água na cobertura.
Através de relatos da irmã de Elisa e de posts que ela havia publicado em um blog, a polícia descobriu que ela sofria de uma forma severa de transtorno bipolar, que poderia tê-la levado a um estado alterado de consciência. Nos exames, não foram encontrados sinais de violência ou drogas em seu corpo e sua morte foi considerada acidental.
O interesse do público no caso reacendeu a popularidade do Cecil Hotel como mal-assombrado e amaldiçoado, o que rendeu o apelido de "hotel da morte". Apesar disso, a propriedade se viu mais uma vez em dificuldades que nem mesmo uma breve troca de nome — para Stay on Main — pode conter quando um hóspede caiu novamente do edifício em 2015.
Em 2017, ele foi considerado um marco cultural para a cidade de Los Angeles e, quase ao mesmo tempo, fechou suas portas. Resta saber se, mesmo impassível, ele conseguirá se reerguer.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.