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'Calvão de cria': corte de cabelo para ficar calvo viraliza entre os jovens

Com mais de 110 milhões de visualizações no TikTok, corte de cabelo que reproduz a calvície se tornou uma tendência - Arquivo Pessoal/Márcio Campos
Com mais de 110 milhões de visualizações no TikTok, corte de cabelo que reproduz a calvície se tornou uma tendência Imagem: Arquivo Pessoal/Márcio Campos

De Nossa

15/07/2022 04h00

A mesoterapia capilar, técnica utilizada para tratar a queda de cabelo crônica, é o tratamento estético campeão em buscas pelo público masculino no Brasil atualmente. No país, 42 milhões de brasileiros, em seu total, têm calvície. Ambos os dados, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e da Sociedade Brasileira de Cabelo, esbarram inesperadamente em uma nova tendência: o corte de cabelo que reproduz o visual calvo.

Só no TikTok, o termo "calvão cria" soma mais de 1 bilhão de visualizações. No Instagram, basta usar a hashtag com as mesmas palavras para encontrar diversos jovens com os cabelos raspados só no centro do couro cabeludo. "Velho da lancha tá on", escreve um profissional ao lado do cliente adolescente com fios curtos cobrindo só as laterais da cabeça.

Enquanto há dois anos, o excesso de cabelo nas nucas, conhecido também como mullets, renascia dos anos 1990 e dominava o penteado dos jovens — embora de uma tribo completamente diferente, agora a moda é o chavoso "calvão de cria". Nas redes, barbeiros do Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo já compartilham suas criações. Alguns deles se referem ao sucesso como um "processo de aceitação".

A dominação vai ainda além. Ao que tudo indica, a Europa também se prepara para ser tomada pela tendência.

Com "tudo indica" me refiro a Marcio Campos, o primeiro a engajar no TikTok com uma publicação mostrando seus clientes com o corte de cabelo. O vídeo beira aos 4 milhões de visualizações.

"Calvão virou uma tendência", conta o barbeiro, de 27 anos, em entrevista para Nossa. "Tem gente vindo de Portugal falar comigo, dizendo que vai lançar o corte lá também. Páginas dos Estados Unidos estão compartilhando fotos e vídeos."

"Acredito que o 'calvão' e as 'entradas de cria' já viraram uma tendência. Tá estourado", completa ele, se referindo ao outro corte em que as entradas na testa são acentuadas pela máquina de barbear.

"Calvão de cria" iniciou seu sucesso em salão na cidade de Três Passos, no Rio Grande do Sul - Arquivo Pessoal/Márcio Campos - Arquivo Pessoal/Márcio Campos
"Calvão de cria" iniciou seu sucesso em salão na cidade de Três Passos, no Rio Grande do Sul
Imagem: Arquivo Pessoal/Márcio Campos

Com o sotaque gaúcho carregado, Marcio diz ter assumido o próprio negócio, a Vikings Barber Shop, há relativamente pouco tempo, embora já tenha iniciado a carreira há um período maior: "Eu sou barbeiro, meu velho, já vai pra mais de 4 anos", relembra ele. "E faz mais de dois anos que tenho a Vikings Barber Shop, minha própria barbearia."

Foi neste estabelecimento que a tendência dava os seus primeiros passos. Ou melhor, perdia os primeiros fios e ganhava os milhões de views. Márcio conta que tudo começou a partir de uma foto na internet: "O guri viu a imagem e veio com os amigos até a barbearia para concretizar o corte. Eu fiz e filmei. À noite postei e viralizou dessa maneira".

O termo "calvão de cria", originalmente nomeado e popularizado, é tão objetivo quanto o movimento da máquina que abre círculo ao couro cabeludo. O nome surgiu enquanto ele trabalhava, entre conversas e risadas, no cabelo de um deles: "Estávamos fazendo, conversando, dando risada e quando foi finalizado, ficou o 'calvão'", situa.

"A parte de cima simula a calvície, então 'calvão', e 'cria' porque os guris são naturais daqui de Três Passos", explica ele sobre a gíria utilizada para designar quem nasceu na cidade em que mora.

Ao ser questionado sobre os motivos para o sucesso, o barbeiro do Rio Grande do Sul elenca dois pontos cruciais: algo diferente e que não passa despercebido: "É uma coisa bacana. Não tem aonde ir com esse corte que não chame a atenção", afirma. "A gurizada quer chegar chegando e na estilera".

Na sua percepção, que compreende também a administração das redes sociais da barbearia, Marcio diz existirem mais comentários bons do que críticas. "A molecada quer fazer. Escrevem 'vamos lançar'. Marcam os amigos".

Cobrando hoje R$ 25 pelo corte, ele diz ainda que o efeito do sucesso atinge mais do que a "gurizada": "Não só eles, os mais velhos também estão se aceitando com calvície. Ficar bem, de boa".

"Sempre tem alguém que não vai gostar, mas isso é mais tranquilo", conclui ele, que recentemente também conquistou o público feminino com o "calvície de cria".

Do outro lado da cadeira, os motivos para aderir ao corte incluem a originalidade, mas também pertencimento. Com sobrenome Korte, Douglas Felipe, de 17 anos, é um dos adeptos da tendência. Assim como os que lançaram a moda, o estudante conta que estava na casa de um amigo, junto a outros, quando viu a imagem nas redes sociais e decidiram ir até o salão.

Douglas Felipe Korte, de 17 anos. Um dos adeptos do "calvão de cria" - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Douglas Felipe Korte, de 17 anos. Um dos adeptos do "calvão de cria"
Imagem: Arquivo Pessoal

"Começamos a desafiar um ao outro a fazer o corte. Daí todo mundo começou a dizer que se o outro fizesse iria fazer também", diz ele para Nossa.

Assim, a aposta virou uniforme entre os amigos. Do lado de fora da roda, a receptividade foi "de boa": "Várias pessoas acharam que depois de cortar o cabelo eu só andaria de touca ou boné... Pelo contrário. Eu saía sem esconder o meu corte novo".

"Geral ficava rindo de mim, mas daí eu entrava na brincadeira e começava a rir junto", relembra Douglas, afirmando ainda uma admiração, por outra parte. "Tinha também muitas pessoas que pediam para tirar foto comigo."

Igualmente atento ao que bombava nas redes sociais, Pablo Romenio, de 20 anos, viu as publicações na internet e quis entrar na mesma onda. "Eu já estava com essa ideia na cabeça, até que um dia eu já acordei indo na barbearia para lançar o 'calvão de cria'. Na hora ninguém acreditou", diz para Nossa.

Pablo Romenio, de 20 anos, adotou o visual de "calvão de cria" - Reprodução/@mytchellsii - Reprodução/@mytchellsii
Pablo Romenio, de 20 anos, adotou o visual de "calvão de cria"
Imagem: Reprodução/@mytchellsii

O imediatismo talvez não tenha sido a melhor escolha, como ele relembra: "Fui tão empolgado que nem falei com minha mãe. Fiquei quase duas horas na cadeira para chegar em casa e ela mandar voltar na barbearia para passar a máquina zero".

"Assim que cheguei, ela mandou eu escolher: ou 'raspa a cabeça ou dorme na rua'". Sua escolha, não surpreendentemente, foi ter onde dormir.

Sobre o sucesso, o ex-"calvão de cria" opina: "Esse corte está fazendo tanto sucesso porque os jovens de hoje em dia estão querendo andar igual coroa (risos)". Ainda assim, em suas palavras, é a promessa da temporada: "Vai ser tendência para o verão 2023".

O momento é dos calvos.