Gatos ao mar: casal vive em veleiro-catamarã na companhia de 5 bichanos
Para a maioria das pessoas, a simples ideia de passear de barco pode soar incômoda — afinal, não é todo mundo que se dá bem com o balancê do mar. No entanto, para os alagoanos Aline Régia Alves Fernandes, de 46 anos, e José Maria Pinto de Barros Filho, de 45, a história é outra.
Desde novembro de 2020, o casal Zé e Aline vive a bordo do veleiro-catamarã 7 Vidas, hoje ancorado na costa do estado de Alagoas.
Impulsionados pela pandemia de covid-19 e pela possibilidade de trabalhar em regime home office, o casal conta que a ideia de trocar a vida em apartamento por um barco surgiu de uma hora para outra, e partiu de Aline.
Um dia a gente estava conversando na sala e, do nada, a Aline virou pra mim e falou: 'vamos morar num veleiro?'. E eu, do nada, topei", explica Zé.
Apesar de serem habituados com o mar e praticarem esportes aquáticos, o casal conta que a primeira experiência a bordo de um veleiro aconteceu, de fato, durante o Carnaval de 2020, poucas semanas antes do lockdown chegar ao Brasil.
Após a vivência de alguns dias no barco de amigos, a ideia surgiu, amadureceu e, em julho daquele ano, Zé e Aline finalmente arriscaram e compraram seu próprio veleiro, em um yacht club de Salvador.
Cat...amarã
O modelo escolhido foi um veleiro-catamarã de 36 pés e dois cascos. Mais espaçoso e estável, o 7 Vidas, nome que o barco ganharia somente por volta de março de 2021, conquistou o casal.
E, para os alagoanos, o espacinho extra do catamarã não é de se jogar fora. Afinal, o 7 Vidas também é lar dos cinco gatos do casal: Dora Bolina, Marcílio Browne, Mel Gibson, Highlander e Meggie.
Inclusive, eles explicam que o nome do veleiro, e do perfil nas redes sociais (@cat7vidas), é um trocadilho — e fruto da criatividade de Aline. "O 'cat' é [abreviação] de catamarã, e é gato em inglês. O 7 Vidas é porque são sete vidas a bordo, eu, a Aline e os cinco gatos, e também porque o gato tem sete vidas".
Felinos ao mar
Quem pensa que os felinos não apreciam a vida no mar, está enganado. "Eles se adaptaram melhor do que a gente!", Aline é enfática e Zé concorda.
Ao Nossa, o casal ainda conta que os gatos moram com eles no veleiro desde o início da empreitada. "Compramos o barco em julho e voltamos para Maceió para empacotar as coisas no apartamento. Então fomos com tudo, de carro, até a marina [em Salvador] para pegar o barco. E os gatos junto", Zé explica.
Entre as várias possibilidades de esconderijo e ocasionais saltos para os veleiros vizinhos, todos os cinco tripulantes de quatro patas já saborearam o gostinho da água salgada.
De acordo com o casal, na primeira vez que um dos gatos caiu na água, Zé se apressou, saltou e resgatou o bichano. Mas, conforme novas quedas aconteceram, os peludos aprenderam macetes de natação e hoje, vez ou outra, pescam o próprio petisco e voltam sozinhos para o 7 Vidas.
Tranquilo, o casal afirma que os cinco gatos se dão muito bem com a vida a bordo, que, para eles, muitas vezes se resume a aproveitar a brisa e o sol de fim de tarde que bate na proa do veleiro.
Desafio delicioso
Quando o assunto é morar no mar, o casal faz questão de mostrar que nem tudo são flores e que a realidade é muito diferente do que costuma ser pintado nas redes sociais. Apesar de não lidarem com impostos, como IPVA e IPTU, e de viverem apenas com o necessário, eles concordam que "não é para qualquer um". É preciso adaptar drasticamente a rotina.
Água é só em fontes naturais, marinas ou na casa de amigos. "Quando não [tem marina por perto], a gente se vira. São 400 litros de água no tanque e eu consigo colocar mais 150 em cima [nos galões]. Inclusive, acabei de fazer meu sistema de captação de água da chuva", Zé explica.
Lidar com o consumo de água e energia, a presença de sal dentro de casa, os novos processos para comprar mantimentos e, principalmente, o espaço reduzido foi desafiador no início, o casal afirma. Mas, depois, perceberam que a nova realidade era menos difícil do que parecia.
E embora um chuveiro tradicional ou uma cama que não balance viesse a calhar, Aline diz que "hoje, não sentimos falta de nada. Você vai vendo que não precisa de muita coisa".
Entre tempestades
Por outro lado, o que não faltam são histórias para contar. Quando perguntados sobre o maior perrengue que já viveram a bordo do 7 Vidas, eles se lembram da primeira travessia que tentaram fazer com barco, das águas abrigadas da baía de Todos-os-Santos, na Bahia, para a capital do Alagoas.
O mar agitado e o vento pouco favorável impediram a ida do casal para a terra natal, que só aconteceria dez meses depois, já em 2021, em condições melhores e quando já estavam mais habituados com os processos necessários para manter o barco.
As aventuras, claro, não pararam por aí. "Para entrar aqui [na Barra de São Miguel] a gente teve um perrenguezinho", Zé conta.
Na ocasião, o casal estava apenas com um dos dois motores do catamarã. Uma vez que o outro motor havia sofrido avaria, o trecho entre Maceió e Barra de São Miguel foi feito na vela.
Eles começaram a viagem às 3h30, por conta da maré e do vento e a travessia em si foi tranquila. "Mas quando chegamos aqui na Barra de São Miguel aconteceu nada menos que três pirajás (chuva com ventos fortíssimos).
Nesse momento, o único motor do barco falhou.
"Eu tive que abrir vela de novo, fiquei dando bordo lá fora à espera do rapaz que ia fazer a praticagem [assessoria náutica para colocar embarcações em portos, marinas ou barras] para gente, só que ele disse que não poderia nos buscar com aquele mau tempo", relembram.
Já estávamos desistindo e indo de novo para Maceió quando ele ligou dizendo que já estava com um cabo e tudo preparado para ele puxar a gente pra dentro. Aí eu vim na vela até a boca da Barra".
No entanto, essas experiências também representam um acúmulo de novos aprendizados para Zé e Aline, que contam que tudo o que sabem sobre uma vida a bordo foi adquirido na prática, com erros e acertos; inclusive a não ter pressa e respeitar o tempo do mar.
Planos para o futuro
Viver a bordo de um barco também abre portas para novas possibilidades. Segundo o casal, a ideia para os próximos meses é descer o Brasil. "Eu quero ir até Floripa", diz Aline. A viagem não tem data de ida e muito menos de volta, afinal é preciso respeitar as condições do mar. Zé comenta que "quando estiver bom, a gente vai".
Daqui para frente, eles também esperam poder viver exclusivamente do barco. Hoje, Aline trabalha como T.I de forma remota, em boat office, como eles brincam, enquanto Zé se dedica integralmente ao 7 Vidas. "Hoje minha profissão é consertar tudo, fazer manutenção, abastecimento, é tudo isso", ele diz.
Então, para contornar a atual rotina, e liberar Aline de um trabalho que ainda demanda certas obrigações em terra firme, eles contam que estudam a ideia de realizar charter — ou seja, o fretamento do veleiro para passeios turísticos ou até mesmo experiências náuticas.
Habituados a receber visitas dentro de casa, o casal entende que é preciso avaliar bem a ideia. Afinal, é preciso lidar com o consumo de água dos novos tripulantes, além da entrada de sal e areia no interior do veleiro. Zé explica que, "[as pessoas] não têm noção que o sal, dentro de casa, é bem prejudicial. À noite, com a umidade, o sal fica líquido, então tudo o que tem sal dentro de casa fica molhado".
Mas confesso que a gente gosta, a gente se amarra, tanto eu como a Aline, a gente adora receber, ter a casa cheia. Mesmo com todo o trabalho, ainda é um prazer", ele finaliza.
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