#Swedengate: costume sueco de não alimentar convidados vira polêmica na web
Na quarta (25), o relato de um usuário do Reddit sobre sua experiência como convidado na casa de um amigo sueco na infância — que pediu para ele esperar no quarto enquanto a família jantava, sem nenhum convite para participar da refeição — deixou muita gente em diferentes plataformas na web intrigada a respeito da etiqueta e dos costumes na Suécia.
No Twitter, o debate virou o "escândalo" #Swedengate, hashtag que não só reúne relatos em diversas línguas de outras vivências curiosas de turistas estrangeiros no país nórdico, como também questionamentos sobre as diferenças culturais e a colonização europeia de outros territórios.
A conversa, que já dura mais de uma semana, começou quando o usuário SamQari disse na quinta (26) não entender como alguém pode sentar à mesa para comer sem convidar um amigo.
Brasileiros também contribuíram para o #Swedengate com seus próprios relatos de convivência com suecos, comentários bem-humorados e um peculiar orgulho — especialmente dos mineiros — de oferecer pão de queijo para quem passa, independendo do grau de intimidade.
Mas será verdade que suecos não dividem o jantar?
Segundo a pop star sueca Zara Larsson, o #Swedengate é verdadeiro e os seus conterrâneos não chamam ninguém para jantar assim tão fácil. "Este é o ápice da cultura sueca", opinou.
Lovette Jallow, escritora que emigrou de Gâmbia para a Suécia quando tinha 11 anos, explicou ainda um pouco mais do costume.
"Estou rindo das pessoas no Twitter descobrindo que suecos não alimentam estranhos. Quando eu era criança, crescendo aqui, a gente simplesmente sabia que, perto do horário do jantar, era hora de voltar para casa. Por outro lado, minha mãe alimentava crianças suecas", relembrou.
Xenofobia e racismo
A discussão, no entanto, alcançou níveis mais profundos quando começaram a surgir ataques xenófobos contra os suecos e acusações de que o povo local também seria racista em relação a estrangeiros e até seus próprios indígenas.
Segundo o americano "Today", da NBC, a Suécia, assim como outros estados escandinavos, tomou posse de territórios do povo indígena local Sámi e os forçou a assimilar a cultura branca durante os séculos 18 e 19.
"Finalmente, a Justiça chega à Suécia. Os problemas da nação nórdica estão chegando à timeline através do #Swedengate, após evitar por muito tempo críticas ao seu racismo contemporâneo e papel histórico na escravidão e imperialismo. A Suécia fez uma fortuna fabricando correntes para escravos", criticou Malick Doucouré, pesquisador do King's College em Londres sobre colonialismo.
"Espero que o #Swedengate cresça dissecando o passado imperialista e racista e analisando os problemas atuais em relação ao racismo", concluiu.
Já Jallow voltou a comentar sobre as repercussões de uma hashtag que começou como brincadeira.
"Isso começou compartilhando uma lembrança. Pessoas brancas dividiram suas experiências, assim como suecos negros e pardos. Você quer adivinhar qual grupo foi alvo de trolls racistas suecos com assédios raciais? Mas a Suécia não é racista, claro. Nós nunca pudemos falar de nossas experiências publicamente".
Em defesa da Suécia
Outros se viram obrigados a saírem em defesa da cultura sueca diante das críticas e de comentários agressivos.
O irlandês Jack Kavanagh acredita que a controvérsia seja "esquisita" porque a Suécia "tem um dos maiores estados de bem-estar social do planeta", em sua opinião. Ele ainda apontou que o país recebe "quase tantos refugiados por ano quanto os EUA, um país 33 vezes maior) e doa quase 1% de seu PIB como auxílio de desenvolvimento — sendo o 3º maior doador do mundo", em sua análise.
Sofi Tegsveden Deveaux, diretora da LYS förlag, uma editora de Estocolmo, explicou ao "New York Times" que, para os suecos, tudo é uma questão de educação.
"Em algumas culturas, comida é muito importante. Na cultura sueca, é muito importante respeitar o direito dos outros à privacidade e seus direitos a tomar as próprias decisões e fazer as coisas da maneira que preferirem", disse sobre o momento do jantar. Para ela, era normal na infância que a hora da brincadeira acabasse pouco antes do jantar.
Recusar um petisco na casa de um amigo não provoca estranhamento, disse. E ela, rotineiramente, pede aos amigos dos filhos que voltem para casa antes que a família se sente à mesa. O importante é o respeito.
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