Festa do Boi chega às mesas decoradas em desenhos de artista do Maranhão
Os desenhos se multiplicam à mesa assim como as ideias que não param de surgir — é assim desde menino. Na infância simples, vivida na periferia do Maranhão, não faltou lápis e papel para Romildo Rocha. "Era um jeito da minha mãe ocupar a gente, enquanto trabalhava em casa", lembra. Ainda assim, ele nunca quis ser artista.
Quando conquistou uma vaga na Universidade Federal do Maranhão, nem sabia o que era Desenho Industrial, curso para o qual se inscreveu.
"Eu era um aluno bem ruim. Mas Deus escreve as histórias da forma que quer (risos). Na faculdade encontrei uma professora que deu muita importância ao regional. Íamos muito às comunidades e ela me abriu os olhos para o quanto é importante iconografar nossas tradições", lembra.
Quanto mais Romildo percebia que as pessoas gostavam dessa representação, mais se aprofundava em pesquisar os regionalismos.
"Aprendi que lidar com aspectos culturais e falar das tradições de comunidades que estão ali há tanto tempo exige muita responsabilidade com os detalhes envolvidos."
Antes de ser artista ou designer, ele é um profundo respeitador dessas tradições. "É preciso muito cuidado para falar sobre tambor de crioula, sobre casa religiosa. Toda história precisa ser contada com suas minúcias, para que a comunidade veja um reflexo verdadeiro ali", diz.
Um observador detalhista
Filho de um vaqueiro e de mãe quebradora de coco no interior do Maranhão, Romildo viu os pais migrarem para a cidade como um caminhoneiro e uma dona de casa. Essa transição, ainda assim, envolvia passeios para a roça — e ele arregalava os olhos para captar os detalhes da cena rural.
Dessas memórias ele traz as festas, as brincadeiras, a mescla entre cenas simples tanto no contexto rural como no urbano que estão no imaginário popular às telas, empenas e objetos que desenha.
Pouca gente desenhou mais que eu nesse mundo (risos). Já passei 20 horas riscando sem parar e às vezes acordo de madrugada por um desenho. Estou sempre pesquisando e dentro das comunidades"
Embora hoje sua arte esteja mais colorida, foi pintando em preto e branco que ele começou a despontar ao sair da faculdade.
"Pintava na rua e com esses aspectos de cordel, envolvendo humor e regionalismo. Atualmente estou mais para as telas e viajo fazendo trabalhos como uma empena recente que fiz em São Paulo", conta. Há alguns anos, chamou a atenção de marcas maiores — a mais recente parceria é com a Tok&Stok, com a qual fez a coleção São João.
"A festa do boi, no Maranhão, envolve promessas feitas aos santos e uma história linda, sobre a qual pesquiso e trago para minha arte", aponta, acrescentando que a coleção se esgotou rapidamente em seu estado, tamanho o desejo do brasileiro pelos festejos juninos.
"Romildo se inspira na cultura popular do Maranhão para criar peças que remetem a uma memória afetiva local", comenta Edson Coutinho, gerente de Design e Tendências da marca.
Embora Romildo tenha uma linguagem bem própria, não é a técnica que define seu trabalho. "Para mim é mais interessante a minha narrativa, que vai sempre expressar as brincadeiras, as festas, a cultura, a raiz do brasileiro, sua simplicidade".
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