Crânios de serpente e jacarés: um passeio no maior mercado de vodu do mundo
Chifres de antílopes, cabeças de serpentes, ossos de cavalos, crânios de macacos. Estes são alguns dos artefatos que podem ser comprados no Marché des Féticheurs (Mercado dos Feiticeiros), uma feira de rua localizada na região de Akodessewa, na cidade de Lomé, capital do Togo, no oeste da África.
Tais itens provenientes de animais mortos são utilizados em cerimônias religiosas e de medicina tradicional ligadas às práticas do vodu, muito disseminado nesse país africano francófono.
Com dezenas de tendas espalhadas sobre um chão de terra, o local é frequentado por pessoas com enfermidades e outros problemas de vida em busca de algo específico que seus curandeiros lhes prescreveram.
Ossos e chifres, por exemplo, são triturados e colocados em poções que, depois de ingeridas ou jogadas em cortes nos corpos da pessoa, seriam, supostamente, capazes de curar moléstias.
Já amuletos feitos com penas de coruja e pele de coelho podem trazer sorte.
E há ainda ingredientes que, segundo a crença local, conseguem aumentar o poder físico: poções preparadas com pó de ossos de cavalo, por exemplo, dariam mais força e velocidade para quem as toma.
As possibilidades de combinações são quase infinitas: podem ser misturados nas mesmas fórmulas curativas ou fortificantes, por exemplo, pó de chifre de algum animal com diversas ervas africanas.
Dificilmente a pessoa não encontrará o que precisa no Marché des Féticheurs, considerado o maior mercado de itens relacionados à prática de vodu do mundo.
Consultas e polêmicas
O Marché des Féticheurs não é apenas um ponto de venda de itens curativos ou que combatem o azar e a fraqueza.
Lá, o público pode se consultar diretamente com curandeiros, que recebem os interessados em cabanas atrás das tendas que vendem as carcaças dos animais.
Nesses espaços reclusos, os curandeiros traçam diagnósticos sobre o estado físico e espiritual de seu paciente e prescrevem as partes de animais e ervas que são necessários para resolver o problema. E, via de regra, eles mesmo conduzem os rituais de cura, na própria cabana — em um serviço que é cobrado.
Por suas chamativas características, o Marché des Féticheurs tem sido frequentado por muitos viajantes do exterior que visitam o Togo.
Com tal demanda, trabalham hoje, na entrada do mercado, diversos guias que se dispõem a mostrar e explicar o local para os forasteiros.
Mesmo com sua importância para a cultura do país, porém, o Marché des Féticheurs é um lugar que não está livre de polêmicas.
Seus vendedores dizem que todos os animais comercializados ali foram encontrados mortos no Togo e em outros países africanos. Mas é impossível saber se isso é verdade.
Além disso, há notícias de que carcaças de animais ameaçados de extinção já foram vendidas no local.
O vodu presente
Muito do que é visto no Marché des Féticheurs está relacionado ao vodu, prática religiosa surgida na região ocidental da África (onde está o Togo), cuja origem remonta a milhares de anos e que ainda é importantíssima para diversas comunidades que vivem no continente.
Os seguidores do vodu acreditam na existência de deidades que representam as forças da natureza — e, para esses fiéis, os curandeiros têm o dom para estabelecer comunicação com algumas dessas entidades.
Seria sob a orientação vinda dessas deidades que os curandeiros do Marché des Féticheurs conseguiriam identificar moléstias e outros problemas que estejam acometendo as pessoas — e, para os envolvidos no ritual, animais mortos têm poder para ajudar no processo curativo.
Ao longo do século 20, o vodu foi retratado por diversos filmes e livros como uma prática religiosa malvada, utilizada para amaldiçoar ou machucar pessoas. Mas seus rituais são, via de regra, destinados à melhoria da vida dos seguidores, como prova o Mercado dos Feiticeiros do Togo.
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