Artesão resgata histórias do Cariri com esculturas que viajam o mundo
Aos 12 anos, Din Alves já lixava peças de madeira para os outros. Cresceu ouvindo as histórias que fazem parte da cultura do Cariri e via, encantado, passarem os penitentes na Semana Santa, os paus de arara de setembro a fevereiro, e gente arrumada para as quermesses em junho e julho. Um calendário de memórias alimentava sua mente ano após ano.
Até que em 2000, em meio à efervescência de artistas de seu bairro, ele se arriscou a entalhar a madeira dando formato a essas lembranças. Graças a isso vemos materializados os penitentes, o reisado de máscaras de Potengi, o pau da bandeira e outras histórias que parecem estar se acabando no Nordeste.
"O meu trabalho busca esse resgate para que ninguém esqueça dessa cultura que é tão forte para nós", conta Din.
Naquele começo de carreira, no entanto, ninguém queria comprar suas peças. Nossa Senhora expressiva, Luiz Gonzaga — seu carro-chefe — e muitos detalhes ficavam na estante, sem reconhecimento.
Quinze anos depois, quando elas foram parar num programa de TV e numa novela global, foi um estouro. Vieram compradores e colecionadores — seu público mais fiel — pra nunca mais empoeirar escultura nenhuma no ateliê.
"Já tive exposição em vários museus do Brasil e no Palácio do Planalto", diz ele, quase no fim da entrevista.
Para ele, afinal, o que importa mesmo é trabalhar, e não ostentar feitos assim. "Em Juazeiro a tradição de escultores passa de geração para geração. A escultura mudou minha vida, não faltam encomendas e vivo só disso", conta, enquanto arrumava o carro para sair para uma feira.
O sonho mesmo é chegar onde suas peças já estão, a Europa. "Tenho escultura em um museu na Áustria e em Portugal, numa exposição que vai inaugurar agora. Um dia vou eu, em pessoa", ri.
Inspirações
"Minha infância"
Tudo o que crio vem do meu cotidiano quando era criança e até hoje. Busco trazer as brincadeiras antigas, um menino puxando o outro numa caixa, coisas simples. As memórias dessa época de festejos também. É uma época em que trabalho muito, aliás."
"Não tive estudo, mas estudo muito"
"Fiz só até a quarta série. Mas estudo um bocado de referências para entender as histórias dos penitentes e dos mascarados. Só estudando a pessoa faz a peça adequada, do jeito que tem que ser."
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