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Nem todo gato gosta de peixe: por que os bichanos podem ter gosto peculiar?

Jessica De Santis Reis e Amora, gatinha com seus hábitos peculiares de alimentação - Fernando Moraes/UOL
Jessica De Santis Reis e Amora, gatinha com seus hábitos peculiares de alimentação
Imagem: Fernando Moraes/UOL

Juliana Finardi

Colaboração para Nossa

26/03/2022 04h00

Ela só tem 1 ano, mas já é a protagonista da família que a adotou ainda filhote, aos 45 dias de vida. Mia é uma gatinha SRD (sem raça definida) que convive com seis humanos e Thor, um coelho. É dele a couve que a felina faz questão de roubar todas as vezes em que consegue chegar antes no pratinho do "irmão".

A alimentação da gatinha é pitoresca e de hábitos bem seletivos: ela prefere sachês — além, é claro, da couve do coelho, alface, manga, mamão, abacate e às vezes um presuntinho roubado da pia.

A novidade da vez é que agora a gatinha espera a tutora oferecer os alimentos em locais inusitados... e com uma colher, direto do pratinho para a boca.

Paula Ávila e sua gatinha Mia, que agora gosta de comer de colher - Fernando Moraes/UOL - Fernando Moraes/UOL
Paula Ávila e sua gatinha Mia, que agora gosta de comer de colher
Imagem: Fernando Moraes/UOL

Sommelier de ração

De modo geral, os gatos são altamente seletivos e influenciados pelo odor, sabor, formato e textura dos alimentos. É por essa razão que de nada adianta um alimento ser nutricionalmente completo e balanceado se não for palatável (gostoso) para o gato.

"Os gatos se interessam por alimentos novos e tendem a experimentar aqueles com cheiros diferentes dos que estão habituados, mas isso também depende da conservação do alimento", diz Vanice Correto Dutra Allemand, médica veterinária clínica e especialista em felinos da rede Pet Care.

A temperatura é outro fator que influencia no gosto do alimento e que por isso a ração úmida deve ser oferecida preferencialmente em temperatura ambiente ou aquecida.

Paula Ávila, o coelho Thor e a gatinha Mia - Fernando Moraes/UOL - Fernando Moraes/UOL
Paula Ávila, o coelho Thor e a gatinha Mia
Imagem: Fernando Moraes/UOL

Ciência explica hábitos

O comportamento alimentar dos gatos remete à sua origem como o predador que ingere várias pequenas presas durante o dia. A variedade dessas presas e a quantidade de proteínas, gorduras e minerais que ingerem regulam seu equilíbrio nutricional.

É por isso que a caça de diferentes espécies ajuda a manter esse equilíbrio e o bom estado nutricional do felino.

Na sua vida como animal doméstico, existe a tendência de procurar novos sabores ou outro alimento, mas alguns se mantêm fiéis ao mesmo, como explica Sílvia Regina Ricci Lucas, professora doutora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP.

Paladar e olfato especiais

Olha o aviãozinho, Mia - Fernando Moraes/UOL - Fernando Moraes/UOL
Olha o aviãozinho, Mia
Imagem: Fernando Moraes/UOL

Para se ter uma ideia, enquanto os humanos possuem cerca de 9 mil papilas gustativas, os cães têm 1.500 e os gatos, apenas cerca de 500.

"Os gatos não têm sensibilidade para perceber sabores adocicados. Como um carnívoro, embora aproveite os carboidratos, não se interessa diretamente por eles e prefere gorduras e proteínas", explica a veterinária da USP.

Além disso, os felinos também têm maior sensibilidade para a percepção de odores, outro fator importante quando se pensa em alimentos para gatos.

"O cão possui uma superfície olfatória cerca de 10 vezes maior do que a dos gatos e estes, por sua vez, 10 vezes maior do que a dos seres humanos. Isso faz com que eles sejam atraídos inicialmente pelo odor dos alimentos, textura e depois pelo gosto", afirma Vanice.

Gatinhos de fases

Quando era filhote, Mia comia ração seca normalmente, hábito que adquiriu ainda bebê na instituição onde morava com a mãe e os irmãos antes de ser adotada. De repente, passou recusar o alimento após algumas tentativas.

A tutora disse que a família chegou a desconfiar que a gatinha estivesse com dor de dente, mas a hipótese logo foi descartada. Então, resolveram oferecer sachês e ela adorou.

Ela só se alimenta de ração úmida, mas tenho de variar as marcas senão enjoa. Também não gosta de salmão e às vezes aceita um pouco de ração seca, mas precisa me ver colocando no pratinho, senão não come", diz Paula Ávila, tutora da Mia.

Paula Ávila, sua gatinha Mia e o amplo cardápio de rações diferentes - Fernando Moraes/UOL - Fernando Moraes/UOL
Paula Ávila, sua gatinha Mia e o amplo cardápio de rações diferentes
Imagem: Fernando Moraes/UOL

Para satisfazer o desejo de variabilidade da gatinha, a tutora costuma pedir nos petshops amostras de rações em pequenas embalagens porque mesmo os menores pacotes acabam sendo desperdiçados.

A especialista em comportamento felino, Any Corrêa, explica que neste caso da Mia, provavelmente a tutora foi quem "criou" o hábito sem intenção.

Alguma vez ela fez isso e foi legal para ela e para a gata. Acabou gerando um comportamento que foi sendo reforçado e a gatinha ficou condicionada a comer dessa forma."

Ainda de acordo com a especialista, o cenário ideal para que o gatinho acostume-se com todo tipo de ração úmida é durante a fase de filhote. Porém, é raro que os tutores tenham essa prática até porque muita gente adota gatos já adultos. Então, a solução é persistir nas tentativas.

"Tentar acrescentar um pouco de água, amassar com o garfo, oferecer outros tipos de alimentos com variadas texturas até achar algo que o gato comece a aceitar", recomenda.

Os "naturebas"

Jessica De Santis Reis, com Ziggy e Amora - Fernando Moraes/UOL - Fernando Moraes/UOL
Jessica De Santis Reis, com Ziggy e Amora
Imagem: Fernando Moraes/UOL

Foi exatamente o que fez a assessora de investimentos Jessica de Santis Reis, 29 anos, tutora dos irmãos Ziggy e Amora, dois felininhos SRD que completarão 2 anos em março.

Abandonados pela mãe gata, eles começaram a vida comendo ração seca comum, mas logo foram acostumados com a chamada alimentação natural, composta por carnes, ovos, vísceras, ossos e até vegetais, além de uma suplementação prescrita por um veterinário.

Mesmo com tantos benefícios comprovados e até suprindo necessidades instintivas dos bichinhos, os alimentos não escapam do "gosto apurado" dos felinos.

Jessica conta que passou apuros durante a transição quando os irmãos simplesmente pararam de comer todo alimento oferecido.

Então, até por falta de informação, comecei a dar sachê e cogitei dar ração novamente, mas acho que isso acabou os confundindo", diz.

Jessica De Santis Reis e Amora - Fernando Moraes/UOL - Fernando Moraes/UOL
Jessica De Santis Reis e Amora
Imagem: Fernando Moraes/UOL

A tutora afirma que logo em seguida tudo entrou novamente nos eixos e eles voltaram a comer. Vez ou outra, porém, os gatinhos recusam algum alimento, mas Jessica já sabe o que fazer.

"Quando eles comem tilápia, por exemplo, uma vez por semana, sinto que não gostam tanto, aí coloco alguma coisa em cima para eles conseguirem comer, pode ser um petisco ou outro alimento que eles gostam."

Respeito ao gosto de cada um e... calma

Jessica De Santis Reis e Amora - Fernando Moraes/UOL - Fernando Moraes/UOL
Jessica De Santis Reis e Amora
Imagem: Fernando Moraes/UOL

Assim como os humanos, os animais também possuem preferências individuais quanto aos alimentos, o que deve ser levado em consideração pelos tutores. Ou seja, não caia na conversa de que peixe sempre vai conquistar o pet.

Algumas pessoas adoram doces, outras não. Para além dos fatores fisiológicos, existe a individualidade também dos animais, o que é mais difícil de identificar", afirma Sílvia.

No caso do Ziggy e da Amora, apesar de todas as dificuldades, Jessica manteve-se decidida a persistir e chegou a fazer cursos para aprofundar-se no assunto.

Jessica De Santis Reis e um de seus gatinhos Amora - Fernando Moraes/UOL - Fernando Moraes/UOL
Jessica De Santis Reis e um de seus gatinhos Amora
Imagem: Fernando Moraes/UOL

Até aprender a lidar com os palpiteiros de plantão, que torciam o nariz para os alimentos crus e definitivamente mais pesados para o bolso, Jessica sofreu com a opinião alheia.

"Quando comecei a fazer a transição, fui muito julgada pelas pessoas à minha volta porque o custo é mais alto, eu mesma tinha o trabalho de fazer as marmitinhas e muitos não entendiam. Mas hoje as pessoas já começam a compreender".

Quer conquistar o seu felino com alimentação natural? Fica a dica: Vanice explica que a maior preferência dos gatos é pelas proteínas de origem animal, como carnes vermelhas, frango e outras.

Atenção também para fatores de estresse, como a presença de outros gatos e cães. A tranquilidade também é um fator de bem-estar para humanos e animais e deve ser aplicada à alimentação. Muita calma nessa hora.