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Seu cãozinho gosta de fugir de casa? Entenda o problema e saiba como evitar

Cachorro pode fugir por diversos motivos, mas há meios de evitar este susto - Joe Caione/Unsplash
Cachorro pode fugir por diversos motivos, mas há meios de evitar este susto
Imagem: Joe Caione/Unsplash

Juliana Finardi

Colaboração para Nossa

23/03/2022 04h00

Mary e Leleca são duas simpáticas cachorrinhas representantes da turma dos SRDs (sem raça definida). Apesar de não se conhecerem, as duas, com 8 e 10 anos, respectivamente, têm mais uma característica em comum além da indefinição da raça: uma coleção de episódios de fuga.

Quando era filhote, Mary fugia de um cercadinho que o tutor montou para que ela aprendesse a fazer xixi no lugar certo. Depois, foi aprimorando as técnicas de fuga.

Ela subia pelo portãozinho, andava em cima do muro e ia para o telhado. Os vizinhos me ligaram inúmeras vezes falando que a cachorra estava no telhado e eu tinha que voltar correndo do trabalho para resgatá-la lá em cima", conta Renato Forgione da Cunha, o tutor da Mary.

Mary em momento de calma - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Mary em momento de calma
Imagem: Arquivo pessoal
Mary no telhado - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Mary no telhado
Imagem: Arquivo pessoal

Ele teve de trocar o portão para evitar as fugas da cachorrinha. O consultor de vendas acredita que o medo das chuvas era o que fazia Mary tentar fugir escalando os mais difíceis obstáculos.

Igualmente ousada, Leleca encarava o portão aberto como um convite irrecusável à fuga. A qualquer sinal de vacilo dos humanos, lá estava ela correndo rumo a mais uma de suas aventuras.

O mais engraçado era quando ela via que estávamos correndo atrás. Ela parava, ficava olhando só para esperar chegarmos perto e então corria mais", diz a tutora Melanie de Melo Garcia.

Apesar de nunca ter saído da cidade onde mora, São Caetano do Sul, no ABC paulista, Leleca chegou a ficar horas e até de um dia para o outro "desaparecida". Em um dos episódios, inclusive, foi parar na porta da casa do avô de Melanie, a cerca de 1 quilômetro de sua casa original, onde permaneceu latindo até que o portão fosse aberto para que ela entrasse.

Para quê fugir?

Mesmo tendo amor de sobra, carinho, conforto e comida no potinho dentro de casa, por que os cães insistem em fugir e não se cansam de deixar os tutores de cabelos em pé?

O adestrador Jorge Pereira, cinotécnico da Unidade K9 Internacional e especialista em cães farejadores (@jorge.unidadek9), explica que, diferentemente dos humanos, os cães enxergam o mundo através do olfato e que são atraídos pelos cheiros diferentes fora de casa. Por isso, acompanhados ou não de seus tutores, acabam partindo para essas aventuras que terminam com os animais perdidos.

A fujona Leleca - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A fujona Leleca
Imagem: Arquivo pessoal
Melanie e Leleca - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Melanie e Leleca
Imagem: Arquivo pessoal

Segundo Melanie, é exatamente isso que acontece no caso da Leleca. Para a fotógrafa, o que sua melhor amiga canina gosta mesmo é da aventura. "Acho que ela faz mais para brincar, pela aventura que ela sente e por gostar de nos ver com cara de bobos indo atrás dela."

A explicação vai além disso: interesse e curiosidade também são fatores que influenciam os doguinhos na hora da fuga. Pereira afirma que a vontade de explorar os locais por onde eles já passearam algum dia serve de combustível para a saidinha de casa contra a vontade dos tutores.

As questões hormonais também interferem muito, principalmente nos cães mais jovens que querem encontrar outras fêmeas ou outros machos, entender um pouco mais sobre o organismo deles."

Outro ponto refere-se às boas lembranças que os pets têm de momentos de interação com o tutor em parques e praças.

Cheiro de outros animais pode ser um estímulo para a fuga do seu cãozinho - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Cheiro de outros animais pode ser um estímulo para a fuga do seu cãozinho
Imagem: Getty Images/iStockphoto

"A vontade de explorar novamente esses locais é o que por vezes acaba levando o cachorro a afastar-se. Então, não é que ele queira abandonar a residência onde tem abrigo, alimento e as pessoas que ele gosta. Mas atende a vontade de identificar novos perfumes, cheiros e matar a curiosidade", diz o adestrador.

A grama do vizinho

Na opinião da veterinária comportamentalista Katia De Martino (@dra.katiademartino), o fato de muitas vezes o lado de fora ser mais estimulante do que a residência só reforça a vontade de sair.

Sabemos que os cães precisam ser estimulados o tempo todo e que às vezes não há atividade suficiente dentro de casa. Então, por existirem estímulos tão grandes na rua, eles anseiam pela vida fora de casa, que não é nada monótona", diz.

Cães podem procurar ambiente mais estimulante fora de casa - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Cães podem procurar ambiente mais estimulante fora de casa
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Apesar de também acontecer entre animais adultos, a maior incidência de fuga está entre os filhotes e jovens, que têm uma tendência maior à exploração. Um outro fator de estímulo, de acordo com Katia, é uma espécie de falha na comunicação de tutores com seus cãezinhos.

Geralmente os cães "adolescentes" não respondem a seus tutores por sentirem que são chamados apenas para serem presos ou trancados em casa. "É o que acontece não só quando o cão escapa de casa, mas também quando vai a um parque ou praça e o tutor chama para colocar a guia e ir embora."

A dica da veterinária para resolver o problema, além de fazer um reforço positivo quando chamar o cãozinho — e não apenas chamá-lo para prender, colocar a guia e ir embora —, é aumentar o nível de atividade deixando o cachorro mais próximo da rua por meio de passeios constantes. É dessa forma que a rua vai deixar de ser tão atrativa para o pet.

Cautela e identificação

Coleira com placa de identificação e microchip facilitam o trabalho de quem procura um pet perdido - Justin Veenema/Unsplash - Justin Veenema/Unsplash
Coleira com placa de identificação e microchip facilitam o trabalho de quem procura um pet perdido
Imagem: Justin Veenema/Unsplash

Cuidado na hora de entrar e sair de casa, identificar o pet com coleiras e microchips, evitar aberturas em portões, cercas e aumentar a precaução em épocas comemorativas são providências importantes que podem evitar a perda do melhor amigo canino.

"O momento em que os cães mais escapam é a entrada e saída de veículos da garagem. Outra situação é a chegada das visitas. Por isso é que se vai abrir a garagem ou receber alguém, coloque seu cão em um local seguro. Também cuide dos espaços por onde ele possa passar como grades e frestas", ensina Jorge Pereira.

As finais de campeonatos esportivos ou datas comemorativas, quando há muito barulho de fogos de artifício, podem implicar na fuga dos animais por conta do medo. A recomendação é que o bichinho seja abrigado em caixas de transporte ou quartos fechados.

Fugiu. E agora?

Cada cão pode procurar algo diferente na fuga - Alvan Nee/Unsplash - Alvan Nee/Unsplash
Cada cão pode procurar algo diferente na fuga
Imagem: Alvan Nee/Unsplash

Pereira, que tem como uma de suas funções procurar por animais "fugitivos" perdidos, ensina que a primeira coisa a se levar em consideração é o perfil do animalzinho. Se é um cão mais extrovertido, sociável, e que foge por questões exploratórias, geralmente busca os mesmos locais onde passeia com o tutor por já conhecer os cheiros, saber onde fica e já ter a noção de direção.

Por outro lado, se for um cãozinho que fugiu do hotelzinho onde estava hospedado e não conhece as redondezas, a insegurança acaba imperando e o bichinho vai procurar por sua casa e seu tutor.

"Eles começam buscando ruas, vias públicas (dificilmente eles ficam em mata) e logo acessam os bairros mais próximos. Nesses locais, como não têm noção de qual direção tomar, começam a procurar abrigo e água, geralmente nas partes mais baixas do bairro, onde também tentarão se estabelecer", diz Jorge, que chega a atender uma demanda de 10 a 15 casos de cães perdidos por semana.

No caso de tratar-se de um cãozinho mais medroso, buscará comida em locais de pouca movimentação com estabelecimentos próximos. Já os animais mais amistosos e sociáveis, ao perceberem que não conseguirão chegar até seus tutores, começam a pedir carinho e tentam estabelecer uma nova relação onde possam ter segurança, alimento e onde dormir.

Comunicação é importante nas buscas

Dos cartazes nas ruas às redes sociais, toda comunicação vale para achar o pet perdido - Randy Laybourne/Unsplash - Randy Laybourne/Unsplash
Dos cartazes nas ruas às redes sociais, toda comunicação vale para achar o pet perdido
Imagem: Randy Laybourne/Unsplash

Além de começar a busca nos locais onde provavelmente o cãozinho possa estar, o tutor deve entrar em contato com estabelecimentos locais, falar com as pessoas, deixar fotos e cartazes evitando ao máximo divulgar um valor de recompensa para evitar crimes e pessoas que se aproveitam para pedir resgates.

"Também é importante distribuir informações para carroceiros além de jovens e crianças que passam bastante tempo na rua e podem ter avistado o animal", recomenda o profissional.

Divulgar informações — e reabastecê-las sempre que possível — em grupos de bairro, condomínios e anúncios patrocinados em redes sociais também são ações importantes no processo de busca do animalzinho de estimação perdido.