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As famosas casas de Pablo Neruda sofrem com a falta de turistas no Chile

Casa de Pablo Neruda em Isla Negra, no Chile - Getty Images
Casa de Pablo Neruda em Isla Negra, no Chile Imagem: Getty Images

Marcel Vincenti

Colaboração para Nossa

18/03/2022 04h00

Ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1971, Pablo Neruda é um dos grandes símbolos do Chile.

O país preserva três casas que pertenceram ao poeta e, recheadas de objetos pessoais e histórias do artista, foram transformadas em museus: são os imóveis batizados de La Chascona (em Santiago), La Sebastiana (Valparaíso) e Isla Negra (El Quisco) — e que, nas últimas décadas, viraram concorridas atrações turísticas.

Isso até a pandemia chegar: desde o primeiro semestre de 2020, estes patrimônios do autor de "Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada" vêm sofrendo com a falta de visitantes, causada, em grande parte, pela drástica diminuição de turistas estrangeiros em território chileno.

O museu La Chadcona, casa de Pablo Neruda em Santiago do Chile - Getty Images - Getty Images
O museu La Chascona, casa de Pablo Neruda em Santiago do Chile
Imagem: Getty Images

"Antes de 2020, as casas de Neruda eram visitadas por cerca de 350 mil pessoas por ano. Desse total, cerca de 45% eram estrangeiros e, dentro desse segmento, aproximadamente 10% eram brasileiros. Os turistas do Brasil sempre estiveram entre os nossos visitantes mais frequentes", diz Fernando Sáez, diretor executivo da Fundação Pablo Neruda, responsável por cuidar dos museus.

Com a pandemia, as casas permaneceram fechadas por quase 17 meses. Somente em outubro de 2021 foi possível reabri-las, em dias horários e restritos. Atualmente, o número de visitantes representa apenas 10% do que era antes da pandemia"

Tudo isso, logicamente, gerou uma grave crise financeira nas operações de La Chascona, La Sebastiana e Isla Negra.

Área externa da Isla Negra: com vista para o Oceano Pacífico - Getty Images - Getty Images
Área externa da Isla Negra: com vista para o Oceano Pacífico
Imagem: Getty Images

"A Fundação Pablo Neruda financiava 90% de suas operações com a venda de ingressos e de itens das lojas dos três museus", relata Sáez. "Com a queda no número de visitantes, tivemos que restringir nossas despesas e, após um acordo com todos nossos funcionários, foi decidido reduzir todos os salários em 50%, evitando assim demissões. Este acordo permanece em vigor até hoje".

Ele também conta que, atualmente, os trabalhos de manutenção dos três museus só têm sido realizados graças às economias que a Fundação conseguiu juntar ao longo dos anos.

Lutando para prosseguir

Todo este cenário tem potencial para gerar medo, nos fãs de Pablo Neruda, de que as antigas casas do poeta possam fechar as portas e encerrar suas atividades.

Mas Fernando Sáez afirma que a Fundação Pablo Neruda está trabalhando arduamente para que isso não chegue nem perto de acontecer — e o novo governo do Chile, encabeçado pelo presidente Gabriel Boric, tem gerado otimismo para o futuro: há perspectivas, por parte da Fundação, da adoção de planos governamentais para a cultura chilena que ajudem a melhorar a situação financeira e de público dos museus.

Exterior da "La Sebastiana", casa que pertenceu a Neruda em Valparaiso - Getty Images - Getty Images
Exterior da La Sebastiana, casa que pertenceu a Neruda em Valparaiso
Imagem: Getty Images

"O último governo chileno não deu uma resposta contundente no que diz respeito à defesa do legado de Pablo Neruda e a tudo relacionado à sustentabilidade da cultura nacional em geral", diz Sáez. "Por outro lado, estamos convencidos de que este novo governo terá uma postura totalmente diferente".

Enquanto o número de turistas estrangeiros não volta a aumentar de maneira significativa no Chile, Sáez faz questão de ressaltar a importância no Prêmio Nobel de Literatura de 1971 para seu país.

"Mais de 50 anos depois de receber o Prêmio Nobel e 49 anos após sua morte, Pablo Neruda ainda é um escritor totalmente atual, com obras publicadas em dezenas de idiomas", diz o diretor da Fundação que leva o nome do poeta.

Neruda foi um homem único, com sua história, seus amores, suas viagens, suas casas, suas coleções de objetos e com o mar, que o atraiu e inspirou. De suas três casas, duas estão voltadas para o oceano Pacífico. E a de Santiago foi construída para parecer um navio. Visitar suas casas é outra forma de ler Neruda"

O que ver em cada museu

La Chascona

Está situada na capital chilena, junto ao Cerro San Cristóbal — e seu nome significa algo como "A Descabelada", em alusão aos cabelos rebeldes de Matilde Urrutia, companheira de Neruda que viveu com ele nesta propriedade entre os anos 1950 e 70.

Jardim do museu La Chascona, em Santiago - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Jardim do museu La Chascona, em Santiago
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Em 23 de setembro de 1973, dias após o golpe militar que depôs e causou a morte de Salvador Allende (e que levou Augusto Pinochet ao poder no Chile), Neruda (que era partidário de Allende) morreu na Clínica Santa María, em Santiago, e seu corpo foi levado para La Chascona — que, pouco antes, havia sido vandalizada por apoiadores do regime militar.

Os restos mortais de Neruda foram velados na casa por seu círculo social mais próximo.

A residência é composta por três edificações unidas por escadas e pátios e, ao longo dos anos, se tornou um boêmio ponto de encontro de poetas e amigos do casal.

No museu, os visitantes podem ver de perto, entre outras coisas, valiosos quadros que pertenciam ao casal (como uma pintura de Diego Rivera retratando Matilde Urrutia), objetos que o poeta trouxe de suas viagens pelo mundo e ambientes e itens que faziam parte da rotina de Neruda, como sua sala de refeições, sua louça e seus talheres originais.

La Sebastiana

Batizada em homenagem ao homem que a mandou construir (o espanhol Sebastián Collado), esta edificação da cidade de Valparaíso abrigou uma residência de Pablo Neruda a partir dos anos 1960.

Detalhe da casa La Sebastiana, em Valparaíso - Divulgação - Divulgação
Detalhe da casa La Sebastiana, em Valparaíso
Imagem: Divulgação

Como vista privilegiada para o oceano Pacífico, era um local onde ele gostava de ir para escrever, passar a virada de ano e fugir do agito de Santiago.

A residência também foi vandalizada após o golpe militar de 1973, mas sobreviveu para ser um dos museus dedicados a Neruda no Chile: hoje, além das paisagens embelezadas pelo Pacífico, o local exibe interessantes itens que pertenceram ao poeta, como mapas antigos, caixas de música e quadros.

Isla Negra

Apesar de seu nome, não se trata de uma ilha: esta é uma bela casa que pertenceu a Pablo Neruda e que fica na costa continental do Chile, na região de El Quisco (a aproximadamente 115 quilômetros de Santiago e 80 de Valparaíso).

Sala da casa Isla Negra, de Pablo Neruda - Divulgação - Divulgação
Sala da casa Isla Negra, com objetos pessoais de Neruda
Imagem: Divulgação

Também com vista para o Pacífico, o local abriga o túmulo de Neruda e exibe muitos objetos do poeta (diversos deles expressando sua paixão pelo mar, como barquinhos dentro de garrafas e conchas).

Além disso, Isla Negra foi um local onde ele escreveu muitas de suas obras. Ele gostava de se isolar por lá para produzir, transformando o lugar em sua ilha particular.

Horários de funcionamento

Atualmente, os museus de Pablo Neruda estão abertos apenas de quarta-feira a sábado, das 10h às 18h.

Estes horários de funcionamento, porém, podem ser ampliados ou reduzidos de uma hora para a outra, dependendo da situação da pandemia no Chile.

Antes de visitar os locais, verifique se não houve mudança nos horários de abertura.

Mais informações: https://fundacionneruda.org/