Carne, pimenta e chocolate num prato só: conheça o potente mole poblano
Chocolate com pimenta não é só nome de novela. E chocolate com carne não é só atração do reality MasterChef. No México, esses três ingredientes dão origem a um prato carregado de história e com repercussão internacional, o mole poblano.
Típica de Puebla, estado no centro-sul do país, a receita que utiliza conhecimentos ancestrais astecas ganhou popularidade há cerca de 300 anos. Desde então, ela é tida como um símbolo de miscigenação cultural por associar ingredientes nativos e europeus.
O peruano David Lechtig, que cresceu na Guatemala e comanda o restaurante mexicano El Paso em Brasília desde 1995, resume:
O mole poblano é um representante oficial mexicano, como se fosse a feijoada para o Brasil".
O prato, geralmente servido em comemorações pelo grau de dificuldade, consiste em pedaços de carne servidos sob um molho denso e escuro.
Pode ser feito com frango ou porco, mas o mais tradicional é de peru. "O animal foi introduzido pelos espanhóis e era consumido apenas pela elite". Seja qual for a carne, ela é cozida à parte e finalizada no molho, que é a grande estrela da refeição.
Mole: identidade e trabalheira
A lista de ingredientes do preparo muda de acordo com a tradição de cada família. "No início, a receita contava com mais de 100 itens. Hoje, o número fica entre 15 e 20", conta David.
Em comum está a presença de chocolate (sempre amargo), de pimentas secas, defumadas ou in natura (chipotle, malagueta, pasilla, etc), de frutas (tomate, banana, uva passa), de especiarias (canela, cravo, anis) e de sementes ou castanhas (gergelim, abóbora, amendoim, amêndoa), além de alho, cebola, tortilla e pão — os dois últimos entram na mistura como espessantes.
Para dar conta de extrair o melhor sabor possível, o preparo é trabalhoso. "Inicialmente era feito no pilão, amassando tudo em pedra aquecida". Hoje, tacho de ferro e liquidificador ajudam a tornar o processo um pouco mais simples.
A ideia é tostar e triturar cada ingrediente um a um para intensificar o gosto. Alguns vão direto na panela e outros precisam de banha de porco. Ainda pensando na concentração de sabor, o líquido reduz em fogo baixo junto da água do cozimento da proteína.
A carne escolhida (frango, peru ou porco) costuma ser mergulhada no molho vinte minutinhos antes de ir ao prato coberto por gergelim e ao lado de arroz e tortillas. O mexicano Eduardo Ortiz, chef do restaurante paulistano Metzi, diz:
O sabor é levemente adocicado, picante e tem forte presença de especiarias", diz.
Para encurtar o caminho da receita, mercados e feiras pelo México vendem moles prontos. Com eles, os cozinheiros amadores e profissionais só precisam diluir a pasta no caldo de carne.
As lendas sobre a origem
A discussão sobre a origem do mole poblano é a mesma de outras especialidades tradicionais: muita suposição e nenhuma certeza.
A história mais contada é a de que teria nascido quando um arcebispo espanhol foi visitar um convento em Puebla. Empenhadas em impressionar, as freiras cozinharam o peru com o molho que reunia ingredientes da colônia e da metrópole.
Outra lenda diz que o chocolate e as especiarias foram misturados ao prato por acidente. Criado propositalmente ou não, o molho teria agradado ao superior e ganhado fama pelo país.
Frida Kahlo era fã
Uma das pessoas que difundiu a receita do mole poblano ao longo da história foi Frida Kahlo (1907-1954). A artista mexicana mais famosa do mundo recebia amigos para jantar em sua casa e servia o prato típico.
Os utensílios do mole foram parar nas paredes do Museo Frida Kahlo, na Cidade do México, onde a pintora nasceu, cresceu, morou com o artista e marido Diego Rivera e morreu. Também conhecido como Casa Azul, o lugar celebra a vida obra da pintora por meio de objetos, fotografias e itens pessoais.
O passo a passo da receita foi publicado no livro Frida's Fiestas, publicado em 1994, e pode ser conferido no site no museu.
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