Top trans, Valentina Sampaio revoluciona: "Posar de lingerie é empoderador"

Com origem humilde no município de Aquiraz, Ceará, Valentina Sampaio leva hoje sua história na vila de pescadores para o mundo.

Aos 25 anos, a modelo já coleciona um currículo extenso: se tornou a primeira modelo transexual a fazer parte do time da Victoria's Secret e a posar para revistas como a "Sports Illustrated" e na capa das principais "Vogue" ao redor do mundo, incluindo as edições norte-americana e a brasileira.

"Quando eu faço um trabalho, como para a Victoria's Secret ou uma capa de revista, não é só a Valentina que está lá. São milhares de pessoas", diz ela em entrevista exclusiva para Nossa.

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A vitória em compor o elenco da VS provavelmente é uma das maiores conquistas para a modelo. Não à toa. A marca era conhecida por lançar e consolidar grandes nomes que desfilavam suas lingeries nas passarelas, tais como as brasileiras Gisele Bündchen e Alessandra Ambrósio, até internacionais, como Gigi e Bella Hadid.

"Eu já tinha tentado algumas vezes, mas ainda não tinha conseguido", relembra ela sobre o casting. "Já me disseram inclusive que seria impossível".

A presença de Valentina no elenco é um recomeço para a marca de lingeries. Ultrapassada, a etiqueta estabilizou-se no mercado com má fama por perpetuar um estereótipo da mulher magra e loira como suas representantes. A chegada da Savage Fenty, de Rihanna, acelerou o processo de mudança interno da Victoria's Secret — que há pouco tempo reformulou suas modelos e decretou o fim das famosas angels.

Sempre ouvi as pessoas falando que seria com algo que eu nunca conseguiria trabalhar. É importante para mim porque a lingerie carrega uma mensagem de empoderamento com a qual sempre me identifiquei."

Mais recentemente, a Armani Beauty, marca de beleza da grife italiana, também convidou Valentina para que fosse o rosto da linha de maquiagens. A parceria rendeu inclusive uma capa de revista, em que a brasileira foi fotografada ao lado de Giorgio Armani, o fundador da label.

O que era "impossível" se tornou ainda menor para os passos alcançados pela brasileira ao longo da sua carreira.

"Eu tento carregar isso como se não fosse uma responsabilidade. Mas me lembro também que nunca me senti representada quando comecei a carreira. Nada foi fácil, passei por algumas experiências traumáticas e até pensei em desistir. Cheguei a sentir como se eu não merecesse", disserta Valentina.

O amadurecimento dos pensamentos da cearense então veio aos poucos:

Resolvi seguir lutando, não só por mim, mas como por todas as outras pessoas que ainda enfrentam discriminação e preconceito. Isso me dá muita mais força para seguir em frente e passar por todos os obstáculos e dificuldades."

Morando atualmente em Nova York, nos Estados Unidos, a modelo afirma não carregar mágoas do passado na sua vida hoje em dia. O passado em Aquiraz ficou por lá: "Não estou mais vivendo esse momento, né?", opina.

As saudades, no entanto, ficam. Quando questionada sobre que mais sente falta do Brasil, ela pontua que o país é "um dos melhores lugares do mundo". A declaração vem acompanhada de uma crítica: "Apesar da situação política, é onde recarrego minhas energias", completa.

Família
"Sonho em ser mãe"

Durante a conversa, feita por telefone, Valentina reforça em diversos momentos o carinho pela família. Sobre constituir a sua própria, ela afirma ter vontade, "mas tudo no seu tempo".

"Eu tenho o sonho de ser mãe", diz ela. "Mas tem que ser em um momento em que eu possa me dedicar ao meu filho. Criar um ser humano exige muita responsabilidade."

Acho que eu seria uma ótima mãe (risos). Minha mãe é uma mulher incrível, então aprendi muito com ela, principalmente por ter criado sete filhos."

Met Gala
"Olha onde eu cheguei"

No baile do Met Gala, em 2021, Valentina Sampaio era uma das brasileiras — junto a Anitta — a representarem nosso país no evento mais esperado pelos fashionistas de plantão. Para a ocasião, a modelo desfilou um vestido de Iris Van Herpen, estilista que cria peças com movimento fluido e ilusão de ótica.

"Foi mais um sonho se tornando realidade, me senti a Cinderela e pensei: 'olha onde eu cheguei'", relembra. "Estou ao lado das maiores celebridades do mundo".

A brasileira conta ter visto Rihanna, uma das presenças mais esperadas do evento: "Quando eu vi ela, parecia algo mágico", conta aos risos. "Eu prefiro até ficar mais na minha para não perder a magia."

O vestido usado por Sampaio, inclusive, bateu recordes ao ser leiloado em NFT (tóken não fungível). A peça foi arrematada pelo mais alto valor que um item de arte digital já recebeu no mundo da moda: US$ 300 mil, cerca de R$ 1,63 milhão.

Criada especialmente para a campanha "Lambada Dyed Red, White and Blue" (ou "Lambada tingida de vermelho, branco e azul" — em referência às cores da bandeira americana), o look digital visava alertar e combater a violência e os homicídios de pessoas transgênero nos EUA.

"Todo o arrecadamento foi direcionado para instituições que ajudam a comunidade trans", diz.

Futuro
"Quero plantar aceitação"

Depois de tantos sonhos conquistados, a pergunta que fica é: o que Valentina Sampaio pretende para o futuro? Um dos caminhos, possivelmente, Hollywood.

"Eu sonho em continuar sempre crescendo cada vez mais na carreira e profissão. Crescendo também como ser humano", responde a modelo. "Tenho o sonho também de voltar a atuar novamente, fazer um filme que tenha uma mensagem importante, sabe? Que possa tocar as pessoas de alguma forma."

A brasileira conclui: "Quero plantar uma semente de amor, aceitação e respeito no coração de alguém. Tenho usado a minha plataforma nesse mundo para o bem de todos."