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Revitalizada, vizinhança de Machado de Assis e Portinari ganha hotel no Rio

As coloridas casas neocoloniais compõem o Largo do Boticário, no bairro do Cosme Velho, no Rio - Divulgação
As coloridas casas neocoloniais compõem o Largo do Boticário, no bairro do Cosme Velho, no Rio Imagem: Divulgação

De Nossa

28/07/2022 14h52

O Largo do Boticário, vizinhança histórica do escritor que é tão "pai" da Academia Brasileira de Letras quanto de Capitu — Machado de Assis —, foi completamente revitalizado e agora abriga um novo e moderno hotel em seu complexo de casas coloridas e neocoloniais.

Mas mais do que isso, o reduto no Cosme Velho mantém em seu cerne uma rica história que se encontra com a do famoso "Bruxo" da Literatura Brasileira.

O beco e seu largo sobre o rio Carioca, rodeado por Mata Atlântica, recebeu este nome em homenagem a Joaquim Luís de Silva Souto, um boticário — uma espécie de farmacêutico conhecedor de ervas e especiarias naturais — que tinha um estabelecimento na rua Direita, hoje conhecida como rua Primeiro de Março e se mudou para a vizinhança em 1831.

O bem-sucedido profissional tinha entre seus clientes ilustres a família real e, em 1846, o marechal Joaquim Alberto de Souza Silveira, um frequentador da corte e padrinho de batismo de Machado de Assis, segundo o jornal O Estado de São Paulo.

Mas não é só por isso que o Largo é tão importante para a história do Rio. Nos anos 20, a família de Edmundo Bittencourt, fundador do Correio da Manhã, comprou um terreno ali e começou a construir as tais casinhas coloridas, em estilo neocolonial — de acordo com o Guia da Arquitetura Eclética no Rio de Janeiro.

As coloridas casas coloniais compõem o Largo do Boticário, no bairro do Cosme Velho, no Rio - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Em uma delas, ele chegou a ter a visita de Walt Disney, que teria concebido ali a ideia para o Grilo Falante.

Entre 1928 e 1941, o Largo viveu um período de grande efervescência cultural, quando o diplomata e colecionador de arte Rodolfo da Siqueira se mudou para a casa que pertenceu ao padrinho de Machado. Em 1929, ele receberia como hóspedes ali os futuros reis britânicos Edward 8º e George 6º, tio e pai da rainha Elizabeth 2ª respectivamente.

Portinari, inspirado por suas visitas ao Largo, teria pintado ali diversos quadros. As casas da vizinhança, entre elas a do artista plástico Augusto Rodrigues, agora recebiam uma nova geração de expoentes das artes brasileiras: Manuel Bandeira, Oscar Niemeyer, José Lins do Rego, Tarsila do Amaral e o arquiteto francês Le Corbusier frequentavam o espaço.

Jo&Joe Rio de Janeiro, no Largo do Boticário - Divulgação - Divulgação
Jo&Joe Rio de Janeiro, no Largo do Boticário
Imagem: Divulgação

Lucio Costa, o criador de Brasília, chegou a assinar as reformas de diversos endereços do Boticário, utilizando materiais autênticos da época colonial provenientes de demolições em outras partes da cidade. E, em 1970, sua paisagem idílica no coração do Rio de Janeiro se tornou locação para o filme "007 Contra o Foguete da Morte", com Roger Moore.

Em 2022, o Largo do Boticário ganhou, mais uma vez, vida nova. A rede francesa de hotéis Accor, que comprou o Largo em 2018, inaugurou no dia 19 de julho um novo hotel na região, como parte do processo de revitalização das casas: o Jo&Joe Rio de Janeiro, no número 32.

Cerca de R$ 70 milhões foram investidos para renovar seis dos imóveis respeitando suas características originais, assim como a floresta ao redor. As icônicas escadas caracóis, os pisos, azulejos e outros elementos foram restaurados por uma equipe minuciosa, supervisiosanada pelo INEPAC (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural).

Jo&Joe Rio de Janeiro, no Largo do Boticário - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Já o design de interiores deste hotel-hostel é assinado pelo escritório paulistano MM18, de Mila Strauss e Marcos Paulo Caldeira. Com 4.157 m², o Jo&Joe conta com 320 camas em 80 quartos e apartamentos, que acomodam até 8 pessoas (além de oferecer opções privativas e coberturas), cada um único em seu estilo arquitetônico.

Ele ainda será o primeiro da rede com o conceito "open house", ou "casa aberta" — com eventos planejados para atrair todo tipo de público, hospedados ou não ali. Workshops de caipirinha, altinha, circuito sensorial na floresta, aulão de ioga, beer pong, karaokê e saxofone na piscina são algumas das atividades já programadas.

O hotel tem ainda um restaurante principal e o pub Big Ben Joe, ambos abertos ao público. Já na área exclusiva para hóspedes, há os serviços Detox, com sucos e produtos naturais e o On Fire, que serve sanduíches e pizzas — abertos sob demanda. O complexo ainda possui três piscinas, uma quadra de basquete e espaço de coworking.

Jo&Joe Rio de Janeiro, no Largo do Boticário - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Diárias em quartos compartilhados saem por a partir de R$ 103. Já as acomodações particulares custam a partir de R$ 236 por noite. Orçamentos e diárias podem ser realizados através do site da casa.