5 motivos para assistir à "Julia", série sobre a "Palmirinha americana"
Julia Child (1912-2004), espécie de Ofélia e Palmirinha dos Estados Unidos, vive um momento de renascimento. A apresentadora e culinarista que já foi interpretada por Meryl Streep no filme "Julie & Julia" (2009) ganhou novas produções em sua homenagem.
Em 2021, o documentário "Julia" (disponível no YouTube) contou a sua história por meio de imagens de arquivo inéditas e depoimentos de chefs. Neste ano, seu legado inspirou a competição culinária "The Julia Child Challenge", que entrará no streaming Discovery em 28 de junho e (spoiler!) teve uma brasileira como campeã, e a série "Julia", que fisgou o coração e o apetite de foodies do mundo todo.
A produção original da HBO Max acabou de sair do forno: o último episódio estreou em 5 de maio na plataforma. No total, são oito capítulos de duração média de 45 minutos que apresentam com charme e bom-humor os bastidores do "The French Chef".
O pioneiro programa de culinária comandado por Julia Child foi colocado na TV aberta em 1963, dois anos depois do lançamento do livro "Dominando a Arte da Cozinha Francesa" (Mastering the Arto of French Cooking), no qual a americana esmiuçou as receitas e as técnicas culinárias francesas que aprendeu na Le Cordeu Bleu, de Paris, quando o marido e diplomata Paul Child foi trabalhar na França.
Com a ajuda da pesquisadora Joana Pellerano, que promove um curso sobre a série, listamos 5 bons motivos para dar o play e se divertir com "Julia".
1.
A irreverência de Julia rende cenas hilárias
A personalidade da cozinheira é uma atração por si só. E os espectadores entendem isso logo no primeiro episódio graças à brilhante interpretação da atriz britânica Sarah Lancashire, que — pasme! — não deixa saudade de Maryl Streep.
Julia não tinha nem televisão em casa quando foi convidada para ir ao programa "I've Been Reading", em 1962, falar sobre o livro de culinária. Mas seguiu a sua intuição e levou consigo uma chapa elétrica, uma frigideira e alguns ingredientes (ovos, manteiga, sal e pimenta) na bolsa.
Em certo momento da entrevista, ela procurou uma tomada, ligou o aparelho, esquentou a frigideira e preparou ao vivo uma omelete francesa cremosa, explicando ao público tim-tim por tim-tim.
O apresentador, boquiaberto de vergonha ao ver alguém montar uma cozinha improvisada no seu programa culto, esboçou um quase-sorriso apenas ao provar uma mordida. Ao contrário do que pensava o host, a audiência gostou da cena e a emissora recebeu um número inédito de cartas: 27.
A partir dessa situação, Julia segue uma jornada irreverente em busca do seu próprio show.
2.
The French Chef lançou recursos
Até a década de 1960, quando a TV norte-americana engatinhava, a cozinha não era vista como entretenimento — só como propaganda. A série acompanha a construção do programa que foi pioneiro ao colocar forno, pia e fogão no estúdio de gravação e, ainda, ao enfrentar desafios próprios do formato.
Isso significa dar um jeitinho de colocar um espelho sobre os armários do cenário para a câmera captar a receita de um ângulo melhor, fazer testes e mais testes para explicar em 30 minutos como preparar um pão do zero e lidar com a desaprovação por barreiras culturais ao apostar num prato inusitado, como molejas (timo bovino).
Muitos desses truques se estabeleceram como padrões técnicos ou impulsionaram novas soluções. Ver o nascimento de "The French Chef" é ver o nascimento de todas as produções audiovisuais de gastronomia que vieram depois, mesmo com o passar do tempo e a mudança da mídia.
3.
Faz todo mundo querer cozinhar e comer
Julia fez a clássica cozinha francesa ser interessante para espectadores norte-americanos na época em que a comida enlatada ganhava holofotes e as receitas consistiam em abrir várias embalagens para juntar o que tinha dentro.
Cozinheiros, apresentadores e pesquisadores a consideram uma pessoa chave para direcionar a culinária dos Estados Unidos em prol de uma alimentação mais natural com ingredientes frescos. O segredo? Traduzir receitas difíceis de um jeito fácil e divertido que estimule as sensações e dê vontade de comer.
Portanto não espere assistir à série e passar ileso pelo desejo da gula. O capítulo "Pães", por exemplo, em que o marido Paul (David Hyde Pierce) e a editora Judith (Fiona Gascott) passam o episódio todo tentando fazer a mágica da panificação acontecer, promete ser desafiador para os amantes de carboidrato.
4.
Discussões atuais são colocadas à mesa
A série levanta questões importantes nos dias de hoje. Entre elas o machismo da cozinha profissional em contraposição à distância dos homens na cozinha de casa e o entendimento da culinária doméstica como antagonista do movimento feminista.
A contraditória postura homofóbica de Julia também é colocada em jogo quando ela vai a uma balada LGBTQIA+ com o amigo e chef-televisivo James Beard e se mostra desconsertada ao ver a drag chamada Coq au Vin vestida com as mesmas roupas que cozinheira usava nas gravações.
5.
Poder feminino serve de motivação
As personagens femininas da série inspiram quem assiste. Entre os destaques estão a proativa e visionária produtora Alice Naman (Brittany Bradford) e a irônica e divertida Avis DeVoto (Bebe Neuwirth), melhor amiga da protagonista.
Julia, com seus 51 anos, 1,88 metros de altura, cintura larga e voz estridente, não tentou ser outra pessoa em frente às câmeras, senão ela mesma. Fez o "The French Chef" acontecer apesar das barreiras.
Mesmo sem o apoio inicial do marido, o ímpeto de Julia fez a relação dos dois se transformar num relacionamento mais moderno para aqueles tempos. E se no começo a emissora desacreditava na ideia, depois de ela insistir e até pagar pela primeira temporada do programa, os diretores enxergaram as oportunidades do show.
Mais que vontade de cozinhar e comer, "Julia" dá fome de vida ao contar a história de uma mulher recheada de si.
Motivo bônus!
A HBO Max confirmou a renovação da série de comédia. A data de estreia não foi confirmada, mas é certo que "Julia" terá uma segunda temporada.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.