Destino essencial de ecoturismo, Serra do Curral abriga espécies ameaçadas
Antes no mapa apenas do turismo brasileiro, o Parque da Serra do Curral se tornou uma espécie de pomo da discórdia na Justiça local depois que o Governo de Minas Gerais autorizou o projeto de mineração na área na madrugada de 30 de abril. Ambientalistas sinalizaram que a exploração da região pode não só comprometer o ecossistema, como afetar o abastecimento de água de moradores da capital mineira, já que a Serra fica bem nos arredores de Belo Horizonte.
A própria prefeitura, em oposição ao estado, sinalizou seis grandes problemas com a mineração ali: além do abastecimento e dos danos às espécies no parque, está em jogo a segurança da população de BH, já que pode haver erosão do terreno e consequentes desabamentos, contaminação do ar pela poeira dos minérios, além de ruído acima do aceitável próximo ao Hospital da Baleia, que trata pacientes com câncer.
A Serra do Curral ainda tem um projeto de tombamento em nível estadual em andamento no Iepha (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico). Ela já é tombada em BH e seus picos são tombados pelo governo federal, conforme apurou a reportagem do UOL. Este é um dos principais argumentos de quem é contra a mineração: sua silhueta tem tanto valor histórico que foi parar na bandeira da cidade.
Diante destes questionamentos, o Ministério Público de Minas Gerais entrou com pedido de suspensão do aval da mineradora Tamisa, que foi negado nesta quarta (11) pelo TJ-MG. Enquanto isso, a ação aberta pela Prefeitura de BH segue em andamento. O assunto, é claro, não é apenas um embate judiciário: enquanto o governador Romeu Zema (Novo) teve doações e laços políticos com mineradores expostos, candidatos contra a proposta apresentam suas saídas para o tema.
Mas, afinal, o que a Serra do Curral tem de tão especial?
A Serra do Curral é um enorme polo de ecoturismo em BH. Só nos seus arredores, a plataforma Airbnb conta com 152 acomodações disponíveis para os fãs de trilhas que visitam o parque. Não é pouco ao se considerar que não é uma região com infraestrutura turística — o retiro praiano de famosos de São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte, oferece 364.
É ainda mais significativo se considerarmos que a região se tornou parque protegido pelo governo local justamente com o objetivo de estimular de maneira organizada o turismo regional há apenas 10 anos, em 2012. Hoje, a Serra do Curral abrange uma área de 400 mil metros quadrados com dez mirantes apontados para pontos turísticos da capital, como a Lagoa da Pampulha, a Avenida Afonso Pena, o Mineirão, o Museu de História Natural e o Jardim Botânico da UFMG, entre outros.
Destes dez mirantes, apenas os primeiros três estão abertos a visitantes sem guia — já que atualmente há estudos em andamento no parque sobre a flora ameaçada de extinção descoberta ali em 2016, além de manutenção das trilhas. Justamente para mitigar impactos ambientais, no máximo 700 pessoas podem entrar na Serra por dia.
Uma vegetação típica do Quadrilátero Ferrífero cobre toda a cadeia montanhosa, um encontro entre formações do Cerrado e Mata Atlântica. Mais de 125 espécies de aves nativas já foram identificadas dentro do parque — algumas raras no nosso território, como a águia-chilena, mais comum na Cordilheira dos Andes. Em 2012, foi encontrada ainda uma ave nunca registrada em Belo Horizonte, o falcão-cauré (Falco rufigularis).
"Minerar a Serra do Curral é como se a população do Rio de Janeiro permitise que se fizesse mineração no Pão de Açúcar", comparou o urbanista e professor da UFMG, Roberto Andrés, à Agência Brasil em 3 de maio.
Pedaço da história do Brasil
Histórica, a Serra do Curral abriga ainda vestígios arqueológicos remanescentes do antigo arraial do Curral Del Rei, a vila colonial que precedeu Belo Horizonte, fundada apenas no século 19.
Por este motivo, em 1960, parte da região onde hoje está o parque foi tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Outra porção foi ainda tombada pela prefeitura de BH em 1991, mas a Serra se estende aos limites de outros municípios da região metropolitana como Nova Lima, próxima ao ponto que poderá ser explorado em 2022.
Em 1995, a Serra do Curral foi escolhida símbolo da capital — vencendo a Igreja São Francisco de Assis, a icônica Lagoa da Pampulha e a Praça da Liberdade.
Como curtir a Serra?
É incerto neste momento se, caso a mineração seguir adiante, toda a extensão do parque continuará disponível — e segura — para a visitação de turistas. No entanto, quem quiser conhecer precisa tomar alguns cuidados. Por recomendação da Secretaria Municipal de Saúde, é necessário apresentar documento de identidade com foto e comprovante de imunização contra a febre amarela, com data mínima de 10 dias anteriores à visita.
Caso o viajante não esteja com o comprovante, deve preencher uma declaração, disponibilizada pelo parque, de que está vacinado. Menores de 9 meses não podem entrar, já que não são elegíveis para a imunização contra a doença. Como a altitude média na Serra está entre 1.200 e 1.380 metros acima do mar, recomenda-se que o visitante esteja com bom condicionamento físico antes da visita, que traga consigo água e alimentos não perecíveis para se alimentar durante as trilhas, já que não há lanchonetes no local.
Como mencionado, o trajeto inicial, até o mirante 3, pode ser cumprido sem guias com facilidade, mas é bom caminhar com calma para curtir o contato com as espécies locais e o ambiente. Caso resolva prosseguir viagem, lembre-se de realizar o agendamento da trilha com a administração do parque, que organiza grupos de até 15 visitantes.
O percurso total é de 2.300 metros, com trechos íngremes e de alta dificuldade, e duração estimada de três horas. Cuidado com a descida que pode ser escorregadia devido a fragmentos de rochas soltos.
O Parque da Serra do Curral está aberto à visitação de terça a domingo, das 8h às 17h, com entrada franca e permitida apenas até 16h. Mais informações, visitas às trilhas e aos mirantes 4 a 10 podem ser agendados através do número (31) 3277-8120.
Seu acesso fica localizado na Praça Estado de Israel, altura do número 1.951 da Avenida José do Patrocínio Pontes, no bairro de Mangabeiras.
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