Cheesecake tem origem curiosa na Roma Antiga; conheça a receita original
Ricota de leite de cabra sustentada por uma casquinha com mel e coberta por sementes da flor de papoula: era assim o cheesecake em tempos imemoriais, ainda na Roma Antiga, quando fazia sucesso entre escravos, soldados e aristocratas.
Como se conhece a receita deste ancestral de uma das sobremesas mais queridas da contemporaneidade? O presente foi do filósofo e escritor romano Marcus Catão, autor de "De Agri Cultura", uma série de textos em latim que incluía também o beabá do Savillum, como o doce era chamado antes de Cristo.
Algumas de suas preciosas dicas de culinária e principais misturas estão disponíveis ao público, através da Universidade de Chicago. O historiador Giorgio Franchetti, pesquisador de gastronomia e autor de "A Tavola Con Gli Antichi Romani" (Na Mesa Com Os Antigos Romanos, em tradução livre), garante que o livro era comum nas casas — assim como um título assinado pela Palmirinha hoje.
"Catão não era apenas um grande escritor e filosófo, era um apoiador gourmet das tradições e pratos rurais. Era muito popular nos lares em Roma", disse à CNN americana.
Embora seja possível que a receita do Savillum tenha sido herdada dos gregos que, de acordo com os autores Dana Bovbjerg e Jeremy Iggers de "The Joy of Cheesecake" e de vestígios arqueológicos na ilha de Samos, preparavam um quitute com queijo e mel para seus atletas olímpicos, Giorgio acredita que falta informações que possam ligar definitivamente os dois pratos, já que pouco se conhece da receita grega.
Já a versão romana se disseminou graças a dois fatores: a precisão de Catão, que colocou as medidas exatas dos ingredientes em seus escritos, e à disseminação do Império Romano que levou sua cultura — e gastronomia — a novas fronteiras. Assim, o doce se espalhou pela Europa que conhecemos hoje e, séculos mais tarde, às suas colônias nas Américas, em parte da Ásia, na Oceania e na África.
Segundo o dicionário "An A-Z of Food & Drink" escrito por John Ayto e publicado pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, o nome cheesecake foi adotado no século 15. Seus ingredientes também foram adaptados ao longo de séculos: saiu o fermento, entraram os ovos, manteiga aos poucos foi incorporada e frutas e sementes seguiram sendo substituídas com muitas variações: limão, uvas e etc.
Tanta diversidade pode ser vista nas docerias contemporâneas. Há quem faça cheesecake apenas com morangos, outros apostam em um mix de frutas vermelhas por cima. Tem quem prefira apenas mirtilo, ou amora. No Brasil, ele já ganhou goiaba. E há quem coma o doce sem nenhuma cobertura.
O legado do Savillum manteve seu impacto em outras receitas, já que muitos doces italianos levam hoje algum tipo de queijo — o mais célebre é o tiramisù, uma instituição do país à base de café e mascarpone. Mas é possível recriar este "vovô gastronômico", de acordo com o primeiro a documentá-lo:
Savillum, por Marcus Catão
Ingredientes:
- Meia libra romana (164,5 g) de farinha
- 2,5 libras romanas (822,5 g) de queijo de cabra
- 1 ovo
- 1/4 de libra romana (82,25 g) de mel
Modo de preparo
Misture os ingredientes em um recipiente de cerâmica untado com azeite de oliva, cubra com uma tampa e leve ao forno para assar. O filósofo recomenda garantir que o meio da massa esteja bem assado antes de retirá-la.
"Depois cubra com mel e despeje as sementes de papoula e devolva ao forno para terminar de cozinhar antes de servir", orienta. Ele ainda sugere deixar o Savillum dentro da própria forma ou panela em que cozinhou e oferecer colheres aos convidados, embora os romanos gostassem de comer com os dedos, segundo Giorgio.
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