Antigo cemitério que guarda origens gregas de Nápoles abrirá em junho
Se as origens romanas de Nápoles, assim como de outras cidades italianas, são bem conhecidas e documentadas, o Ipogeo dei Cristallini guarda um pedaço cheio de frescor da história do sul da Itália: seu período exclusivamente grego.
O novo "museu" a céu aberto que abrirá as portas em junho, segundo informações da CNN americana, foi um cemitério em Neapolis — como era então chamada pelos helênicos há 2.300 anos.
Pesquisadores estimam que suas construções sejam cerca de 400 anos mais antigas que as famosas ruínas de Pompeia e componham um dos acervos mais ricos da cultura grega na Itália, já que mesmo após a ocupação romana, Nápoles preservou estruturas, costumes e outras raridades dos seus fundadores, estabelecidos ali no século 8 antes de Cristo.
Descoberto cerca de 12 metros abaixo do jardim de um palácio do século 19, o Ipogeo antes estava localizado no nível da rua. Ele ainda mantém suas colunas jônicas e uma parte das tumbas originais construídas no século 4 a.C., informou Luigi La Rocca, superintendente de Nápoles, à CNN.
Assim como outras tradicionais tumbas da Grécia antiga, elas possuem duas câmaras: uma superior, onde orações eram feitas, e outra subterrânea onde os corpos eram colocados. Cada espaço foi esculpido em pedras para se assemelhar a um verdadeiro quarto, com escadas, bancos, travesseiros e "camas", como sarcófagos, onde múltiplas pessoas poderiam encontrar seu descanso final.
Enterradas graças a múltiplos deslizamentos de terra ao longo de séculos, as construções foram preservadas a tal ponto que, ao contrário da maior parte da arte grega conhecida, não sobraram apenas as esculturas, mas as pinturas originais. Com as cores visíveis, é possível enxergar também texturas, como uma imitação de uma costura em um dos travesseiros feitos de pedra.
Foram também encontrados candelabros, vasos e pratos usados em rituais funerários com inscrições de figuras humanas que pesquisadores acreditam ser o deus Dionísio com Ariadne, a mulher a quem ele deu a vida eterna. Em outra das tumbas, está ainda uma imponente medusa esculpida, enquanto as paredes guardam os nomes dos enterrados ali.
Romanos que chegaram séculos depois também deixaram suas marcas no Ipogeo, seja nas covas que criaram para também colocar seus mortos ali ou em traços de seus ritos funerários, esculturas e potenciais retratos dos falecidos, e "símbolos de ressurreição", como romãs e ovos, que apareceram no local.
Paolo Giulierini, diretor do Museu Nacional de Arqueologia de Nápoles, acredita que os achados, que possuem traços semelhantes a outros também vistos na Macedônia, são prova do status que a Neapolis teve no Mundo Antigo como metrópole cosmopolita, aos moldes de Berlim ou Nova York.
"Era uma grande capital cultural, que tinha enorme perfil internacional", opinou ainda à emissora. Novas informações sobre a abertura do Ipogeo serão disponibilizadas em seu site nas próximas semanas.
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