Gucci promete brilho e ostentação em looks 'pós-pandêmicos' de 2023
Após dois anos em que vestimos loungewear — o nome "oficial" que fashionistas dão à tal roupa de ficar em casa — e priorizamos muito conforto em tempos de isolamento social, os tempos pós-pandêmicos parecem querer recuperar com furor talvez sem precendentes o glamour.
Se depender da Gucci, a ostentação, ainda que poética, deverá marcar a temporada 2023 com muito brilho, como provou o diretor criativo Alessandro Michele ao mostrar a última coleção Cruise da grife italiana em um castelo — tem cenário mais apropriado? — na Puglia nesta segunda (16).
Inspiradas pela astronomia, as peças tinham constelações trabalhadas aplicadas em cristais aos tecidos, que misturavam texturas e comprimentos em composições que iam do casual ao black tie, o oposto do esperado para este tipo de coleção, que costuma ser mais "ensolarada".
Michele não economizou referências teóricas para suportar seu repertório estético: no material em que apresentou a coleção, ele cita como inspiração a amizade entre os pensadores judeus e alemães Walter Benjamin e Hannah Arendt, suas troca de cartas e capacidade de conectar ideias em uma forma de pensar que ele classificou como "pensamento em constelação".
O italiano vai mais longe, porém. Para ele, esta forma de articular conceitos é um meio de capturar o encontro, a sincronia entre passado e presente, compondo um novo universo ou "cosmogonie" — o nome de sua coleção — e rompendo com tradições datadas.
Se, à primeira vista, tudo isso parece ter pouco a ver com o momento ou a moda atuais, é interessante notar como as "constelações" feitas por Michele conversam muito com o Zeitgeist — o tal "espírito de um tempo" — em que vivemos: Arendt e Benjamin foram dois estudiosos que tiveram suas carreiras e vidas de alguma forma afetadas pelo nazismo, pela intolerância, pelos tempos de guerra.
Afinada, a Gucci levou tudo isso de maneira leve à passarela. Como uma resposta a tempos difíceis, pesados, nada glamurosos, muito brilho, tecidos esvoaçantes, looks com camadas e irreverências oitentistas, com direito a luvas de látex pink acompanhando um body de muito brilho e botas de cano longuíssimo que fariam Xuxa vibrar.
Se há dúvida de que este é mais um forte indício de que o mundo da moda quer viver a alegria que a pandemia e a geopolítica insistem em suprimir, é preciso apenas olhar para atrás (mas nem tão longe assim). Há duas semanas, o Met Gala 2022 trouxe ao tapete vermelho do Metropolitan Museum of New York o brilho da chamada "Era de Ouro" da economia americana entre 1870 e 1900.
Enquanto Blake Lively trouxe dois looks para a festa, Kim Kardashian, embaixadora da ostentação internacional, desfilou o vestido nu por excelência, o original concebido para Marilyn Monroe apenas com um leve tecido e pedrarias e no qual ela cantou seu famoso "Parabéns" ao presidente Kennedy.
Menos de um mês antes, Dua Lipa posou à la Donatella Versace com uma bolsa Balenciaga toda coberta em cristais de R$ 25 mil. E, curtindo o pós-baile do Met, Hailey Bieber vestiu um sutiã, também todo composto pelas pedras, da Saint Laurent. O item, nada básico, custa quase tanto a bolsinha da cantora.
Se depender de Michele e companhia, chegou a hora de brilhar.
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