Mais que 'Alpes' da Itália, Dolomitas encantam com espetáculo de sol e neve
Mesmo entre os brasileiros que já foram para Itália, poucos foram os privilegiados que desbravaram as Dolomitas. Uma pena. No nordeste do país, uma das cadeias de montanhas mais espetaculares da Europa, reina.
Estamos no extremo nordeste italiano, em três estados: Vêneto, Trentino-Alto Ádige e Friulli Venezia Giulia, entre pequenas vilas, quase na fronteira com a Áustria.
No inverno, a neve cobre os vilarejos históricos. No verão, campos verdes e floridos são emoldurados por montanhas gigantes e as cores do sol: laranja, bege, marrom, por vezes, vermelho e até a clássica rosa.
Únicos e orgulhosos
Tecnicamente, as Dolomitas são parte dos Alpes da Itália, mas basta perguntar a qualquer local que logo escutará uma resposta convicta do tipo:
Os Alpes são os Alpes, mais para cima e mais para o oeste; as Dolomitas são nossas, só nossas."
Fica fácil entender esse orgulho, que é marca cultural do povo "dolomítico", ao cruzar os chamados "Passos" — passagens quase naturais que foram transformadas em estradas e que cortam trechos dos nove principais grupos de montanhas icônicas da região. Elas ligam um pequeno vilarejo a outro, serpenteando uma Itália elevada a mais de 2 mil metros acima do nível do mar.
São muitos os fatores que a diferenciam, a começar por essa charmosa mistura entre a expressiva cultura italiana, com o autêntico toque alpino austríaco.
No Alto Ádige, por exemplo, a língua mais falada é o alemão. Essa pluralidade cultural está presente na enogastromia, nos hotéis, na arquitetura das pequenas vilas e na personalidade de seu povo, que expressa a organização e seriedade austríacas, com a descontração e simpatia dos italianos do norte.
A lenda "Enrosadira"
Chancelada pela Unesco como Patrimônio Natural da Humanidade, em 2009, as Dolomitas contam com todos os predicados já mencionados mas o que faz dela realmente especial é sua formação dramática e geológica.
Ela é basicamente formada da rocha dolomita (um mineral que mescla carbonato de cálcio e magnésio), bem distinta das metamórficas mais escuras presentes na maioria de ícones dos Alpes, como no Materhorn, por exemplo.
É aí que surge a lenda da "Enrosadira", que no idioma ladino significa "se transformar em rosa". O fenômeno de mudança de cores dos maciços dolomíticos ocorre durante todo o ano, ao nascer e pôr do sol, mas é mais intenso durante o verão.
Contam os locais que um certo Laurindo, rei dos anões, se apaixonou pela filha do rei de Ádige durante uma festa. Deslumbrado, decidiu cobrir todos os campos ao redor das montanhas de flores rosadas para conquistar a amada. Mas seu romance foi rechaçado pelo futuro sogro e após alguns conflitos, Laurindo mandou petrificar todos os jardins, durante os dias e nas noites.
Mas o malvado ressentido se esqueceu dos momentos de transição: quando o Sol surge e quando se despede. Nestes poucos minutos a maldição é desfeita e as Dolomitas voltam a refletir o rosado das flores.
As vilas mais famosas
São dezenas de pequenas vilas e cidades espalhadas pelas três regiões italianas que têm o privilégio de serem palco dessas gigantes rosadas. Aqui vão algumas das mais famosas:
A mítica olímpica
Com pistas de esqui de alta qualidade, Cortina d'Ampezzo é considerada a Rainha das Dolomitas e será, pela segunda vez, sede dos jogos Olímpicos de Inverno de 2026, que acontecerá em conjunto com a cidade de Milão.
Mas o que poucos brasileiros sabem é que Cortina também é um paraíso no verão, onde os esportes de neve são trocados por espetaculares caminhadas, por exemplo, até o Rifugio Averau.
Além de pedaladas e do Parco Avventura para crianças (que encontrarão um paraíso do arvorismo), Cortina, nas estações quentes, também é considerada um dos berços da Via Ferrata. A famosa escalada onde o esportista desbrava os paredões das montanhas, preso a um gancho que desliza em um cabo de aço de segurança, nasceu nas Dolomitas.
O mais cobiçado de Cortina é o Punta Anna, que leva cerca de quatro horas, indicado para corajosos, com um pouco de experiência, que andarão a mais de 2700 metros de altitude.
O centro de Cortina é repleto de lojas de grife e turistas circulando entre bares e restaurantes. Há desfiles na semana de moda, festivais gastronômicos e incontáveis experiências esportivas.
Dois pequenos grupos de montanhas são imperdíveis em Cortina. As chamada 5 Torri (Cinco Torres) é uma formação natural surreal de pedras enormes, cada uma com seu nome, onde além de um cenário natural mágico, é possível conhecer alguns bunkers históricos impressionantes, usados por soldados durante a 1ª Guerra Mundial. Todas as Dolomitas foram palco de batalhas ferozes.
Outro ponto alto é assistir ao pôr do Sol no Passo Giau, que interliga Cortina com o Colle Santa Lucia e Selva di Cadore. Por lá, quem reina é o Monte La Gusela, da cadeia Nuvolau, um dos principais cartões postais das Dolomitas.
Alta Abadia
Ao deixar Cortina, tenha certeza de ir pelo Passo Falzarego, que separa a Rainha das Dolomitas, entrando na Alta Badia, território italiano — onde o alemão é quem está na boca do povo.
Corvara é a estrela maior de Alta Badia. Uma simpática cidade rodeada de impressionantes montanhas. Mas é uma micro vila vizinha, chamada San Cassiano, que tem sido considerada a mais exclusiva das estações de esqui italianas. São hospedagens luxuosas, que recebem a elite do país em busca de isolamento, tranquilidade e longe da badalação.
Na outra ponta de Corvara está a também Colfosco. É lá, diante do imenso maciço do Grupo da Sella que está o pitoresco restaurante Mesoles, de vista estonteante.
As três de Val Gardena
Colfosco é o início da subida que leva ao Passo Gardena, que liga à três outras icônicas vilas dolomíticas, que formam Val Gardena: Selva di Gadena, Santa Cristina e Ortisei. Elas estão separadas por menos de 10 quilômetros cada, com perfis um pouco distintos.
Selva, a mais alta, tem uma silhueta bem esportiva, e está bem próximo da cadeia de montanhas da Sella, tendo o Sassolungo como um dos gigantes mais emblemáticos.
A próxima é Santa Cristina, que é mais tranquila, com boas opções de casas de veraneio para temporadas e um local mais intimista. É bem diferente de Ortisei, a mais tradicional de todas, que conta com hospedagens e restaurantes históricos representando alguns aspectos culturais de Val Gardena, com diversos ateliês de artesanatos, que se misturam a lojas mais sofisticadas.
As três formam um vale belíssimo, cerca de uma hora da cidade de Bolzano.
A pérola das Dolomitas
Madonna di Campiglio é outra célebre, da região de Trentino. Famosa por ser uma das mais desafiadoras e espetaculares para o snowboard, ela está no centro de um vale de montanhas, todas interligadas. Tecnicamente elas estão em uma zona mais baixa, e fazem parte do grupo chamado Dolomitas di Brenta.
Está quase aos pés da cadeia de Adamello-Presanella, com um imponente pico de 3.539 metros.
"Não há região igual tão completa para os esportes de neve como Campiglio. Temos as condições mais perfeitas da Europa neste pequeno vale abençoado", explica o ex-atleta, Alberto Schiavon, que competiu como snowboarder pela Itália, nas Olimpíadas de 2006 e 2010, e que hoje gerencia o hotel Chalet del Sogno.
As Dolomitas estão presentes em quase 16 mil km², com incontáveis montanhas e cenários singulares. A região da Marmolada, a mais alta montanha dolomítica, com 3.343 metros, também merece entrar no radar para ser explorada.
Há ainda dezenas de grandes lagos, sendo o mais emblemático deles o Di Braies, que parece cenário de filme.
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