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É do Brasil! Cânions do Sul do país não devem em nada a cenários gringos

Eduardo Vessoni

Colaboração para Nossa

23/07/2022 04h00

No alto, na borda de abismos que despencam a quase mil metros de altura, fica o Rio Grande do Sul; logo abaixo, é Santa Catarina. E entre os dois estados, uma dúvida: afinal, onde ficam os cânions mais famosos do Sul do Brasil?

Entre o litoral catarinense e os Campos de Cima da Serra, no Rio Grande do Sul, uma extensa cadeia de montanhas abriga 250 quilômetros de bordas de cânions que podem ser vistos tanto por cima quanto no interior deles — como no Arroio do Leão, destino do programa 'Cozinha por aí' no vídeo que abre esta reportagem.

"Como não temos rios de grandes extensões, uma linha seca [imaginária] divide os dois estados. O interior dos cânions pertence a Santa Catarina e, na parte superior, fica o Rio Grande do Sul", explica para Nossa Roni Biitencourt, condutor de trilhas e proprietário da agência Cânions Gerais.

A gaúcha Cambará do Sul, a quase 200 quilômetros de Porto Alegre, e a vizinha Praia Grande (SC), a 40 quilômetros dali, são as cidades que servem de base para quem visita os dois clássicos da região, os cânions dos parques nacionais Aparados da Serra e o da Serra Geral.

Mas isso não é tudo nessa região que, em 2022, foi reconhecida pela Unesco como um território de relevância geológica internacional e passou a integrar a Rede Global de Geoparques.

Cânion de Itaimbezinho - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Cânion de Itaimbezinho
Imagem: Getty Images/iStockphoto

A viagem por esses gigantes do Sul do país segue também por outros destinos serranos de Santa Catarina, como Bom Jardim da Serra, cidade sobre a vertiginosa Serra do Rio do Rastro, e Urubici, onde é possível até se balançar nos famosos balanços gigantes com vista única das montanhas.

Cânion Espraiado, em Urubici - Robson Nunes Costa/@rob.zera - Robson Nunes Costa/@rob.zera
Cânion Espraiado, em Urubici
Imagem: Robson Nunes Costa/@rob.zera

Veja atrativos nos cânions para cada perfil de visitante:

No Rio Grande do Sul

Duas opções para iniciantes

Trilha do Mirante, no Cânion Fortaleza - Eduardo Vessoni - Eduardo Vessoni
Trilha do Mirante, no Cânion Fortaleza
Imagem: Eduardo Vessoni

As trilhas mais fáceis de Cambará do Sul, a Terra dos Cânions, são feitas na parte superior de dois parques nacionais: o Aparados da Serra e o Serra Geral.

A 18 quilômetros da cidade, o primeiro abriga o Cânion Itaimbezinho, que pode ser visto do alto em duas trilhas com baixo grau de dificuldade e equipadas com mirantes de observação, como a Trilha do Vértice (1,5 quilômetros, ida e volta) e a Trilha do Cotovelo (6 quilômetros).

Trilhas no Itaimbezinho levam a mirantes com vista para cachoeiras e cânions - Getty Images - Getty Images
Trilhas no Itaimbezinho levam a mirantes com vista para cachoeiras e cânions
Imagem: Getty Images

Já o Parque Nacional da Serra Geral fica a 23 quilômetros de Cambará e guarda o imponente Fortaleza, cânion que também pode ser explorado por cima, nas trilhas do Mirante (3,4 quilômetros e dificuldade média), com destaque para o ponto mais largo entre uma borda e outra do cânion), e na Trilha Pedra do Segredo, uma caminhada cênica de 2,4 quilômetros que passa sobre a cachoeira do Tigre Preto.

Pôr do Sol no Cânion Fortaleza, no Rio Grande do Sul - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Pôr do Sol no Cânion Fortaleza, no Rio Grande do Sul
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Ambas são autoguiadas e não exigem agendamento prévio. Já a Borda Sul (9 quilômetros, ida e volta) é uma trilha de nível moderado e contempla todas as caminhadas superiores do cânion Fortaleza, como a da Pedra do Segredo e a do Mirante.

Para mais informações, acesse o site da concessionária responsável pela administração de ambos parques: www.canionsverdes.com.br

Do alto do balão

Voo de balão, em Cambará do Sul - Roni Bitencourt - Roni Bitencourt
Voo de balão, em Cambará do Sul
Imagem: Roni Bitencourt

Fazer um voo de balão em Cambará do Sul é daquelas experiências que colocam a monumentalidade da região aos pés do visitante. Atualmente, o destino conta com três balões para passeios panorâmicos com até 20 pessoas e com duração entre 45 minutos e uma hora. O roteiro passa sobre mata de araucária e tem pouso próximo ao Parque Nacional Aparados da Serra, onde fica o cânion Itaimbezinho.

"Por questões de segurança, não é possível sobrevoar próximo às fendas dos cânions, mas se consegue ter mais visual da natureza do que nos voos que saem de Praia Grande (SC), que são sobre lavouras de arroz", compara Roni Bittencourt.

Voo de balão, em Cambará do Sul - Roni Bitencourt - Roni Bitencourt
Voo de balão, em Cambará do Sul
Imagem: Roni Bitencourt

Entre as experiências imperdíveis, esse piloto de balão recomenda o voo da tarde, favorecido pela luz do sol que ilumina as encostas do cânion Fortaleza, no Parque Nacional da Serra Geral.

Seja qual for o horário escolhido, o passeio sempre termina com o tradicional brinde de espumante servido após o pouso do balão em local nem sempre possível de prever, pois por ali quem dá a direção exata são os ventos.

Vai lá também >>

Voo de balão em Cambará do Sul.Saídas diárias, de acordo com as condições climáticas R$ 580 por pessoa, incluindo seguro e traslado da pousada até o ponto de decolagem

Passeio a cavalo

Cavalgada no Cânion Pinheirinho - Guia Aparados da Serra - Guia Aparados da Serra
Cavalgada no Cânion Pinheirinho
Imagem: Guia Aparados da Serra

Essa atividade acontece no Pinheirinho, cânion com cerca de 4 quilômetros de extensão em área particular de Cambará do Sul, às margens do Parque Nacional da Serra Geral, de onde se tem vista para o mar.

Conhecida como uma das únicas do Brasil a beira de um cânion, a cavalgada de 16 quilômetros (ida e volta) tem duração de 3 horas, aproximadamente.

Vai lá também >>

Cavalgada no Cânion Pinheirinho. Diariamente, às 9h e 14h R$ 235 por pessoa (inclui guia, seguro de trilha e cavalo)

Santa Catarina

Trilhas por dentro dos cânions

Trilha do Tigre Preto, no interior do Cânion Fortaleza - Eduardo Vessoni - Eduardo Vessoni
Trilha do Tigre Preto, no interior do Cânion Fortaleza
Imagem: Eduardo Vessoni

As caminhadas anteriores até parecem suficientes para quem quer conhecer a maior concentração de cânions da América Latina. Mas é dentro desses cânions que a gente tem ideia da imponência desses imensos paredões rochosos.

Sem dúvida, a mais impactante delas é a Trilha do Rio do Boi, que segue pelo leito do rio que cruza o interior do Itaimbezinho, cujas paredes se erguem até 720 metros de altura.

A Trilha do Rio do Boi permite ver o cânion Itaimbezinho 'debaixo' - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
A Trilha do Rio do Boi permite ver o cânion Itaimbezinho 'debaixo'
Imagem: Getty Images/iStockphoto

De dificuldade alta e com 12 quilômetros de extensão (ida e volta), tem cruzamento de rio, passagens por área de mata fechada e muita pedra solta como obstáculo, tudo recompensado por banhos em cachoeiras ao longo da travessia.

O Cânion Fortaleza, o mais extenso (7,5 quilômetros) e o mais profundo (980 metros), também pode ser visto por dentro, na trilha do Tigre Preto (18 quilômetros, ida e volta). Considerada uma das mais selvagens da região, essa caminhada tem passagens pela água e terreno rochoso que deixa a trilha mais exigente.

Trilha do Mirante, no Cânion Fortaleza - Eduardo Vessoni - Eduardo Vessoni
Trilha do Mirante, no Cânion Fortaleza
Imagem: Eduardo Vessoni

Para quem tem dúvida na hora de escolher uma delas, já que ambas tem visual e grau de dificuldade similar, vale lembrar que na do Rio do Boi se tem vista mais ampla dos cânions. Já a Tigre Preto é por mata virgem fechada que nem sempre faz a gente lembrar que está entre paredões.

Com acesso por Praia Grande e Jacinto Machado (SC), as trilhas só podem ser feitas com agendamento prévio e acompanhamento de guia cadastrados.

Entre paredões e piscinas naturais

Cânion Malacara - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Cânion Malacara
Imagem: Getty Images/iStockphoto

O município de Praia Grande é o ponto de partida para o Cânion Malacara, no Parque Nacional da Serra Geral. Nessa espécie de Trilha do Rio do Boi em miniatura, com cruzamento de rio e tudo, o visitante percorre 6 quilômetros no interior da fenda desse cânion de rochas vulcânicas e paredões de até mil metros de altura.

O destaque dessa caminhada mais leve são as águas cristalinas das piscinas naturais abertas para banho. A atividade só pode ser feita com o acompanhamento de um guia.

Cachoeiras e balanços de Urubici

Cânion Espraiado, em Urubici - Robson Nunes Costa/@rob.zera - Robson Nunes Costa/@rob.zera
Cânion Espraiado, em Urubici
Imagem: Robson Nunes Costa/@rob.zera

Urubici, a 170 quilômetros de Florianópolis, e Bom Jardim da Serra, a 230 quilômetros da capital, são os municípios de acesso para quem vai visitar os cânions da região da Serra Catarinense.

A 35 quilômetros de Urubici fica o Cânion Espraiado, um dos mais profundos da região, cujo destaque é a Cachoeira do Adão (87 metros de altura), com acesso por uma trilha autoguiada até as piscinas naturais na parte superior ou por trilha com acompanhamento de guia até o pé da queda.

O Espraiado é conhecido também pelo Balanço do Infinito, o primeiro de Urubici, a 591 metros de altitude, na Montanha Infinita. Nesse equipamento, o visitante se balança em uma estrutura de cerca de seis metros de altura.

Balanço do Infinito, no Cânion Espraiado, em Urubici (SC)  - @rob.zera/Divulgação - @rob.zera/Divulgação
Balanço do Infinito, no Cânion Espraiado, em Urubici (SC)
Imagem: @rob.zera/Divulgação

Já Bom Jardim da Serra, cidade logo após a subida da Serra do Rio do Rastro, abriga os cânions das Laranjeiras, o maior da região (5 quilômetros de extensão), no Parque Nacional de São Joaquim; o do Funil, famoso pelas formações rochosas pontiagudas; e o da Ronda, fenda de fácil acesso que pode ser combinada com visita ao parque eólico da cidade.

Cânion do Funil - Michel Teosin - Michel Teosin
Cânion do Funil
Imagem: Michel Teosin

Cânion particular

O Arroio do Leão, fenda no município de Alfredo Wagner, a 110 quilômetros de Florianópolis, fica em área particular, onde o próprio dono costuma guiar visitantes.

Com paredões rochosos de até 25 metros esculpidos pelo arroio que dá nome à atração, esse pequeno cânion pode ser visitado em uma trilha molhada no interior dessa pequena fenda que abriga também uma cachoeira.

Arroio do Leão - Reprodução Instagram - Reprodução Instagram
Arroio do Leão
Imagem: Reprodução Instagram

Interestadual

Os mais dispostos podem ver vários cânions numa longa caminhada pela parte superior da Serra Velha ao Pico do Monte Negro. De Cambará (Panará) a São José dos Ausentes (Rio Grande do Sul), a expedição organizada pelo Trekking Terra dos Cânions margeia as bordas de abismos sobre um mar de montanhas, naturalmente, aparadas, daí o nome Aparados da Serra.

Grupo descansa na travessia de cinco dias de trekking pelos cânios - Divulgação - Divulgação
Grupo descansa na travessia de cinco dias de trekking pelos cânios
Imagem: Divulgação

Durante os cinco dias de trekking, o roteiro passa pelos cânions da Rocinha, do Amola Faca, do Realengo, da Boa Vista e da Coxilha, e a hospedagem é feita em campings selvagens e em pousadas rurais. Embora a caminhada de 70 quilômetros seja de nível puxado, os participantes contam com carros de apoio ao longo da travessia.

Saiba quando ir
Verão ou inverno?

Massa de ar quente no Itaimbezinho - Lucas Ninno/Getty Images - Lucas Ninno/Getty Images
Massa de ar quente no Itaimbezinho
Imagem: Lucas Ninno/Getty Images

Embora sejam destinos para o ano inteiro, é preciso ter em conta que o verão é marcado por um fenômeno conhecido como "viração", quando a massa de ar quente do litoral se encontra com a umidade da serra, provocando uma forte neblina que pode impedir a observação dos cânions.

Já nos meses de inverno, as temperaturas são mais amenas, porém as águas em cachoeiras e rios não convidam para banhos. Para quem vai fazer as trilhas nos interiores dos cânions, procure se informar previamente sobre possibilidades de chuvas, que podem encher os rios e impossibilitar as travessias de rios.

O perfil do turista que visita a região de Cambará varia de acordo com a época do ano. Enquanto famílias preferem viajar com crianças na alta temporada (julho e agosto), os mais aventureiros costumam visitar a região nos outros meses do ano.

Cozinha por aí
2ª temporada!

Cozinha Por Aí - Gruta do Poço Certo - UOL - UOL
Serra Catarinense: turismo por Alfredo Wagner e Urubici
Imagem: UOL

Inverno é sinônimo de viagem, serra, cachoeira e natureza. E também pede receitas quentes, práticas e saborosas para dividir com a família e amigos. A série Cozinha por Aí reúne todos esses atributos. Assista toda semana um novo episódio aqui no Canal UOL e no YouTube de Nossa (e se inscreva já no canal para receber os lembretes dos novos vídeos).