Aérea é criticada por exigir de viajantes sul-africanos um teste de idioma
A companhia aérea low-cost irlandesa Ryanair foi acusada de discriminação racial após exigir de viajantes sul-africanos que realizassem um teste de africâner para provar sua nacionalidade antes do embarque. As informações são da CNN americana.
O africâner é apenas um dos 11 idiomas oficiais falados na África do Sul. A lista ainda inclui inglês, zulu, swazi, sepedi, sesotho, setswana, xitsonga, xhosa, tshivenda e ndebele.
A cobrança do africâner, no entanto, carrega um significado histórico: o idioma, de origem germânica — isto é, derivado do neerlandês, também popularmente conhecido como holandês — foi imposto a sul-africanos negros pela população branca durante o Apartheid.
Estima-se que, organicamente, apenas 13,5% dos sul-africanos fale o idioma no cotidiano, de acordo com o censo do país de 2011.
As denúncias da prática da aérea começaram a surgir no dia 27 de maio, depois que um passageiro de passaporte sul-africano, mas residente do Reino Unido relatou no Twitter ter sido obrigado a realizar o teste de duas páginas — e acertar 100% das questões — para embarcar em um voo de Portugal a Londres.
Após surgirem queixas semelhantes nas redes sociais, a Ryanair declarou à emissora americana que o exame é composto de perguntas relacionadas "a conhecimentos gerais sul-africanos" foi instaurado em resposta "à alta prevalência" de passaportes sul-africanos falsificados.
"Para minimizar o risco de uso de um passaporte falso, a Ryanair exige que passageiros com um passaporte sul-africano completem um simples questionário na língua africâner. Se o passageiro for incapaz de completar o questionário, ele terá negado [o direito de] viajar e receberá um reembolso completo", alega a companhia.
Apesar de não operar voos diretos com origem ou destino para a África do Sul, a Ryanair informa que "aéreas que operam no Reino Unido estão sujeitas a multas de 2 mil libras (R$ 12,23 mil) por passageiro que viajar ilegalmente ao país com passaporte ou visto fraudulento".
No entanto, o Alto Comissariado do Reino Unido na África do Sul se posicionou dizendo que o questionário "não é um requisito do governo britânico".
O africâner é apenas o terceiro idioma mais falado do país, com quase 7 milhões de falantes. Já o zulu é o mais popular, com pouco mais de 11,5 milhões. Ao jornal The New York Times, uma passageira que foi impedida de voar pela Ryanair em 1º de junho de Londres a Dublin, identificada como Petronia Reddy, disse ter "reprovado" no teste que prova que ela é sul-africana.
"Você não pode dizer a uma nação que passou pelo que passou e para uma pessoa de pele escura da África do Sul que este formulário faz de você sul-africano", revoltou-se. Ela tem ascendência indiana.
"Estamos chocados com esta decisão da companhia", disse Siya Qoza, porta-voz do Ministério de Assuntos Interiores da África do Sul, em comunicado à publicação americana.
Ele ainda esclareceu que o governo local detectou casos recentes de fraude com passaportes e disponibilizou às companhias acesso à base de dados das autoridades sul-africanas para verificar a identidade e autenticidade dos documentos. "Não está claro até que ponto a companhia aérea usou estes serviços antes de recorrer a este sistema de perfilamento às avessas", lamentou.
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