Móvel ou arte? Ambos se misturam em peças surrealistas de artista mineiro
Em formas surreais, que pedem liberdade para se curvar corajosamente, os móveis de Francisco Nuk (@francisco.nuk) instigam olhares na SP-Arte. Sua obra — uma coleção de móveis esculturais — nos desafia com gavetas de ponta-cabeça ou retorcidas, um jeito que ele viu de questionar o que é útil e o que é inútil nessa vida.
Quando coloco uma gaveta de cabeça para baixo, ela não tem utilidade, mas ainda é uma gaveta. Percebi, no ateliê, que o móvel era eu mesmo. Sou útil para quê e para quem?"
A questão existencial foi descoberta num momento em que ele se sente no mesmo "fio da faca" entre as funções de artista, marceneiro e designer, mas não se deixa fisgar por nenhuma delas. Aos 31 anos, formou-se em Educação Física em Belo Horizonte, mas apenas para cumprir essa etapa.
Crescido no meio artístico, filho do escultor Sérgio Machado e de Paulina Ribeiro, que na época era galerista, suas memórias de infância orbitam entre exposições de arte. "Meus pais me levavam sempre, faziam muita questão de analisar obras, conversar sobre isso e criar essa cultura na família", diz.
Até que após uma temporada fora do país, na Nova Zelândia, ele aprendeu marcenaria e serralheria, interessado pelos processos. Passando pela Argentina e pela Austrália, outras vivências com a madeira reforçaram aquela base.
Comecei a fazer pesquisas mais profundas. Acabava curioso nas oficinas que me permitiam entrar, absorvendo muita informação"
Experimentando as possibilidades da madeira ele chegou às curvaturas. De volta ao Brasil cinco anos atrás, ele se debruçou sobre isso no ateliê de seu pai e recebeu o incentivo para criar o próprio espaço.
A obra grandiosa que se vê nas imagens é fruto disso: horas e horas, ou melhor, até quatro meses para fazer um móvel. Repare que a maioria deles tem gavetas. "Queria tirar a utilidade da gaveta e comecei a pensar em posições em que isso poderia acontecer".
Criou-se um grande nó na cabeça: o que era isso? Embora a gaveta estivesse torta, ela abria e tinha uma funcionalidade, ainda era uma gaveta. Essa inquietação foi a primeira fagulha da obra"
Assim começou o questionar a utilidade: "O móvel tem esse lado surreal, mas por acidente. Porque a ideia era desafiar seu lado útil, entortando para chegar a um lugar."
Eu-móvel
Francisco passou a projetar as gavetas internas de sua vida naquele móvel: "Até que ponto tivemos a escolha de ser úteis ou não? Eu quero, ou são outras pessoas querem que eu tenha essa utilidade? Gosto de pensar que a minha obra é uma revolução da inutilidade."
Sobre as gavetas, ele filosofa mais: "Somos seres armazenadores e precisamos criar esses artifícios para guardar coisas. É como o acúmulo dentro de nós", observa. Outros materiais estão entre as próximas aventuras do jovem artista — terra, pedra e argila logo darão sequência a esse trabalho. É esperar pra ver.
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