Brasileiro já acampou na Muralha da China e passeou pela Coreia do Norte
O documentarista Marcos Delacumbre (@mdelacumbre) acredita que seu gosto por viajar começou quando seu pai abria o antigo "Guia Quatro Rodas" e seguia pela estrada com ele. "Não tinha a maravilha do gps", brinca.
Jornalista de formação, ele seguia com um caderninho e lápis na mão atrás de boas histórias e lugares diferentes. A vocação se confirmou ainda mais em uma viagem "mais raiz", em Machu Picchu, no Peru, com seus amigos. Desde então, não parou mais.
De roteiros longe do óbvio, foi um pulo: Coreia do Norte, Muralha da China, deserto do Saara? Tudo isso está registrado no passaporte de Marcos.
Carne de cachorro e perguntas incômodas
Quando trabalhava em uma empresa de equipamentos militares e produtos de aventura, ele teve contato com a área bélica e pensou que poderia ir para Coreia do Norte ver de perto um país que ainda é um mistério para o turismo.
Ele ofereceu a ideia, deu os custos e disse que poderia ser uma boa experiência para ambos. Em troca, escreveria para o blog deles, e a proposta foi aceita.
Como já estava nos planos visitar Pequim, na China, ele aproveitou o trecho e começou a pesquisar sobre o território coreano. Por mais difícil que pareça ser, é possível visitar a Coreia do Norte com empresas estrangeiras. "Há umas três ou quatro empresas que operam em Pequim. Eles fazem o visto, aplicam para você. É um processo bastante simples", destaca.
À época, com o dólar mais barato para viajar, Marcos conta que gastou aproximadamente uns R$ 5.000 com tudo. A partir do momento que o turista fecha o pacote, o serviço funciona como "all inclusive". Antes de chegar ao país, os turistas recebem orientações sobre o uso de câmeras, lentes e outros equipamentos que podem colocá-los em risco.
Quando chegam no destino, eles já são recebidos por guias turísticos norte-coreanos vestidos com paletós e trajes típicos do país. Também há sons de óperas marciais. "
Você já começa a viver aquela atmosfera. Tem toda uma sonorização, a arquitetura já impacta e os rostos também", relembra Marcos.
Dali, eles já foram levados para um restaurante, e após alguns minutos foram surpreendidos por um blackout na cidade. "Você já começa a experimentar aquilo que já tinha lido sobre as quedas de energia. Experimentar tudo isso foi um choque. Fiquei super atento."
Dois dos três guias falavam perfeitamente inglês e durante os tours pelo país sempre exaltavam a Coreia do Norte e o líder Kim Jong-un. Ele conta que um dos guias era mais voltado para o lado histórico e de devoção ao líder, já o outro fazia um papel de sentinela. "Todos eram muito solícitos e simpáticos. Mas fiz perguntas incômodas", diz.
Uma delas, segundo Marcos, foi quem assumiria o poder quando o líder da Coreia do Norte morresse, já que ele só tem herdeiras. "O que vão fazer quando o gordinho morrer?", brincou. Na hora, o documentarista relembra que o guia ficou extremamente vermelho e incomodado com a pergunta.
Como não são todos e é quase uma raridade falar inglês no país, Marcos não conseguiu se comunicar com as pessoas do jeito que desejava. Ele conta que sentia que os locais não queriam muito conviver muito com os turistas.
O máximo que chegou perto dos habitantes norte-coreanos foi durante uma selfie com jovens em um parque temático.
Para um coreano normal, é muito arriscado estar ao lado de um gringo. As coisas não podem ser o que parecem", ressalta.
Para encerrar a sua estadia no local, ele também resolveu experimentar iguarias e pratos típicos da região. Entre eles, sopa de carne de cachorro. "Não era ruim, mas também não era bom". Ele ainda provou noodles, porco empanado, lascas de pato cru e um prato típico de acelga marinada.
Barraca em plena Muralha da China
Antes de chegar à Coreia do Norte, Marcos passou alguns dias em Pequim, na China. Como bom turista, pensou que não poderia deixar de conhecer a Muralha e resolveu acampar na atração mais famosa do país.
Antes de ir até lá, passou a noite em um albergue, comprou mantimentos e se preparou para a estadia "diferentona".
Eu sou bem fascinado por cumprir desafios. Eu faço aquela analogia com o 'Fantástico Mundo de Bob'. Eu pensei já que estou em Pequim, vou botar uma barraca e ficar naquele lugar", conta.
Ele fez amizade com um jovem chinês, que preferiu acompanhá-lo. Como não falava inglês, os dois só se comunicavam por mímica e combinavam todo o roteiro dessa forma. Marcos, claro, não iria se "hospedar" no lado mais turístico da muralha.
Chegando lá, a entrada para qual os dois iriam ficava aproximadamente a uns 15 a 20 quilômetros da principal e mais visitada. Ele se surpreendeu com o jovem chinês que, ao chegar lá, disse que não iria mais e que era muito perigoso fazer aquilo.
"O menino olhou para a montanha e brecou. Não sei o que ele entendeu, mas mandei voltar para Pequim. Quando ele entrou na van para retornar, soltou um 'I love you' pra mim. Ele era um rapaz bastante inocente e sentiu medo. Parti sem meu par romântico", relembra rindo.
Para chegar até o local de acampamento, Marcos passou por umas plantações de arroz e conseguiu chegar a um lugar ainda pouco explorado e sem nenhuma reforma.
Quando finalmente montou a barraca e foi caminhando em direção às torres de controle."Pensei: vou arar minha barraquinha aqui para ter essa noite surreal. Foi mágico", relembra.
São construções medievais militares, com pessoas morrendo e com batalhas. Eu pensava: olha tudo que aconteceu aqui".
Viagem em trem de carga pela África
Além da Ásia, Marcos resolveu explorar um pouco do continente africano. Morando há quatro meses no Egito, ele deixou o país, seguiu ao encontro de um amigo no Marrocos e os dois decidiram ir para Mauritânia de ônibus.
Quando estavam por lá, ouviram dizer que havia um trem que levava até uma cidade próxima. No entanto, o trem era de carga e levava minério de ferro.
Nós íamos rumo ao Saara ocidental. Como a Mauritânia carece de alguns meios, muitas pessoas usam como meio de transporte delas. Tem comerciantes que pegam peixes. Ele move uma economia paupérrima", diz.
Eles saíram da cidade de Zoerati, nos confins da Mauritânia, e seguiram em uma nova aventura. A viagem não foi fácil: Marcos e o amigo passaram 20 horas dentro do trem e pegaram até chuva, relâmpagos e algumas pedras. Durante todo o trajeto, os sentimentos oscilavam. "Foi uma viagem árdua. O trem tem algumas composições, afinal, são quatros quilômetros de extensão. É sofrido, mas foi a maior aventura que já vivenciei".
Quando chegaram em Nouadhibou, cidade onde estava o porto, a primeira coisa que desejavam era um chuveiro e um lugar para ficar. Depois da "aventura ferroviária", Marcos seguiu para o Senegal.
Ainda no continente africano, ele retornou para o Marrocos, trabalhou como guia alternativo, fechando e coordenando um grupo de viagem só para mulheres. "Fizemos uma road trip e voltei para o Brasil", afirma.
Produção intensa e a volta ao Brasil
Ao retornar da Coreia, ele lançou seu livro "Um drink numa bota suja de lama" e "Distopia Verídica'. Já em uma viagem feita à Patagônia, ele produziu um documentário chamado "Clan.destino".
A produção relacionada às viagens não para por aí. Como a Mauritânia foi um dos países que mais o tocaram, ele pretende voltar ao local no segundo semestre e seguir com gravações no território africano.
Enquanto ele não chega ao país, ele segue no Brasil e se prepara para uma nova aventura: ser pai. "Minha filha vai nascer mês que vem. Minha próxima missão é essa".
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