Conheça a lenda da Laguna del Inca, uma das paisagens mais lindas do Chile
Nem Charles Darwin se conteve ao ver aqueles picos nevados rasgados por vales profundos, em plena cordilheira dos Andes, a 164 quilômetros de Santiago, no Chile.
Localizado ao lado do posto da aduana, ao final da ziguezagueante estrada Los Caracoles, na fronteira com a Argentina, Portillo é famosa não só por sua estação de esqui, mas também pela icônica lagoa que se estende aos pés de hóspedes e esquiadores.
A Laguna del Inca é um corpo d'água de águas esmeraldas com quatro quilômetros de extensão, a 2.800 metros sobre o nível do mar, protegido pelas altas montanhas andinas. Não é à toa que Portillo significa "caminho estreito entre duas alturas", segundo definição da Real Academia Espanhola.
"Não sei se está à altura dos cenários do Atacama ou da Patagônia, mas a lagoa é um ícone chileno e está entre as dez mais belas paisagens do país. É mágico", descreve para Nossa Alejandro Goich, diretor de marketing da estação Ski Portillo.
Lagoa lendária
Diz a lenda pré-hispânica que, no dia do seu casamento com o inca Illi Yupanqui, a bela Kora-llé morreu ao cair de um daqueles cumes elevados. Seu corpo teria sido deixado em uma lagoa e, quando atingiu o fundo, suas águas ficaram esmeraldas, da cor dos olhos da princesa.
Até hoje dizem que a lagoa é encantada e que, em noites de lua cheia, é possível até ouvir os lamentos tristes do inca. Essa é a história que se conta por ali para explicar os tons das águas dessa formação natural de origem glacial.
Mas nem só de lenda se faz Portillo.
Em sua viagem de volta ao mundo a bordo do navio Beagle, entre 1831 e 1836, Charles Darwin passou quase um mês cruzando os Andes sobre mulas, entre Valparaíso, no Chile, e Mendoza, na Argentina.
Em comparação a outras cadeias de montanhas que visitou, o jovem naturalista britânico ficou impressionado com aqueles "paredões imponentes" e colinas "íngremes e desnudadas", em meio a vales estreitos de Portillo, bem próximos ao Aconcágua, o teto das Américas, com 6.960 metros sobre o nível do mar.
Nessa mesma viagem, Darwin registrou também em seus diários a passagem pelo vizinho Valle del Yeso, onde fica o reservatório de água que virou febre entre turistas brasileiros e, recentemente, foi fechado por conta da instabilidade geológica e falta de segurança para visitantes.
"A excursão me custou apenas 24 dias, e nunca me diverti tanto em igual espaço de tempo", escreveu Darwin. E, pelo visto, a diversão em Portillo continua garantida.
O que fazer na Laguna del Inca
Embora o atrativo esteja em área particular desse icônico hotel amarelo que se destaca em meio à neve, recentemente Ski Portillo inaugurou um mirante, aberto ao público em geral durante todo o ano, com vista única da lagoa, em um espaço construído na estrada, fora do resort.
Já para quem quer se aproximar da Laguna del Inca, o acesso para não hóspedes só fica aberto de outubro a maio, por estar próximo às áreas de chalés do hotel e das pistas de esqui.
E a relação do empreendimento com a atração é tão próxima que, durante a temporada de esqui, a lendária pista "Lake Run" (1.120 metros de extensão) leva esquiadores experientes por caminhos secretos que seguem até o nível da água.
Se a lagoa estiver congelada, algo nem sempre garantido em tempos de aquecimento global, os esquiadores podem inclusive voltar para o hotel esquiando sobre o gelo. Em outra época, era possível até patinar ali, mas a prática foi proibida por questões de segurança.
"A lagoa existe desde que a cordilheira se formou há 60 milhões de anos. Por isso, o hotel está todo integrado à paisagem natural e a lagoa tem vista de todos os lugares, nas pistas, na piscina e em alguns quartos", descreve Alejandro.
Já durante o verão, a Laguna del Inca é aberta também para o público em geral para a prática de caiaque, uma alternativa sustentável para uso recreativo da lagoa sem a necessidade de embarcações motorizadas.
Hotel histórico
Embora seja um empreendimento particular, na província de Los Andes, a duas horas de carro de Santiago, o hotel em si já é considerado o destino, daqueles que souberam preservar seu passado.
"Portillo não é um povoado, é apenas um hotel essencial que faz o hóspede voltar para o essencial", define o diretor de marketing da estação.
Inaugurado em 1949 pelo governo chileno e vendido ao setor privado, em 1961, Portillo é uma das primeiras estações de esqui da América do Sul e tem o público brasileiro como um dos principais clientes, o que representa cerca de 30% da ocupação total do hotel.
Porém registros históricos indicam que a região já atraía esquiadores desde a época da construção do Trasandino, via ferroviária capaz de vencer aquelas encostas íngremes, ligando as cidades de Los Andes, no Chile, e Mendoza, na vizinha Argentina.
Diante dos altos custos de operação e das dificuldades naturais daquela geografia bruta, o "Trasandino" funcionaria até 1984. Aliás, antes de ser hotel, o local abrigava a Estação Portillo, uma das paradas do trajeto, cuja estrutura original é um monumento histórico que, atualmente, funciona como garagem de veículos.
Voltada para esquiadores iniciantes, atualmente, a "Bajada del Tren" (450 metros, aproximadamente) é uma das 35 pistas abertas em Portillo e passa por locais como o túnel usado para a passagem de trens.
Charles Darwin realmente se divertiria tudo outra vez se pudesse voltar.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.