Marcenaria high tech dá forma a banco, rack e até casa para passarinho
As tradições seculares da carpintaria e do artesanato nos aproximam da natureza desde sempre, mas engana-se quem pensa que essas peças — sempre associadas ao trabalho manual cuidadoso — e computação gráfica não combinam. O trabalho do porto-alegrense Bruno De Lazzari, 37, mostra que o cruzamento entre os dois mundos é possível.
"Craftsman" (artesão, em inglês) do século 21, como se define, e arquiteto por formação, Bruno já produziu, com basicamente madeira e aço, peças como racks, bancos e casas de passarinho no ateliê que se encontra dentro da De Lazzari, a empresa de mobiliários urbanos que Bruno tem com o pai.
"Sou próximo do computador desde a infância. Para mim, foi natural ter seguido um caminho mais tecnológico do que um 'mão na massa'", diz.
Eu desenho os meus projetos em um software para gerar formas complexas que eu não conseguiria fazer manualmente, o que define a parte estética dos meus trabalhos."
A outra parte da produção, ele conta, exige familiaridade com a marcenaria tradicional — é importante conhecer os tipos de madeira, como eles funcionam e que tipo de acabamento é pertinente a cada um.
Madeira, aço e personalidade
O ateliê, que existe há um ano e meio, faz jus ao nome. É nele que Bruno conduz cada aspecto, trabalha em pequena escala e sem a pressa da linha de produção.
A rack, por exemplo, foi feita porque o próprio "craftsman" estava precisando de uma. A casa de passarinho, por sua vez, é algo que ele sempre queria fazer.
Eu queria ter alguma coisa em que pudesse ter total controle, sem pesquisar o mercado para fazer uma cadeira. Trabalho em projetos em que me envolvo e me dão prazer de desenhar e produzir."
Bruno conta que a madeira torna cada objeto único, pois o desenho dos veios são sempre diferentes. O aço, por sua vez, é utilizado para conferir às peças resistência e também é aproveitado na concepção delas.
Mãos à obra (e na tela)
Bruno não desenha nada à mão. Ele faz tudo direto no software, a partir de conceitos fortes que definem a estética e a forma. Depois, é tentativa e erro — as obras são testadas até se tornarem rígidas, firmes e funcionais, com ângulos suaves e irretocáveis.
Os parâmetros afetam a trajetória dos cortes que as máquinas fazem nas madeiras, e elas são escolhidas de acordo com o planejamento, assim evitando desperdício da matéria-prima. O "craftsman" usa a CNC, espécie de impressora 3D que retira material dos objetos com percursos definidos no computador. Os acabamentos são manuais, como lixamento e montagem.
Conforme ele vê que as peças estão boas o suficiente para serem vendidas, Bruno as disponibiliza no e-commerce.
Falando nas máquinas, a precisão que o manuseio delas exige é terapêutico, Bruno conta. "É quase como praticar ioga. Você respira, planeja o movimento, vê onde a sua mão se posiciona e faz com calma. Você pensa e executa. É uma questão de segurança, e é importante ter calma para não estragar tudo."
O contato com a madeira é um prazer à parte — é o que proporciona ao artesão o equilíbrio com o aspecto digital do trabalho.
Tradição de família
No ateliê, Bruno dá continuidade à paixão dos dois avós por parte de pai e mãe. Na infância, ele brincava na marcenaria do pai em casa. Quando este se aposentou, ambos se uniram para trabalhar com mobiliário urbano em um galpão alugado. O ateliê acabou se tornando uma incubadora de projetos, em que Bruno usa o espaço e os equipamentos da empresa com o pai.
O que não o impede, é claro, de trilhar o próprio caminho. "Meu desafio é continuar a explorar novas formas de criar produtos, que sejam interessantes e desafiadores, e não apenas no ateliê. Gosto de ser desafiado com novas tecnologias e maneiras de produzir", pontua.
"Muitas coisas que eu faço agora, não conseguiria fazer há três anos. Espero que, daqui a três anos, eu faça coisas que não conseguiria fazer hoje", pontua.
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