SPFW vira palco para velório do Brasil em desfile retratando morte do país
A passarela do São Paulo Fashion Week se transformou em um cortejo fúnebre na tarde da última sexta-feira (3), dia em que foi realizado o quarto dia da edição N53 da Semana de Moda brasileira.
Usando apenas a cartela de cor preta para as roupas e um casting composto integralmente por modelos negros, o estilista mineiro João Pimenta foi um dos grandes destaques ao realizar a apresentação para sua coleção no Senac Lapa, Zona Oeste de São Paulo.
O desfile teve o poema "A Flor e a Náusea", de Carlos Drummond de Andrade, como inspiração. As palavras do poeta brasileiro foram proclamadas enquanto os modelos andavam pela passarela — vestidos com algodão piquet, veludo devorê e jacquard.
Escrito entre 1943 e 1945 e parte do livro "A Rosa do Povo", a escolha do poema é também um espelho dos tempos atuais. Ao menos para Pimenta.
Como apontado pela mestre em estudos literários Izandra Alves, as palavras de Drummond, nesta obra, representam a explosão revoltada de um indivíduo diante do mundo em que vive — ao mesmo tempo em que mostra a esperança frente ao aparecimento de uma flor com raízes no concreto.
"É através de um passeio pela rua cinzenta que o sujeito depara-se com a náusea; vê-se enjoado e tem o desejo de vomitar sobre tudo o que lhe incomoda e perturba", aponta Izandra em um dos seus artigos acadêmicos.
E assim foi feito por João Pimenta que, assim como o indivíduo retratado pelo poeta, ainda enxerga esperança. No caso do estilista, essa fantasia é costurada e ainda retrata uma espécie de luto, como visto em um look repleto de detalhes que trazia ainda um véu cobrindo o rosto do modelo.
As roupas pretas ganhavam vida com texturas e adereços que brilhavam em prateado metálico. Alguns deles retratavam também o cru do esqueleto humano.
O drama encontrava expectação por meio das mãos do designer, que parece enxergar um futuro mais deslumbrante.
No fim do desfile, momento clássico em que o responsável pela criação das roupas surge na passarela, João Pimenta agradeceu. Antes de ir embora, fez um "L" com uma das mãos. Em ano de eleição presidencial, uma mensagem aparentemente bastante objetiva.
Veja abaixo o desfile completo de João Pimenta:
Victor da Justa
A terceira coleção de Victor da Justa é uma carta de amor ao seu país, a terra brasilis. No ano do bicentenário da Independência e do centenário da Semana de Arte Moderna, Victor revisita o Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade para realizar o seu próprio, clamando a nos valorizarmos, nos consumirmos, nos respeitarmos e nos comermos.
O símbolo da coleção é o tomate, subtraído da icônica estratégia para gerar polêmica empreendida por Oswald: contratar pessoas para nele tacarem os frutos enquanto lia seus poemas. Na coleção, a depreciação pelo "made in brasil" dá lugar à deglutição de nós mesmos e o tomate se torna bendito fruto.
Silvério
A Delírio é o resultado de estudos sobre a supressão de desejos dentro de período de reclusão pandêmica em auge de contaminação por covid 19, Rafael Silvério propôs torção em espiral a fim de discutir perspectivas do querer em um desfile com a presença do ex-BBB e surfista, Pedro Scooby.
Em busca de entender esses pulsos e as manifestações dessas vontades, a coleção se debruçou e expôs um lado mais sensual buscando referências que misturam shapes dos anos 50, além de uma abordagem minimalista e urbana dos anos 90.
O verão vem sóbrio com cores sóbrias com pontos de cor em azul, mostarda e laranjada, sem abrir mão do preto tão evidente na marca, e o magenta como assinatura nos acabamentos internos.
Destaque para as modelagens espiraladas dentro das alfaiatarias que criam tensões em peças cortadas em godoês. As bases são em crepes, sarjas, algodões penteados e malhas apoiados pela Texprima e Vicunha.
Thear
Inspirada no obra do artista Antônio Batista de Souza, conhecido como Antônio Poteiro, o fashion film da marca estreante foi gravado no Instituto Antônio Poteiro, fundado por sua família com intenção de preservar e integrar as obras e que conta com um grande acervo das obras do artista e de seu filho, Américo Poteiro, que assim como o pai, seguiu o caminho das artes.
"Para essa coleção, estudamos e analisamos a vida e obras de Antônio Poteiro, selecionamos uma cartela de cores que transita entre os tons terrosos do barro e da cerâmica e as cores vibrantes das pinturas, e nos inspiramos nas texturas de suas obras para criar detalhes em design de superfície", conta Theo Alexandre.
Ainda nas palavras de Alexandre, a coleção se inspira na coragem de se reconectar com nosso verdadeiro ser, acolhendo nossas diferenças e peculiaridades, no orgulho da singularidade do universo pessoal.
Wilson Ranieri
Para o novo lançamento foram revisitados os acessórios, peças, desenvolvimentos e modelagens. Misturando o passado e o presente, os desenvolvimentos originaram peças em tons de fúcsia, pink, laranja, marinho, veridian, rosa, branco, cobre, azul klein, verde água, vinho e estampas.
A estampa que Wilson criou e há 7 anos mora no painel de vontades do estilista dá vida a peças de nylon com elastano, tecido prático e confortável, o nylon strech está presente em calças shorts, jaquetas ciclista, veste godê longa, capas e um dos grandes highlights da coleção: a jaqueta que "monta e desmonta", virando bolero, jaqueta, jaqueta cropped e parca longa - 4 peças em 1.
Para a celebração da coleção e dos 21 anos, o designer resgatou e observou seu amor por tecidos. Plissados, sedas modal e pura, matelassê metálico, malha de viscose, tricot canelado, algodão e o nylon strech com o print em duas versões: ultramarine com branco e pink com laranja (dois clássicos da marca).
Glória Coelho
Com a temática voltada para a iluminação, a estilista apostou em peças assimétricas e estampas, que apareciam em tecidos desde a organza de seda até o jeans. Fomos apresentados ainda para vestidos camisa e kaftan para usar com calças e saias longas.
Entre as cores, se destacavam o verde limão, o off-white, o preto e rosa.
Os acessórios ganharam vida a partir de botas de tricô e sapatos esportivos de neoprene, além de bolsas sanfona de martelasse e de plumas.
Handred
O fio condutor para o fashion film da marca carioca foi o trabalho da equipe de costureiras, alfaiates e modelistas.
Os sons do ateliê envolvem o espectador no clima do lugar, com o ritmo das tesouras, máquinas, agulhas, linhas e com o olhar da câmera nos tecidos, com as estampas características da coleção, que saem da mesa de corte e voltam às mãos das costureiras.
A silhueta da coleção afirma a característica do DNA da marca, equilibrando fluidez e linhas arquitetônicas. Mas não são formas contidas: elas se projetam para fora através de volumes e sobreposição de camadas.
Os tons de vermelho foram o destaque da cartela de cores, pontuada por branco, off-white e suas variações.
Além dos tecidos seda e algodão, estampados ou lisos, a linha explora ainda o efeito de luz e sombra do veludo.
Walério Araújo
O estilista embarca em uma viagem pela própria história para contar na passarela sobre as singularidades que fazem dele múltiplo. Inspirado pelo começo de sua carreira artística, Walério traz como referência seu ponto de partida: as feiras alternativas dos anos 90.
Unindo passado e presente, o artista inaugura o futuro da marca sem abrir mão dos pilares que sustentam sua existência: a criatividade e o pluralismo.
"Esse lançamento é a reunião de momentos icônicos da minha vida, traduzo em roupas o sentimento que vivi na década pulsante que foi 1990. Amigos, clientes, anônimos e famosos fazem parte dessa criação, afinal sempre fiz parte de um mundo múltiplo", afirma Walério Araújo
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