Com ausências de peso, SPFW se renova fora da Bienal e de olho no digital
A São Paulo Fashion Week começa nesta semana com 41 marcas desfilando, no geral — 19 delas farão apresentação digitais, os chamados fashion films ou desfiles transmitidos pelos canais oficias, e 22 presenciais.
Os desfiles físicos acontecerão no Senac Lapa Faustolo, no Komplexo Tempo, no Museu de Arte Brasileira (MAB FAAP), no Teatro FAAP e no Hotel Rosewood.
"O formato hibrido veio para ficar", comenta o organizador do evento, considerado a maior Semana de Moda da América Latina, Paulo Borges em entrevista para Nossa. "São novos formatos que estão sendo testados e aprimorados a cada momento."
O retorno dos desfiles ao vivo e a cores nas passarelas, depois de um longo tempo de confinamento em consequência da pandemia do coronavírus, aconteceu em novembro do ano passado — embora algumas marcas ainda tenham apresentado suas coleções por meio dos formatos digitais.
"O desfile presencial tem uma força própria, a emoção de presenciarmos aquele momento juntos, como num show ou num espetáculo de teatro", comenta Paulo. "O desfile digital, sua vez, permite outras viagens, uma expressão mais sem limites e também com grande impacto. Vão conviver por muito tempo e ainda veremos outros suportes ganharem força como o metaverso."
Paulo conta que a edição N53, iniciada nesta terça-feira (31) com um único desifle da À La Garçonne, comandada por Alexandre Herchcovitch, começou a ser pensada, de fato, em fevereiro deste ano. Trabalhou-se inicialmente com dois cenários: "Até o começo de fevereiro, tínhamos ainda muitas dúvidas em relação à questão da covid, com o aumento de casos e a chegada da nova variante, a Ômicron".
A ideia inicial seria fazer o evento, agora em junho, completamente digital. Visando um cenário mais otimista para a segunda edição da SPFW, que acontece geralmente no mês de novembro.
No entanto, o organizador recebeu o pedido de diversas marcas para que pudessem realizar seus desfiles de forma física — seguindo todos os protocolos necessários, como o uso de máscara e testagem da covid-19.
"Diante do cenário mais controlado da pandemia e do eventual relaxamento das restrições sanitárias, buscamos formas de atender em parte esta demanda, mas ainda assim sem concentrar os desfiles presenciais em um único espaço", explica Borges.
A força do digital
Atualmente, ignorar a realidade virtual no universo da moda é impossível — ou seja, seria um erro.
A fim de se aproximar dessas plataformas, na edição passada, a N52, a SPFW fez uma parceria inédita com o game mais baixado em todo o mundo: o Free Fire. Com a parceria de estilistas e stylists nacionais, a Semana de Moda brasileira transformou as skins dos avatares em roupas reais.
Para a edição N53, nomeada IN-PACTOS, fazer com que as marcas ocupem as redes sociais é parte desse plano de continuidade. Como dito por Paulo Borges anteriormente, "o formato híbrido veio para ficar", de fato.
"Estamos em um momento de transição, um momento de reinvenção para todos, no Brasil e no mundo, tanto do ponto de vista individual quanto coletivo. Precisamos nos reinventar em todos os setores", opina. "Os processos estão sendo acelerados com os avanços tecnológicos, as novas ferramentas que possibilitam avanços, vide o crescimento e o fortalecimento do ambiente digital."
É um momento desafiador, mas também muito rico, em que a diversidade e novos formatos estão surgindo e sendo testados, experimentados. E é mais do que evidente que precisamos encontrar maneiras criativas de lidar com esses desafios. Sáo momentos muito rápidos de transformação e de disrupção que podem abrir novas oportunidades."
Paulo Borges para Nossa
Nas palavras do estilista e organizador da SPFW, mais do que necessário, é uma "obrigação provocar a inovação": "É um chamado para que novos pactos possam surgir em torno do compromisso com as mudanças urgentes que precisam acontecer para criarmos um ambiente mais humano e saudável para todos".
"Precisamos falar disso, reiterar nosso compromisso com os objetivos de desenvolvimento sustentável, um compromisso que cabe a cada um de nós."
A decisão, por exemplo, de levar alguns dos desfiles para o Senac é um exemplo citado por ele. A parceria com instituição de ensino fará com que estudantes de moda possam participar da SPFW — sobretudo fazer parte da construção dessa nova realidade na moda brasileira.
"Quando se coloca estudantes de áreas diversas atuando, nos setores de desejo da profissão futura, não só damos uma experiência única no processo de formação, mas também uma troca de experiências, sabedorias e conhecimentos", complementa.
Temos a obrigação de provocar a inovação, um chamado para que novos pactos possam surgir em torno do compromisso com as mudanças urgentes que precisam acontecer para criarmos um ambiente mais humano e saudável para todos. Precisamos falar disso, reiterar nosso compromisso com os objetivos de desenvolvimento sustentável. Um compromisso que cabe a cada um de nós."
Ausências e estreias
Com a ausência de grandes nomes do line-up, como o estilista Ronaldo Fraga e a marca jovem Another Place, três marcas fazem a estreia na edição N53: Dendezeiro, Thear e Martha Medeiros — essa última, por sua vez, com um nome já consolidado no mercado brasileiro.
"O tema do SPFW é sempre uma provocação, não está diretamente relacionado às marcas. Mas, naturalmente, elas trazem já no seu DNA questões que dizem respeito a este novo século: questões de circularidade, de diversidade, de afetividade", explica Paulo.
Por fim, o organizador da SPFW pontua: "As soluções para os novos tempos virão dessa mistura rica de ideias, propostas e expressões."
Confira nesta link o line-up completo da SPFW N53.
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