Como é atravessar a "selva mais perigosa do mundo", entre Colômbia e Panamá
Virou moda, entre viajantes do mundo inteiro, encarar o desafio de atravessar as Américas de ponta a ponta, indo da cidade argentina de Ushuaia até o Alasca, nos Estados Unidos. Este roteiro pode ser feito quase que inteiramente por estradas, exceto em um trecho.
Na fronteira da Colômbia com o Panamá, a região chamada de Tapón del Darién é classificada, por muita gente, como "a selva mais perigosa do planeta". Trata-se de uma área de floresta impenetrável para veículos, o que obriga o motorista a colocar seu carro em uma embarcação para ir passar do território colombiano ao panamenho.
Em suas densas matas, sob um clima extremamente úmido, correm rios bravos, surgem extensos pântanos e circulam traficantes armados que levam cocaína da América do Sul para os Estados Unidos.
Aventura à pé
E, se viajantes não conseguem cruzar este terreno com seus carros, há aventureiros que desbravam o local a pé, como é o caso de Rick Morales (@ricktreks), um entusiasta de passeios na natureza que já esteve no Tapón del Darién no lado do Panamá dezenas de vezes.
As jornadas chegam a durar mais de 10 dias e na região quase não há trilhas na mata.
Geralmente, andamos entre sete e nove horas por dia, em um terreno muito difícil. Há dias em que caminhamos quase 10 horas para percorrer apenas seis quilômetros".
Faz parte da aventura também cruzar grandes rios, com a água chegando ao nível do peito das pessoas.
E, na hora de dormir, é preciso se adaptar ao terreno acidentado: muitas noites são passadas em redes de dormir penduradas em árvores sobre barrancos.
Segundo Rick, são muitos os desafios psicológicos nesta selva. Primeiramente, você fica molhado o dia inteiro, por causa das chuvas, dos rios que são atravessados e do suor causado pelo clima quente e úmido.
E ao final do dia, na hora de dormir, é preciso ter energia para higienizar cuidadosamente o corpo, limpando e esfregando fortemente a pele para evitar a proliferação de possíveis larvas de mosca.
Perigo no mar e bichos
Por estar totalmente fora da rota do turismo de massa, o Tapón del Darién é um lugar que oferece pouquíssima estrutura para o visitante.
Além de se espalhar pelo interior do Panamá, a região abrange humildes vilarejos de pescadores em áreas litorâneas.
E foi no mar bravo que banha o Tapón del Darién que Rick passou um dos momentos mais assustadores de sua vida, ao entrar em um barco pouco confiável para realizar uma travessia.
"Em uma das viagens que conduzi por lá, fazia parte do roteiro pegar um barco para cruzar o mar da área. Mas, quando estávamos no meio do oceano, a embarcação quebrou, nos deixando à deriva. O mar estava muito bravo, com as ondas se chocando violentamente contra nós. Foi uma sensação aterrorizante", lembra.
Além dos perigos da mata e de uma estrutura precária, o Tapón del Darién desafia os visitantes com sua fauna, repleta de animais peçonhentos.
Na floresta, por exemplo, há grande presença de uma espécie de mosca que bota sorrateiramente seus ovos em feridas abertas na pele dos viajantes. As larvas crescem sob a pele e podem gerar diversos problemas de saúde.
"Sempre que montamos acampamento, faço uma varredura ao redor das redes de dormir para ver se há animais perigosos em volta", conta ele, que já se deparou, certa noite, com uma aranha enorme e um escorpião no mesmo local perto das redes. "Mas nunca fomos atacados por algum desses bichos".
Gente - e galhos - perigosos
Rick conta que é preciso saber evitar enchentes de rios, que são frequentes e podem prender seus visitantes no meio da floresta.
Ele lembra, também, que, em épocas de muita chuva, são comuns os chamados "fazedores de viúvas": enormes galhos quebrados de árvores que podem cair a qualquer momento na cabeça de alguém.
O perigo é tamanho que, em todos os roteiros, ele anda com dispositivos de comunicação de emergência, para organizar a evacuação de pessoas eventualmente machucadas no percurso. "Temos planos de evacuação por barco através dos rios da área e até por helicóptero", diz.
E humanos também estão entre os perigos desta selva. Toda a cocaína que sai da Colômbia por terra em direção aos Estados Unidos passa necessariamente pelo Darién. E é uma rota que também tem sido palco para o tráfico de pessoas, que leva imigrantes entre a América do Sul e os Estados Unidos.
O panamenho busca se locomover por regiões da floresta onde há menores chances de encontro com os traficantes.
Você tem que entrar no Darién com um senso de humildade, com o máximo possível de planejamento e sabendo que você não controla aquele ambiente. E, mesmo com todos os protocolos de segurança, problemas podem acontecer".
A recompensa do perrengue
A viagem pela "selva mais perigosa do mundo", porém, não é só feita de desconforto, perrengues e perigos.
Ao desbravar a área, o turista tem chances de visitar praias selvagens e zonas de mata com riachos e aves raras.
Entre os belos lugares indicados por Rick estão uma área chamada Rancho Frío [onde há uma fauna riquíssima com aves coloridas, macacos e preguiças] e o vilarejo litorâneo de Jaqué, cercado por uma linda praia e região de selva e ao redor do qual há uma antiga comunidade afrodescendente.
Além disso, ao lado do vilarejo está o rio Jaqué. É possível subi-lo de barco e visitar comunidades indígenas que vivem na área. E há ainda a praia chamada Playa Muerto, que é muito bonita, além de arquipélagos no meio do mar".
A melhor época para se aventurar no Tapón del Darién é entre janeiro e julho, quando há menor ocorrência de chuvas na região.
Quer se arriscar nesta aventura? Veja mais informações sobre como desbravar a região: https://www.jungletreks.com/
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