Gaultier põe silhueta de grávida na passarela em meio a debate sobre aborto
A Alta-Costura para o outono/inverno 2022-2023 de Jean Paul Gaultier trouxe às passarelas da Semana de Moda de Paris o já habitual tom provocador da maison, mas com uma agenda carregada de questões políticas e sociais.
Assinada pelo estilista convidado Olivier Rousteing, que também é diretor criativo da Balmain, a coleção trouxe dois corsets — que mais lembravam armaduras — com a silhueta de grávidas em meio ao atual debate sobre o aborto, um direito que foi revogado pela Suprema Corte americana no último mês e que poderá ser incorporado à Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia.
"Hoje, falamos sobre diversidade, falamos sobre inclusividade, sobre rompimento de barreiras e sobre a ausência de gêneros. Jean Paul foi o primeiro a [iniciar a conversa]. Precisamos lembrar as pessoas que muitas das lutas que lutamos hoje, ele estava lá para lutá-las primeiro", disse Rousteing à Vogue britânica em uma apresentação prévia da coleção a convidados.
Ele reverenciou o compromisso do fundador com questões sociais na moda e manifestou não só sua intenção em homenageá-lo, como em recuperar este espírito na coleção que assinou.
Obviamente, eu criei a coleção muito antes do que está acontecendo agora com o aborto [nos EUA], mas acho que é importante falar sobre as mulheres neste momento." Frisou Olivier Rousteing.
Nos processo de criação das novas peças, o diretor criativo da Balmain recuperou o arquivo de Gaultier — suas técnicas, fases e sua jornada fashion.
Rousteing olhou com mais afinco para o trabalho do fundador nos anos 90: ele trouxe de volta à passarela não só uma releitura de Madonna com os seios nus no desfile da grife de 1992, como o icônico sutiã em formato de cone usado pela cantora na turnê Blond Ambition de 1990.
O retorno aos anos 90 também foi visto na recuperação da coleção de primavera 1994 com referências à cultura africana. "Aquela coleção era inspirada por etnias, diversidade, inclusividade e pelo não-binário. Para mim, crescendo com ascendência etíope e somaliana, Jean Paul era alguém que colocava muita inclusividade na moda", relembrou ainda à Vogue UK,
Segundo o WWD, Olivier Rousteing trouxe cerca de 200 croquis ao estúdio de Jean Paul Gaultier, que ele depois revisou junto aos arquivos da própria maison para fazer suas alterações finais.
Tanto trabalho visava contemplar releituras tanto dos perfumes criados pelo veterano — o vidro da fragrância Le Male se tornou um corset de vidro na passarela — assim como o cilíndrico metálico da embalagem foi parar em botas e saias. O trabalho em vidro foi realizado com a ajuda de artesãos que atualmente trabalham na restauração da Notre-Dame de Paris.
"Foi uma carta de amor aberta ao Jean Paul. Quando eu era criança, ver meu pai, um homem heterossexual, com um vidro de Le Male nas mãos — um corpo masculino nu com um top — era algo como 'uau'", relembrou. Toda a concepção das peças levou um total de quatro meses, mas o fundador da grife fez questão de não participar — ele queria ver o resultado apenas na passarela.
Apesar da forte influência de Gaultier no trabalho de Rousteing, foi possível ver peças que remetiam ao seu trabalho na Balmain, com silhuetas maximalistas e estruturadas. No entanto, ele acredita que a experiência o tenha libertado da identidade visual da casa que comanda, especialmente pelos trabalhos mais aprofundados com a alfaiataria.
"Minha femininidade aqui é diferente da Balmain. Minha garota é mais forte. Não acho que 'glamour' será a palavra utilizada para esta coleção", concluiu ainda ao site especializado.
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