Guarda compartilhada de pets é realidade em separações e pode dar certo
O casamento acabou, o namoro não deu certo, a união chegou ao fim. Este, porém, foi só o começo do debate a respeito de algo que muitas vezes não é tão simples de se resolver: a guarda compartilhada dos pets. Com questões envolvendo o bem-estar do bichinho, a saudade dos tutores e o acordo estabelecido entre ambos, o assunto deve estar além das expectativas humanas sobre o tema.
Não são raros os casos de estresse, ansiedade e sensação de abandono, o que pode provocar problemas comportamentais e clínicos entre os pets que ficaram no meio da separação conjugal.
Para a guarda ser benéfica, é preciso que os envolvidos estejam cientes de suas responsabilidades para que o animal não sofra com a separação. Deve-se considerar, principalmente, a questão afetiva e o tempo disponível entre os tutores para ficarem com o pet.
Outra questão a ser considerada, de acordo com ela, é a divisão de gastos relacionados ao bichinho de estimação como alimentação, passeios, banhos e cuidados com a saúde.
Informal, e tudo bem
Os "pais" humanos do Morfeu, um schnauzer de 6 anos, não fizeram nenhuma divisão formal relacionada ao cãozinho quando aconteceu o divórcio, em 2017, embora tivessem sido aconselhados pelo advogado. "Ele queria colocar no processo porque disse que já viu dar problema. O medo do advogado era que após a formalização do divórcio, acontecesse um desentendimento e que uma briga por algum motivo qualquer fosse descontada no cachorro", conta o engenheiro de processos André Luiz Candido, 36 anos.
Hoje, quatro anos após a separação, o ex-casal continua administrando bem a "divisão" informal do bichinho, que parece já estar acostumado com as rotinas em duas casas.
Não temos uma ordem certa para ficar com ele porque meu trabalho envolve viagens e não conseguiria pré-estabelecer datas. Às vezes, ela também viaja e fico com o Morfeu. Ele adaptou-se muito bem", diz o tutor.
Assim como o Morfeu, os pets são bastante adaptáveis a mudanças, principalmente quando acompanhados de seus tutores, mas é importante observar alterações de comportamento nesses casos.
"Por exemplo, um pet dócil na presença de ambos os tutores, mas que quando está sob a guarda de uma das partes torna-se agressivo ou apresenta falta de apetite, apatia, dorme em excesso ou tem hábitos compulsivos que não tinha antes como lamber-se excessivamente ou correr atrás na cauda, deve ser observado com mais cuidado", afirma Sheila Pincinato, professora do curso de Veterinária da Faculdade Anhanguera
Quando dá errado
Foi o que aconteceu com a veterinária comportamentalista Katia De Martino e sua cachorrinha Tequila, uma buldogue francês que tinha 8 anos na época da separação.
"Eu me separei e não houve discussão sobre guarda compartilhada. Na verdade, saí de casa e a cachorra também. Mas em alguns momentos, a guarda chegou a ser compartilhada e percebi que quando a Tequila voltava, ficava cerca de três dias sem comer e bem prostrada. Não estava sendo legal para ela, então resolvi que não haveria mais visita", diz.
Katia é contra a guarda compartilhada e costuma inclusive não recomendar aos tutores em sua área profissional.
Às vezes forçamos uma situação só para nutrir a nossa necessidade, o que acaba sendo egoísmo em cima do cão. É muito importante ter em mente que pensamos em guarda compartilhada porque vamos sentir falta, mas precisa ver se o cachorro está a fim."
Os problemas mais comuns estão relacionados a alterações comportamentais como agressividade, episódios de compulsão, apatia a até problemas gastrointestinais.
A veterinária recomenda que nos casos em que a situação é irreversível e a perda de contato, permanente, o tutor que permanecer com a tutela do animal siga uma rotina saudável com passeios e brincadeiras diárias para que o pet mantenha a vida ativa e não estranhe a mudança na dinâmica da casa.
Dois dogs, duas casas
Por serem muito apegados ao Thor, um labrador de 2 anos, e à Mandala, uma SRD de 3 anos, Renata e Alan jamais cogitaram a possibilidade de não compartilhar a guarda dos dois após o fim de um namoro onde eles ficavam mais juntos do que cada um em sua própria casa.
"Quando terminamos, foi cada um para sua casa e, como a gente se dá muito bem, resolvemos que nós dois tomaríamos conta deles. Não tinha como ser diferente", afirma a bancária Renata Maria de Oliveira, 38 anos, tutora da dupla de doguinhos.
Ambos têm uma estrutura fixa em casa com caminhas, potes de comida e água para que os cães não tenham de levar toda a "mudança" a cada vez que trocam de ambiente. Os gastos não são divididos igualmente e cada um arca com as próprias despesas quando está em posse dos pets.
Thor, que chegou primeiro na vida do ex-casal, frequenta duas creches, nas proximidades de cada uma de suas casas, porque tem muita energia para ficar o dia todo "parado". Mais tranquila, Mandala não precisa acompanhar o irmão labrador na escolinha. Apesar de não serem os melhores amigos, eles (os cães) convivem bem e em raros momentos ficam em casas separadas.
No começo, separávamos os dois porque como a Mandala já chegou querendo dominar o espaço, aconteceram muitas brigas entre eles. Então, deixávamos um aqui e outro lá. Agora geralmente os dois ficam juntos. Não são os melhores amigos, mas se respeitam", diz Renata.
Embora ambos apresentem comportamentos diferentes em cada um dos locais onde vivem, a possibilidade de mudança na guarda compartilhada está fora de cogitação.
Renata e Alan acertam quando mantêm dos dois cãezinhos juntos durante o tempo em que passam em cada uma das residências. A veterinária Sheila ensina que em casos onde há dois pets, se eles fossem separados dos "irmãos", poderia haver sofrimento.
Ela também explica que é preciso manter uma rotina de horários para comer, passear, brincar e descansar. Como também é importante manter o mesmo local para banho e tosa, clínica ou médico veterinário, é interessante que o animal leve consigo seus pertences como brinquedos, camas, almofadas e cobertores.
Qualquer que seja a opção, compartilhar ou não a guarda, a dica da veterinária é que aconteça uma avaliação individual de cada pet e suas necessidades emocionais. "Nenhum é igual ao outro nem dentro da mesma espécie e às vezes nem dentro da própria ninhada ou cria", afirma.
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