Conheça a cidade chilena construída sobre as múmias mais antigas do mundo
No litoral dos Andes, uma cidade chilena guarda até hoje um dos tesouros mais preciosos da humanidade: suas primeiras múmias artificiais — aquelas que são resultado de um processo de mumificação conduzido pelo homem e não por condições ambientais — com mais de 7 mil anos.
O feito já é autenticado pelo Guinness World Records e pela Unesco como Patrimônio da Humanidade desde o ano passado.
Arica é, na verdade, uma necrópole, isto é, uma cidade de mortos. Isto porque ela foi construída sobre o terreno onde repousou por milênios um dos povos mais antigos da humanidade: os Chinchorros.
Para efeito de comparação, as mais antigas múmias egípcias têm cerca de 5 mil anos. Os Chinchorros produziram suas primeiras múmias há mais de 9 mil anos, naturalmente. No entanto, apenas 29% delas foram resultado de processos orgânicos, segundo estimativa de um estudo da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, em 2003.
Cerca de 2 mil anos depois, eles começaram a se tornar mais prolíficos que os primeiros habitantes do Egito: ao contrário dos africanos, que só mumificaram membros de sua elite, os latinos preservavam pessoas comuns e, com especial cuidado, bebês e até fetos abortados.
Além disso, eles desenvolveram diferentes técnicas: há múmias vermelhas, negras, múmias que foram enroladas em tecido, outras que receberam uma espécie de máscara mortuária. É deles ainda a evidência da mais antiga tatuagem das Américas, que pode ter sido feita há 4 mil anos.
Mas nada desta importante história era conhecida até 1917, quando o arqueólogo alemão Max Uhle identificou a primeira múmia abandonada em uma praia. No entanto, o processo de sua datação levou décadas para se completar.
Este ritmo se manteve até o fim dos anos 50 e início dos 60, quando o processo de urbanização em Arica se acelerou. À BBC, o morador Johnny Vásquez, relembrou nesta sexta (20) que, quando os primeiros operários começaram a escavar as ruas para realizar os encanamentos de esgoto em seu bairro, encontraram "camadas e camadas de múmias".
Poucos anos depois, em 1967, seria fundado o Museu da Universidade de Tarapacá - San Miguel de Azapa (MASMA), justamente com o intuito de fomentar o estudo dos Chinchorros na universidade local.
A população começava a entender que não estava mais só na cidade, mas que a dividia com seus primeiros habitantes — as obras de um hotel revelaram ainda mais corpos preservados em 2004, de acordo com a publicação britânica. O local se incorporou aos sítios arqueológicos já existentes.
Uma das teorias para o grande número de múmias não é apenas seu início mais precoce do que de outras civilizações: estudiosos da Universidade de Tarapacá acreditam que o solo rico em arsênico foi responsável por uma alta mortalidade, inclusive infantil, além dos abortos espontâneos.
Os Chinchorros, no entanto, eternizaram os que perderam. Eternizaram sua cultura, sua vida, sua história. E apesar de viverem sobre um cemitério, os residentes de Arica parecem partilhar do mesmo sentimento de seus antepassados.
"Eles eram pescadores, como nós, e eles viveram neste lugar. Depois de milhares de anos, nos estabelecemos aqui. Nós, como comunidade de pescadores, tomamos esta autoridade de nos considerarmos seus herdeiros e é por isso que queremos preservar os que eles deixaram como um grande legado de nossa atual comunidade. Nós somos os Chinchorros contemporâneos", celebrou o pescador Jorge Ardiles à BBC.
O MASMA está aberto a quem quiser conhecer nossos antigos vizinhos em temporada regular — e entre março e dezembro — de terça a domingo das 10h às 17h.
Adultos pagam 2 mil pesos chilenos (R$ 11,60) e jovens entre 7 e 18 anos devem desembolsar meia-entrada (R$ R$ 5,80). Crianças menores de 7 anos não pagam. Passe sanitário e protocolos sanitários continuam sendo exigididos.
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