Lendário Expresso Oriente quer resgatar sua magia original; veja a história

Pouco mais de um ano após o retorno do Expresso Oriente às estações europeias por temporadas limitadas, o trem já tido como o "mais luxuoso do mundo" anunciou um reforço de sua circulação nas principais capitais do Velho Continente em 2024, para as Olimpíadas de Paris, com 17 de suas carruagens originais.

Eternizado pela escritora Agatha Christie no livro "Assassinato no Expresso Oriente", publicado em 1934, e mais tarde em sua versão cinematográfica com Lauren Bacall e Albert Finney em 1974, o trem evoca não só o charme de outras eras e do serviço que encantou políticos, aristocratas e grandes estrelas, como também a magnitude de carruagens que ligavam lados opostos do planeta.

Relacionadas

Ruínas de antigo hospital são atração macabra em ilha no meio de Nova York

De anarquistas a antifascistas: a arte política nos muros de vila italiana

Renovado, 1° hotel de Londres 'inaugurou' o telefone em 1876. Conheça

O anúncio foi feito pelo grupo Accor, que detém hoje direitos parciais sobre a marca "Orient Express". Os primeiros nove dos 17 trens deverá receber ter sua decoração revelada até dezembro de 2022, enquanto o restante será divulgado gradualmente até o início de 2024, quando a operação deverá ser retomada em tempo para os Jogos na França.

Segundo a companhia, os trens em questão foram encontrados em 2015 pelo historiador francês Arthur Mettetal, que trabalhava para o serviço nacional de trens da França (SNCF), e estavam abandonados em uma estação de trem remota entre Belarus e a Polônia.

As carruagens teriam sido fabricadas nos anos 20, e, em 2018, foram devolvidas ao território francês para que se iniciasse sua restauração.

Os trens recuperados consistem em doze vagões-dormitório, um vagão-restaurante, três lounges e uma van e preservam painéis em vidro Lalique e design Art Déco.

As obras neles começaram efetivamente em dezembro de 2021 e são conduzidas pelo arquiteto Maxime d'Angeac. Apesar de uma rota não ter sido definida, o ponto de partida e o destino dos restaurados seguirão os mesmos já tradicionais do Expresso: de Paris a Istambul.

"Das porcas e parafusos estampados com a assinatura do Expresso Oriente ao conceito inovador das suítes, [a aplicação de] uma ciência exata nos detalhes permitirá que os viajantes redescubram o esplendor do Expresso Oriente. Ele foi entregue aos melhores artesãos e decoradores especializados em áreas singulares", garantiu o arquiteto à revista "Travel and Leisure".

Ele será fiel [como] a arte da alfaiataria. Será uma experiência de viagem incomparável, imaginada com uma visão contemporânea de conforto e luxo extremo." Prometeu o arquiteto Maxime d'Angeac.

Ainda de acordo com a publicação, os trens terão três tipos de suítes, incluindo uma presidencial que deve ocupar um vagão inteiro, e cada uma delas contará com seu próprio banheiro.

Um chef deverá ser escolhido até a inauguração da nova rota, mas a equipe de historiadores já avalia antigos menus do Expresso como inspiração. O último vagão comum funcionará como um salão de performance e eventos e terá decoração inspirada por jardins de inverno.

Por que o Oriente Express é tão inesquecível?

O Expresso Oriente original começou suas viagens em 1883 ligando Paris a Constantinopla — hoje conhecida como Istambul, na Turquia.

Ao longo de décadas, suas rotas sofreram alterações e contaram um pouco da história da geopolítica mundial. Por exemplo, em 1914, o serviço do Expresso Oriente foi interrompido por causa da Primeira Guerra Mundial e só pode ser retomado em 1918.

Em 1919, tentando recuperar seu fôlego, ele criou uma nova rota passando pelo recém-inaugurado Túnel do Simplon, entre Suíça e Itália, rumo a Constantinopla.

Assim, iniciou-se o serviço Simplon Orient Express que, após deixar Paris, passava por Lausanne, na Suíça; Milão, Veneza e Trieste na Itália; e Zagreb, na antiga Iugoslávia (atual território da Croácia), para se reencontrar com seus trilhos originais em Belgrado, hoje Sérvia, então também cidade iugoslava.

Nas décadas de 20 e 30, o serviço viveu seu apogeu e foi incorporado definitivamente ao imaginário do luxo na Europa através tanto da obra de Agatha Christie quanto de filmes como "Os Homens Preferem as Loiras" (1953) com Marilyn Monroe.

Ele se manteria ativo nas décadas seguintes, mas o prestígio, aos poucos, foi se deslocando aos céus com a ascensão da aviação comercial após a Segunda Guerra.

O Expresso Oriente deixou de operar, em etapas que atingiram diferentes trechos, entre 1962 e 1977. No entanto, nos anos 1980, dois empresários tentaram retomar cada um rotas diferentes do famoso trem: o Venice-Simplon-Orient-Express e o Nostalgie-Istanbul-Orient-Express, mas a empreitada não sobreviveu aos anos 90.

Em 2021, a empresa de hotelaria Belmond, que detém a outra porção da marca, trouxe de volta o Venice-Simplon. Agora, serão os carros do Nostalgie-Istanbul que voltarão a circular.