Dono da Worldpackers trocou vida de banco para viajar o mundo por 3 anos
"Vou ter uma aula de ioga aqui e depois voltamos a falar, pode ser?". É assim que Riq Lima (@riqlima), CEO da Worldpackers, começa a entrevista. Com camiseta e bermuda, ele comanda diversas reuniões ao longo do dia, pratica meditação, surfa e ainda cria uma rotina leve para curtir a casa em que mora no município de São Sebastião, no estado de São Paulo.
E para conseguir esse atual estilo de vida, ele precisou mudar totalmente seus planos há dez anos: largou o trabalho em um banco e seguiu para viajar o mundo por três anos. Ao retornar ao Brasil criou, ao lado de um amigo, uma startup focada em trabalho voluntário e intercâmbio cultural pelo mundo. Hoje, a empresa já conta com quase três milhões de usuários espalhados pelos cinco continentes.
Adeus, trabalho dos sonhos
Desde muito novo, sua paixão era a natureza, animais e esportes de aventura. Na época da faculdade chegou a fazer um teste vocacional, que mostrou que suas habilidades tinham a ver com biologia. No entanto, ele seguiu um caminho diferente, foi para o mundo das finanças e cursou economia.
Pouco antes de entrar no banco, ele fez um intercâmbio para os Estados Unidos para trabalhar de garçom em uma estação de esqui e ficou alguns meses no país. "Pedi dinheiro para minha tia e fui. Quando eu voltei, consegui pagar ela e ainda tinha dinheiro. Acho que a partir daí, começou a despertar a vontade de conhecer o mundo", conta.
Pela faculdade, ele também fez um intercâmbio de seis meses e experimentou morar em Salamanca, na Espanha.
Eu me apaixonei e decidi que viajar era a coisa que mais queria fazer na vida. Eu pensava em juntar o máximo de dinheiro possível para ficar viajando eternamente."
Logo nos primeiros estágios, Riq já garantiu um bom emprego em um famoso banco e deslanchou a carreira na área financeira.
Depois, mudou de empresa, passou a ganhar ainda mais dinheiro e ter a carreira dos sonhos — tudo isso aos 21 anos. "Eu trabalhava em um banco de investimentos e levava empresas para a bolsa de valores. Era um trabalho muito dinâmico, puxado e que envolvia muita grana e muito ego", relembra.
Ele conta que o cargo dava muitos bônus e, por isso, era mais fácil ganhar e guardar dinheiro de forma rápida. Mas enquanto seus amigos investiam o prêmio em carros de luxo, ele guardava para um dia fazer uma viagem de volta ao mundo.
Trabalhando em um ritmo insano todos os dias, ele atingiu a meta de R$ 100 mil e saiu da empresa para viajar.
A ideia inicial não era ficar três anos. Eu não tinha muito planejamento e queria dar uma volta ao mundo", reforça.
Encanto e perrengue na África
Para iniciar seu mochilão, o país escolhido foi a África do Sul e ele embarcou quase sem nenhum planejamento. A única coisa que ele havia programado eram três noites em um hostel na cidade de Joanesburgo e nada mais.
Eu fui sem celular e nada de tecnologia. Na época, não tinha esse boom de redes sociais como é hoje. Eu achava um orelhão e ligava a cada duas semanas para minha família", diz.
Riq relembra que a escolha pelo país ocorreu devido a sua conexão com a natureza e por muitos anos assistir programas que mostravam a vida animal e a natureza. Durante sua estadia no continente africano, ele viajou pelas estradas de caminhão, acampou em Nairóbi e viu de perto gorilas nas montanhas.
E também foi no continente africano que ele teve um dos seus piores perrengues. Riq estava viajando pelo Marrocos e, durante um passeio no deserto do Saara, teve uma diarreia muito forte. "Eu lembro que um camelo lambeu minha comida e depois eu comi. Por isso passei bem mal".
Sem seguro, o viajante precisou se virar ali mesmo para não sofrer ainda mais.
Eu andei uns três dias carregado. Esse sim foi um bom perrengue, o resto foram perrenguinhos", relembra rindo.
Minimalismo e custos baixos
Viajar pelo mundo por três anos só foi possível graças a hospedagens baratas e uso controlado do dinheiro. Mas ao contrário do que algumas pessoas pensam, Riq não viajava passando apertos o tempo todo.
Ele conta que buscava lugares menos turísticos e que permitiam experiências únicas. Uma vez na cidade de Anglet, na França, ele se hospedou por três meses em um camping, pagando dez euros por noite e ainda aprendendo francês. "Eu aprendia tomando vinho e comendo queijo. Era totalmente diferente. Outra experiência", diz.
O ex-mochileiro ainda praticava surfe, já que a cidade é localizada em Biarritz, que é bem famosa pelo esporte. Na época, ele ainda pôde vivenciar festas e outros eventos na região do país basco, sem gastar muito.
E não foi só na Europa que o dinheiro rendeu e deu a ele uma economia ainda maior. Durante sua permanência na Ásia, ele se hospedou na ilha de Ko Tao, na Tailândia, pagando oito dólares em um bangalô de frente à praia. Segundo ele, o custo de vida era muito barato e garantia uma qualidade de vida excelente.
Eu gastava menos do que em São Paulo. No banco, eu ficava em hotel cinco estrelas e viajava sempre de classe executiva, mas percebi que preferia ficar em um hostel, onde eu conhecia a realidade local. Uma vida só focada em conforto proporciona experiências vazias".
Voluntariado na Índia
Com a chegada à Ásia, o viajante experimentou um centro espiritual na Índia. A rotina incluía acordar às cinco da manhã, fazer aula de meditação, ioga, ajudar e organizar o espaço. Além disso, toda alimentação era sem carne e por todo o período em que esteve no local, ele se tornou vegetariano.
Sem saber ao certo como funcionava o trabalho, ele viveu a experiência e, em troca, ganhava alimentação e hospedagem. Foi assim que ele conseguiu ficar no país por três meses e gastando apenas US$ 500.
Depois deste período, ele ainda passou mais tempo no Sudeste Asiático, viajou para Coreia do Sul, voltou para a Europa, visitou o Peru e, por último, foi para San Diego, nos Estados Unidos.
Nasce a Worldpackers
Ao longo dos três anos, foram pouco mais de 40 países e 100 hostels visitados. E por causa dessa expertise, ele começou a conversar com um amigo sobre possibilidades de voluntariar pelo mundo, em troca de hospedagem e alimentação gratuita. Na época, seu atual sócio já estava há quatro anos morando em hostels americanos desta forma.
A partir daí, eles começaram a desenhar o projeto em agosto de 2013 e, em fevereiro de 2014, lançaram a Worldpackers, uma das maiores empresas de trabalho voluntário pelo mundo. Com ela, é possível trocar suas habilidades (que incluem limpeza, recepção, fotografia, mídias sociais) e ficar de forma gratuita em hostels, ecovilas, ONGs, pousadas e outros locais.
O trabalho deu tão certo que hoje a plataforma recebe cerca de 50 mil novos usuários todos os dias e tem mais de oito mil anfitriões espalhados pelo mundo.
E além desta modalidade, a plataforma ainda oferece mais de mil cursos, dando ferramentas aos viajantes que desejam empreender, aprender a viajar barato e até como se tornar um nômade digital na prática.
Dá para ser nômade sem ser rico e a nossa missão é democratizar experiências."
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