Ela jogou tudo pro alto e ensina pratos com pegada latina na internet e TV
Em 2017, Marilia Archangelo tinha 29 anos. Formada em administração por faculdade pública, com direito a intercâmbio de marketing na Europa e pós-graduação, ela traçava carreira em multinacionais do setor de energia e alimentação — uma história bem-sucedida para quem via de fora.
Dentro da cabeça, no entanto, latejavam dúvidas: "comecei a questionar o que estava fazendo. Não via meu trabalho gerar nenhum impacto positivo". Numa espécie de "bug do milênio", como ela mesma caracteriza, Marília pediu demissão e partiu para um 2018 sabático em Montreal, no Canadá.
Foi lá, a mais de 8.000 quilômetros de distância do caos paulistano, que a campineira retomou alguns gostos que se perderam na correria do mundo corporativo, como a gastronomia.
"A comida foi e é muito presente na minha família. Fui a criança que pedia para mexer o bolo e que sempre queria se envolver naquela atividade".
Com tempo de sobra, ela se aprofundou em estudos sobre os hábitos alimentares e a cadeia produtiva. "Apesar da pandemia ter levado muita gente para cozinha, a sociedade perdeu a conexão com o processo e a noção do impacto do consumo".
O supermercado virou a nossa roça", resume.
Esses pensamentos tiveram resultados práticos. Tanto para si — começou a evitar ultraprocessados, a cozinhar mais e a testar receitas que gostava substituindo ingredientes de origem animal por vegetal — quanto para os outros.
Marília abriu uma conta no Instagram para compartilhar os aprendizados e mostrar com doçura o que para muitos parece um desafio amargo. "Achei fácil me adaptar porque a base alimentar do Brasil é vegetal: arroz, feijão, tomate, mandioca..."
América Latina: um prato cheio de história
Do Quebec, a administradora se mudou para o Chile, onde o namorado morava há oito anos, e traçou metas para profissionalizar o trabalho nas redes sociais.
Entre elas focar no público brasileiro e apostar nos insumos e na culinária latino-americana. "Quero valorizar a nossa história".
Até hoje, as receitas típicas aparecem em boa parte das publicações — algumas ainda sob a trilha sonora de artistas latinas. Uma das mais queridas é a sopaipilla, pãozinho frito de origem hispânica que se espalhou durante o período colonial e ganhou versões em cada canto.
No Chile, se estabeleu como uma desejada comidinha feita com abóbora e servida junto de pebre (vinagrete com coentro) ou abacate. Marília, que cedeu o passo a passo a Nossa (confira ao fim da matéria), conta que o aroma da fritura dos carrinhos de rua se espalha pela cidade.
Comida não é somente um amontoado de ingredientes e nutrientes. A comida também sacia a alma com sabores que nos remetem a lembranças, prazeres e sensações".
Além do Instagram: e-books, mentorias e TV
Quatro anos depois do primeiro post, Marília não só acumulou 116 mil seguidores como também diversificou os temas — reproduzindo receitas afetivas e abraçando quem tem restrições a glúten e lactose — e os negócios.
Faz publicidades para marcas, dá aulas on-line para amadores, desenvolve e-books, presta consultoria para restaurantes que querem acrescentar pedidas à base de vegetais no menu e vai lançar um clube de assinaturas com planejamento semanal de cardápio.
O momento mais marcante da carreira foi na TV. Em 2021, foi chamada pelo canal Sabor & Arte para fazer parte do elenco de "Chefs Digitais" e, após cinco meses, convidada para ter o seu próprio programa.
No "Sabor Vegetal", que vai ao ar toda segunda-feira às 19h30, a administradora prepara comidinhas e conta histórias de culturas e ingredientes.
Sopaipilla
Receita à prova
Aprenda a receita do pão de abóbora frito no vídeo abaixo ou confira a receita por escrito na sequência.
INGREDIENTES
- 1 xícara de chá de abóbora assada e amassada
- 2 xícaras de chá de farinha de trigo (ou 1 e 3/4 de xícara de farinha de arroz mais 1/4 de xícara de polvilho doce)
- 2 colheres de sopa de azeite
- Sal a gosto
- 1 colher de café de fermento químico
- Óleo para fritar
MODO DE PREPARO
Coloque a abóbora assada e amassada numa tigela. Adicione a farinha de trigo (ou a de arroz mais o polvilho), o azeite, o sal e o fermento. Misture com as mãos até formar uma massa totalmente homogênea.
Enfarinhe a bancada e abra a massa com rolo ou garrafa. Com um cortador ou um copo/xícara, corte discos redondinhos. Aqueça o óleo e frite de pouco em pouco, dourando dos dois lados.
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