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Ciclista explora belezas do Uruguai além de Montevidéu e Punta del Este

Fernanda Frazão em El Caracol, no Uruguai - Arquivo pessoal
Fernanda Frazão em El Caracol, no Uruguai
Imagem: Arquivo pessoal

Priscila Carvalho

Colaboração para Nossa

25/04/2022 04h00

Desde 2013, a documentarista Fernanda Frazão, 36, viaja pedalando. Ao lado de sua magrela, a brasileira já visitou diversos lugares dentro do país. Mas foi no fim do ano passado que ela resolveu se aventurar no exterior. "Eu já pedalava em São Paulo, mas comprei minha bicicleta especificamente para viajar", diz.

Para isso, ela escolheu o Uruguai em uma viagem que seria diferente das tradicionais: começaria no Chuí e de lá seguiria por 634 quilômetros durante duas semanas. Uma amiga próxima sugeriu o roteiro que passaria por diversas cidades até chegar à Colônia do Sacramento.

Colonia del Sacramento, no Uruguai - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Colonia del Sacramento, no Uruguai
Imagem: Arquivo pessoal

Para isso, ela já havia se preparado e tinha todos os equipamentos para o roteiro. "Não é que eu fui 'na louca' e saí do zero. Já tinha um conhecimento do que era bom e ruim. Adoro viajar", conta a Nossa.

Viagem começou no Brasil

Para iniciar o trajeto, ela, o marido e uma amiga seguiram de avião até Porto Alegre e de lá pegaram um ônibus até o Chuí.

Começaram a pedalar e alternavam na quilometragem todos os dias.

Variava muito. Tinha dia que a gente pedalava 40, 70, 140 quilômetros. O ritmo foi de muito devagar para muito extremo", diz.

Mesmo tendo experiência, ela conta que precisava ter atenção nas estradas, já que algumas eram muito boas, mas outras não disponibilizavam um bom acostamento.

No primeiro dia de pedal, Fernanda parou no parque Santa Teresa, que fica na divisa com a praia Punta Del Diablo, no Uruguai. Ela conta que a cidade é uma alternativa a Punta Del Leste, já que mesmo tendo um ar "chique", é menos conhecida e mais tranquila do que o litoral mais tradicional do país.

Punta del Diablo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Punta del Diablo
Imagem: Arquivo pessoal

Cidades fora da rota turística

Na cidade de Santa Teresa, eles acamparam dois dias e tentaram intercalar uma pedalada e outra. Ela conta que por lá existe um parque, que é um dos mais bonitos que ela já viu.

Parque Santa Teresa, no Uruguai - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Parque Santa Teresa, no Uruguai
Imagem: Arquivo pessoal

Também passaram por Barra de Valizas, que fica no litoral do Uruguai e oferece paisagens incríveis ao viajante. "Passamos o réveillon. Era um monte de hippie. Tinha toda uma vibe", conta. Já na divisa com a cidade, chegaram em Cabo Polonio, uma pequena vila de pescadores.

Fernanda conta que todas essas cidades não são tão exploradas por turistas comuns e que pedalando é possível conhecer lugares que, muitas vezes viajando de "forma normal", ficam fora do roteiro.

Cabo Polonio, no Uruguai - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Cabo Polonio, no Uruguai
Imagem: Arquivo pessoal

Além de se surpreender com essas cidades, ela também teve uma surpresa positiva com as estradas uruguais.

Só o primeiro trecho que não achamos seguros, porque passava caminhão e ônibus. Mas eles já estão acostumados com cicloviajantes e as estradas são pouco movimentadas. Dá mais sensação de segurança", reforça.

Enquanto pedalavam de uma cidade para outra, acampavam em campings ou dormiam em hostels. A ciclista conta que, mesmo parecendo uma viagem econômica, o país é caro e precisa de muito planejamento financeiro. Eles estipularam gastar aproximadamente R$ 7 mil, mas o valor ultrapassou os R$ 10 mil nas duas semanas em que estiveram no local.

Sofrimento na estrada

Depois de sair da cidade de La Paloma, Fernanda precisava cruzar uma lagoa de água doce. O local não tinha estrada, era formado por dunas e foi ali que começou o sofrimento, diz ela.

La Paloma, no Uruguai - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
La Paloma, no Uruguai
Imagem: Arquivo pessoal

Durante o trajeto, a documentarista precisou empurrar a bicicleta por 15 minutos. "Parecia umas três horas. Chegou uma hora que o clima começou a esquentar. O povo começou a brigar", relembra rindo.

Não era possível ver sinalização de nada, até que ela avistou uma casa bem de longe e pensou que poderia haver algum sinal de civilização. Quando chegaram na residência, foram surpreendidos por um monte de pessoas e ela disse que só queria descansar.

Mas ali mesmo tiveram uma surpresa: a casa era do presidente do Uruguai.

A gente chegou por um lugar muito improvável. Foram dois dias muito difíceis pedalando", relembra.

A viagem seguiu por um deserto de cacto e em uma das vistas mais lindas da viagem, mas ainda assim, o clima continuava tenso entre o grupo. Eles estavam sem comer, o cronograma de viagem havia sido alterado e não saiu como planejado.

Depois desse dia, resolveram se separar e ela e o marido seguiram na estrada. Fernanda seguia o trajeto praticamente sozinha, começou a ver uma nuvem bem carregada e não avistava nenhum acostamento na estrada.

Piriapolis, no Uruguai - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Piriapolis, no Uruguai
Imagem: Arquivo pessoal

Ela começou a pedalar cada vez mais rápido e foi o tempo de encontrar o marido, parar em um restaurante e se abrigar de uma tempestade na cidade de Piriápolis.

Eu brinco que era um banquete emergencial. Gastei R$ 40 em um pudim. As meninas ficaram para trás e uma delas descobriu ainda que estava com conjuntivite e ficaram sem comida", diz.

Naquele dia, a cidade registrou uma enchente severa.

Últimos minutos difíceis

Depois de comer um dos pudins mais caros de sua vida, Fernanda e o companheiro seguiram viagem para Montevidéu. Segundo ela, um dos trechos mais feios e menos atraentes durante todo o percurso.

Montevidéu, no Uruguai - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Montevidéu, no Uruguai
Imagem: Arquivo pessoal

Por causa da chuva e perrengues vividos na cidade anterior, a chegada na capital uruguaia atrasou e não saiu como planejado. Ela já estava no limite e, enquanto seu marido pedalava mais para frente, seguia atrás. O trecho, muito intenso, tinha 190 quilômetros e Fernanda sabia que seria bem desafiador.

É um esforço cabuloso e tedioso. Você pedala, pedala e não chega. Eu comecei a pensar: 'vou pedalar e comer um lanche'. Foram oito horas pedalando", diz.

Para dar mais um "gás", ela começou a ouvir o livro "Cem dias entre céu e mar", de Amyr Klink , que também contava uma história de superação. A documentarista brinca que precisava ouvir alguém que também estava se dando mal para seguir em frente. "Coloquei para escutar e é uma lição de resiliência e comprometimento. Foi me inspirando".

Depois de 160 quilômetros pedalando, ela disse que não aguentava mais. Mesmo assim, continuou seguindo e fazendo algumas paradas. Como estava muito cansada, decidiu dormir em um camping bem simples e descansar para os 30 quilômetros restantes. "A gente não tinha comida e comemos um resto de carne", conta.

Na volta da estrada seguiu pedalando e ouvindo o livro do navegador. Ela conta que foi emocionante porque no livro também era possível ter a mesma percepção de chegada de Amyr.

Não acredito que ele vai finalizar a viagem. Vamos terminar essa aventura juntos. Eu e meu marido dividimos os fones e fomos em uma vibe bem introspectiva", relembra.

Colônia do Sacramento - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Colônia do Sacramento
Imagem: Arquivo pessoal

Ela conta que ouvir as palavras do navegador no trecho final e chegar a Colônia do Sacramento foram muito emocionantes.

Quando chegaram à Colônia, permaneceram um dia na cidade, mas o local não brilhou os olhos de Fernanda. "Achei bonitinha. Lembra um pouco Paraty, mas diante de todas belezas", brinca. De lá, seguiram de balsa para Buenos Aires e retornaram ao Brasil.