Existe uma taça certa para cada vinho - e não é frescura. Saiba escolher
Como gerente da marca de cristais Riedel na importadora Mistral, o sommelier Flávio Ghirotti costuma conduzir uma demonstração da diferença que uma boa taça faz na apreciação de um vinho. A prova consiste em degustar um mesmo vinho em diferentes taças — a empresa alemã, por exemplo, hoje produz modelos específicos para 16 tipos de vinhos diferentes.
Ghirotti conta que sempre pergunta o quanto os participantes acham que a taça pode fazer diferença e que, no começo, a maioria diz que pode até fazer uma pequena diferença, mas que no fim tudo é frescura.
"Quando acabamos, todos dizem: 'Agora eu tenho que trocar todas as taças lá de casa, e vocês são os culpados!'". Segundo o sommelier, o público fica extasiado por perceber a brutal diferença, tanto para o bem (no caso da taça correta) quanto para o mal (quando usamos uma taça de outro varietal).
Realmente, parece frescura. A Riedel e outras marcas de taças de luxo, como a Spiegelau, a Zalto e a Grassl, costumam fabricar uma taça para cabernet sauvignon, outra para syrah e outra ainda para pinot noir. Um modelo para riesling, outro para chardonnay e um outro diferente para chardonnay barricado (envelhecido em barris de carvalho). Será que isso faz sentido?
O design está ligado à experiência da degustação, tanto na parte aromática como na parte gustativa", afirma Ghirotti.
"O formato do bojo é pensado para melhor mostrar as características aromáticas e gustativas daquele vinho. O formato varia de acordo com o peso, a acidez, o álcool e os taninos do vinho".
O sommelier cita como exemplo a criação da taça para o chardonnay barricado. O design leva em consideração o fato de esse tipo de vinho ter uma acidez média baixa. A Riedel pensou em fazer o vinho entrar na boca por onde sentimos mais a acidez: nas laterais da língua. Por isso, a taça de Chardonnay tem a boca muito maior do que as outras taças.
"Assim, aumenta a percepção da acidez, que é exatamente o que falta nesse vinho para ele se tornar mais equilibrado", conclui.
De fato, todos que participam da prova garantem que as taças específicas melhoram muito a percepção dos vinhos. No entanto, bem poucos têm condições financeiras ou espaço nos armários para ter cada uma das taças varietais. A maioria das pessoas escolhe dois ou três modelos para ter em casa. Como fazer a escolha certa?
Suas preferências
Antes de tudo, é preciso considerar quais são os vinhos que você, as pessoas que moram com você e as que recebe em casa bebem.
Não há por que ter taças de vinho de sobremesa se jamais compra um porto ou um madeira. Se não bebe vinhos brancos, para que comprar taças específicas para eles? Compre apenas o que tem usado no momento, você sempre pode completar o jogo no futuro.
Preço e marca
Tudo depende do seu orçamento, mas vale a pena investir em taças boas.
O sommelier Diego Arrebola, proprietário da consultoria EntreCopos, acredita que até o vinho do dia-a-dia pode, sim, melhorar com uma boa taça.
Justamente por ser mais desequilibrado, uma taça de qualidade pode ajudar a dissipar algumas características desagradáveis, deixá-lo mais macio, menos alcoólico e, no geral, mais agradável".
O contrário também é verdade. "Uma taça ruim pode matar completamente um vinho e deixá-lo sem graça. Assim como uma taça boa pode destacar o que ele tem de melhor e tornar a experiência como um todo mais completa e mais agradável".
Material, peso e espessura
O material usado na produção da taça vai determinar seu peso e sua espessura. "Um bom cristal é importante porque deixa a taça mais leve, mais fácil de manipular", diz Arrebola. O cristal costuma ser mais fino do que o vidro.
A espessura é importante porque deixa o toque com a boca mais agradável. Muda sua percepção, e tudo aquilo que interfere com a nossa percepção interfere com a degustação."
Formato
Um único fator, no entanto, interfere fisicamente com a percepção do vinho: o formato. Como dito acima, o design modifica a maneira com que o vinho entra na boca e, portanto, a região da língua que ele atinge. Como sentimos a acidez em uma região, o açúcar em outra, o amargor em outra e o salgado em outra, dependendo de onde é o primeiro contato, temos uma percepção diferente.
O formato também interfere com os aromas. Em 2015, um grupo de pesquisadores da Universidade de Medicina e Odontologia de Tóquio e da Universidade de Tecnologia de Tóquio fez uma experiência com uma câmera especial capaz de registrar os vapores de etanol que saíam de diferentes tipos de taças.
O estudo demonstrou que a densidade e a posição desses vapores variavam de acordo com o formato da taça. Esses vapores carregam os compostos aromáticos que são diferentes para cada tipo de vinho.
Na prática, já há algumas décadas se conhece alguns modelos mais adequados para certos grupos de vinhos. Com qualquer modelo, menos a flute, é bom lembrar de não encher demais a taça. O vinho deve ficar na altura de onde o bojo tem o maior diâmetro.
Taças para vinhos tintos
Taça Bordeaux
Ela vai bem com boa parte dos vinhos mais consumidos como cabernet sauvignon, merlot, carmenere e todos os cortes bordaleses.
Funciona também com os vinhos do Douro e o alicante bouschet. Quanto maior for maior será a superfície de contato do vinho com o ar e maior a liberação de compostos aromáticos.
Taça Syrah
Funciona bem para vinhos tintos frutados e encorpados. Foi desenhada para permitir uma boa oxigenação dos taninos e ressaltar os aromas de frutas. Experimente vinhos como primitivo, malbec, syrah e côte du Rhône.
Taça Borgonha
Vai bem com tintos leves e delicados. A superfície grande de contato com o ar ajuda os aromas a aparecerem. Além da pinot noir, funciona também para a gammay, valpolicella e nebbiolo. Pode ser usada também com brancos encorpados como alguns borgonhas.
Vinhos brancos
Taça Chardonnay
Brancos mais encorpados, com passagem por madeira, precisam de uma boca maior. Funciona bem também para brancos portugueses mais untuosos como o encruzado e brancos de Rioja (Espanha).
Taça Riesling
Os brancos costumam ser servidos em taças menores para manter a temperatura mais fria e também preservar aromas florais. Esta taça é própria para vinhos com bastante acidez, como o riesling e o sauvignon blanc. Vai bem também com os rosés.
Taças para espumantes
O modelo mais usado é a flute. A procura pela tulipa, no entanto, vem crescendo, pois é mais eficiente na entrega dos aromas.
Taça universal
Alguns fabricantes vendem o que eles chamam de taça universal. Muito parecida com a bordeaux, ela é a melhor opção para quem quer simplificar o serviço em casa. "Elas conseguem desempenhar com qualidade com todos os vinhos", diz Ghirotti.
"Brincamos sempre que a 001 e a 002 da Riedel, por exemplo, são sempre a segunda melhor para qualquer vinho, já que a melhor taça é a varietal."
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