O 'quarentão' Nike Air Force 1 ainda rende milhões; por que tanto fascínio?
Não é de hoje que tênis se tornam objetos de desejo absoluto — e caríssimos — de tempos em tempos.
Faustão ficou famoso por exibir uma coleção e tanto a cada aparição na TV brasileira com pares da Prada avaliados em alguns milhares de reais, enquanto a Balenciaga criou em pleno 2022 uma versão que se tornou meme e peça de colecionador ao mesmo tempo, o tal "rasgado e sujo" atualmente vendido por R$ 10 mil.
Mas dentre todas as hipervalorizações associadas a um usuário famoso ou a tendências cheias de ousadia, um modelo segue soberano no mundo (dos leilões) da moda: o Nike Air Force 1.
O que ele tem de tão especial? Criado em 1982 por Bruce Kilgore como o calçado ideal para a prática de basquete, ele deveria ter se tornado um tênis sazonal. Ou seja, ele seria substituído ano a ano, por versões atualizadas, o Air Force 2, 3... Trocar de tênis seria como fazer um upgrade no smartphone de sua preferência.
A estratégia não deu certo. O motivo? Ele se tornou, para a Nike, "um fenômeno cultural" — como qualificou o jornal britânico "The Guardian" — e por isso insubstituível. "É o design perfeito por sua simplicidade", justifica Simon Wood, fundador da revista "Sneaker Freaker', especializada em tênis.
Nem por isso a fabricante desistiu da ideia de dar novos vernizes ao Air Force 1. Ele segue hoje quarentão e resistindo ao tempo, mas acumulando muitas iterações que acompanharam tendências, parcerias e momentos históricos do meio fashion. Há dois anos, por exemplo, o Air Force 1 Retro OG Dior, resultado da aliança com a maison francesa, chegou a ser vendido por R$ 160 mil — com fila de espera de 5 milhões de pessoas.
E foram estas edições limitadas que deram aos pares a habilidade de atingir valores estratosféricos para qualquer calçado nos leilões organizados pela prestigiada casa de luxo Sotheby's. Conheça alguns dos recordistas e seu reinado de ouro sob o martelo, além dos preços que eles atingiram no leilão especial de comemoração ao 40º aniversário do tênis, que aconteceu em Nova York esta semana:
Nike x Louis Vuitton Air Force 1
Vendido por: US$ 150,2 mil ou R$ 790,5 mil.
Achou muito? Considere uma espécie de promoção: o modelo já chegou a amealhar US$ 350 mil ou R$ 1,83 milhão no leilão do primeiro par lançado, que teve como objetivo angariar fundos para o Fundo de Bolsas de Estudos Pós-Moderno de Virgil Abloh, seu criador.
"Ele teve a ideia brilhante de casar dois universos opostos — a cultura das ruas e o luxo", opinou ao "Guardian" o jornalista Mathieu Le Maux, autor de "Thousand Sneakers".
Esta poderosa assinatura é, aliás, um dos motivos pelos quais este Air Force 1 vale tanto. Além de levar o logotipo de uma das mais desejadas e luxuosas casas da moda francesa, ele foi concebido pelo designer que estava, até 2021, à frente das coleções masculinas da Vuitton. Abloh, no entanto, morreu em novembro precocemente, aos 41, vítima de um câncer.
Nike x Off White Air Force 1 'University Gold'
Vendido por: US$ 35.280 ou R$ 144,5 mil.
O segundo colocado no leilão "40 for 40" foi justamente outro design de Abloh, mas sob a etiqueta da marca de streetwear que fundou, a Off-White. Já o "Bobbito" que assina o solado da peça é o DJ americano Bobbito Garcia, a quem Virgil Abloh dedicou sua criação como uma espécie de homenagem à importância e ao legado de Garcia à música americana.
Além de ser um apaixonado pelo Air Force 1, ao lado de Stretch Armstrong, o DJ apresentou à cena do hip hop através de seu programa de rádio universitária nomes como Jay-Z e Eminem, quando eles ainda não haviam nem mesmo assinado com gravadoras.
Nike Air Force 1 Low Lux Alligator
Vendido por: US$ 35.280 ou R$ 144,5 mil.
Empatado em preço com o modelo anterior está este tênis tão único que nem parece um tênis: feito com couro de jacaré, ele vale muito justamente pelo ineditismo. Este é um par que não se repete no portfólio de nenhuma marca esportiva.
Produzido ainda nos anos 2000, antes de muitas grifes se comprometerem a deixar de usar peles de animais exóticos, ele é bastante raro hoje — apenas 25 pares foram fabricados e poucos ainda devem estar em circulação. Este detalhe aumenta também o seu preço e a dor de cabeça de quem o possui.
"Se você viaja com eles, tem que levar uma papelada com você a todos os lugares [provando que sua origem é legal]. Isso sobrepõe uma nova dimensão a eles", conta Simon Wood. É que carregar couro de jacaré por aí pode colocar o usuário em apuros com as autoridades de proteção animal em alguns países.
Nike Air Force 1 Low Retro Ekin Sample
Vendido por: US$ 21.420 ou R$ 112 mil
Este é histórico para fãs da marca. "Ekin" significa Nike ao contrário, uma gíria dentro da empresa que significa o conhecimento "de trás para frente e de frente para trás" que os seus experts têm para criar os tênis. Segundo o jornal britânico, os funcionários Ekins são tão dedicados à Nike que costumam tatuar o logo ao contrário.
Este modelo foi produzido em 2019 em homenagem justamente a esta paixão à arte por trás dos sapatos.
Air Force 1 Shady Records
Vendido por: US$ 21.420 ou R$ 112 mil
Temos aqui um novo empate — e uma nova estrela por trás destes AF1s. Lançados em 2003, eles são parte de uma coleção limitada para celebrar o quinto álbum de Eminem, "Encore". No entanto, eles são mais raros e considerados ideais por puristas.
O motivo para o primeiro é que apenas membros da equipe, dos amigos e familiares do rapper receberam um par deste na época. Já o segundo — o fato de a peça ser "ideal" — tem a ver com o fato de ele respeitar a estética original do AF1, que geralmente é totalmente branco.
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