Como Deborah Secco, brasileiros compram casas nos EUA para curtir e lucrar
Destino dos mais procurados pelos brasileiros em busca de diversão, a Flórida, nos Estados Unidos, tem sentido a presença forte desse público em outra área: o mercado imobiliário.
Acostumados a locarem casas e apartamentos para temporadas, agora, são vistos como grandes compradores de imóveis. O interesse óbvio é pelo uso próprio, mas há outra razão igualmente atraente por trás, que é a boa rentabilidade gerada por esse tipo de aplicação financeira.
"Em média, uma casa de 8 a 9 quartos pode gerar uma receita líquida de até US$ 25 mil por ano", diz Juliana Fernandes, corretora imobiliária e designer de interiores santista, há mais de 25 anos nos Estados Unidos e CEO do grupo Jujudicasa, responsável pela decoração de casa de celebridades brasileiras.
Se o mesmo imóvel — que custa a partir de US$ 950 mil — for comprado à vista, excluindo despesas operacionais e parcelas mensais de financiamento, entre outras despesas, o investidor pode embolsar entre US$ 55 mil e US$ 80 mil anualmente. Mas onde o brasileiro entra nessa? Atualmente, é o maior grupo comprador de imóveis na região que compreende Orlando, Kissimmee e Sanford.
O aquecido mercado
A Flórida registra o maior número de investimentos estrangeiros no mercado imobiliário dos Estados Unidos, respondendo por 41% das compras de propriedades, segundo o mais recente relatório divulgado pela National Association of Realtors (NAR), em parceria com Florida Realtors, de novembro passado.
Metade dessas transações envolve as chamadas 'vacation homes' (ou casas de férias), que registrou procura superior a 16% no último período avaliado. E é justamente com esse tipo de imóvel que o brasileiro se destaca. Atualmente, trata-se do quarto grupo que mais investe em 'vacation homes'.
Para entender melhor o que isso significa, compradores de fora movimentaram mais de US$ 12,3 bilhões na compra de casas na Flórida entre agosto de 2020 e julho de 2021.
Os canadenses foram os que mais gastaram (responsáveis pela injeção de US$ 1,8 bilhão), seguidos pelos argentinos (gastos na ordem de US$ 0,9 bilhão), colombianos (US$ 0,8 bilhão) e brasileiros (US$ 0,7 bilhão).
Mas a turma brazuca ocupa um respeitável primeiro lugar nas compras de imóveis residenciais na região de Orlando, Kissimmee e Sanford, respondendo por 18% das negociações, exatamente o dobro do que os moradores do Canadá e da Venezuela compram (9% cada grupo).
De acordo com o levantamento, essa região — ponto estratégico para quem deseja visitar os parques temáticos da Disney — é o segundo principal destino dos brasileiros, preferida por 33% dos viajantes, atrás apenas da área que engloba Miami, Fort Lauderdale e West Palm Beach (predileção de 48% dos viajantes).
Quem é o investidor
A maioria desse público investidor é formada por brasileiros que procuram "dolarizar" e diversificar o patrimônio.
"O sonho de comprar uma 'casa na Disney', um imóvel para a família passar as férias, usufruir dos parques e, também, gerar receita, está no topo da lista, unindo o útil ao agradável", afirma José Fernandes, paulista de nascimento, broker da Celebrity Global Realty, em Orlando.
Geralmente, são empresários e executivos buscando segurança e estabilidade econômica, mirando ainda uma possível migração para os Estados Unidos. Neste cenário, as 'vacation homes' significam o primeiro passo para a geração de receita em dólares.
Thyago Alves Passos e Bruna Cristina Passos, de Goiânia, fazem parte da lista de proprietários satisfeitos com a aquisição. Há quase três anos, o casal comprou um imóvel de 400 metros quadrados de área útil em um condomínio concorrido. Lá, o casal e os três filhos passam temporadas e, quando retornam ao Brasil, disponibilizam o imóvel para locação.
A casa tem quartos temáticos de "Toy Story", "A Pequena Sereia", "Minions", "Avengers" e, é claro, Mickey, além de uma sala imersiva de jogos inspirada em "Avatar". Essa, aliás, é uma característica dos imóveis valorizada pelos compradores.
Para Thyago, o mais "encantador" da casa é a magia que ela própria proporciona.
Brinco que temos um pedacinho dos parques de forma particular, porque os quartos, a sala e a garagem com tema nos dão uma sensação real de Disney dentro de casa — desde os brinquedos, até os sons, o cheiro, os desenhos e até mobília temática"
Ele acrescenta que ter a tão sonhada "casa na Disney" foi o primeiro ponto que motivou o negócio, mas a rentabilidade do aluguel e a alta procura foram decisivos. "O turismo em Orlando fica em alta praticamente o ano todo. Quando não estamos lá, a casa está sempre alugada", comemora o proprietário, que planeja investir na aquisição de outro imóvel do gênero.
A opinião é compartilhada pelos empresários brasileiros Renato Figueira e Carol Arrais, que vivem em New Jersey com a filha, mas têm residência de férias na Flórida.
"Hoje, já temos duas casas de 'vacation', que frequentamos pelo menos duas vezes no ano. Nos outros períodos, estão 'full book' o tempo todo", comemora. As duas residências são temáticas, com quartos dedicados a "Moana", "Star Wars", Mickey e "O Rei Leão", entre outros.
Tudo foi escolhido com muito carinho, mas minhas áreas preferidas são as salas de jogos. Temos 'Harry Potter' na primeira e 'Velozes e Furiosos' na segunda"
Quanto custa uma 'vacation home'
Os preços das casas de férias começam em US$ 350 mil para um apartamento de dois quartos e podem chegar a mais de US$ 15 milhões em mansões de 15 a 20 dormitórios.
A maior parte dos condomínios, entretanto, têm apartamentos de 2 a 4 quartos, casas geminadas de 4 e 5 quartos e casas do tipo 'single family homes' (casas independentes) de 5 a 12 quartos.
O valor médio desembolsado pelos brasileiros gira em torno de US$ 460 mil. A maioria dos compradores ainda soma à conta mais US$ 250 mil, aproximadamente. "Este é o preço médio do pacote completo para decorar a casa inteira, com projeto de marcenaria, iluminação, tematização de quartos, além de cama, mesa e banho completos", diz Juliana, da Jujudicasa.
Baixa burocracia
Adquirir imóvel fora do país geralmente é mais fácil do que se imagina. "Qualquer estrangeiro tem os mesmos direitos e benefícios, proteção e deveres que o cidadão americano, com pequenas exceções que podem ser equalizadas através da aquisição e de uma estruturação corporativa, algo mais simples e rápido do que no Brasil", afirma o broker José Fernandes.
O requisito básico é a comprovação da capacidade financeira para a compra do imóvel, à vista ou financiado. Segundo Fernandes, diversos bancos oferecem programas de financiamento para quem é de fora.
O processo de qualificação e aprovação exige documentos como extratos bancários e declaração do contador e permite que o imóvel seja negociado com, pelo menos, 25% de entrada e os demais 75% distribuídos em parcelas ao longo de três décadas. "Os juros, hoje, variam de 4,5% a 6,75% ao ano", informa o broker.
Casas alugadas o ano inteiro
O mercado de investimentos em 'vacation homes' não é novidade para americanos, canadenses e europeus, mas os brasileiros entraram recentemente nesse cenário de oportunidade.
"Observamos que cresceu bastante a procura depois da pandemia. Os clientes, principalmente os do Brasil, entenderam que Orlando não vive só do mercado externo internacional. Durante a pandemia, foi o mercado doméstico interno que supriu a ocupação de todos os imóveis. Não ficou 'vacation home' desalugada", revela Juliana.
Tais imóveis ficam em condomínios com estrutura de resort, ou seja, têm piscinas variadas, toboáguas, restaurantes, serviço de bar em piscina, academia, jogos de arcade, entre outros atrativos.
Famosos também investem
Juliana, que é conhecida como a "corretora dos famosos", revela que muitas das celebridades brasileiras têm casa uma casa para uso próprio e outra para aluguel. Ela está atualmente trabalhando no design do imóvel do jogador Gabriel, do Internacional, e assinou o projeto de casas de famosos como Larissa Manoela, Sabrina Sato, Simone Mendes, Leandro Hassum, Nívea Stelmann, Zilu Godoy, o lutador José Aldo e os jogadores Willian Borges, Amauri, Miranda, Doni, Gabriel e Thiago Mendes.
A atriz Deborah Secco também é proprietária de um imóvel de 9 quartos e área útil de 400 metros quadrados, em Orlando, com direito a habitações temáticas — "Toy Story", safári, princesas da Disney, "Avengers" e Mickey. No condomínio em que a casa se encontra, as unidades remanescentes são vendidas a partir de US$ 900 mil.
A atriz poderia ter escolhido qualquer outro canto americano, mas optou pela região por alguns motivos:
Disney é um sonho muito especial para nós, brasileiros, e desde que engravidei da Maria Flor, virou um destino obrigatório para mim. Pelo menos duas vezes por ano eu tenho visitado e construí uma verdadeira família por lá, onde me sinto literalmente em casa"
Deborah conta que foi só na segunda vez que visitou Orlando, pós-nascimento da filha, que descobriu o mercado imobiliário dali.
"Compramos pensando 100% no investimento, mas aproveitamos muito. Vale muito a pena, pois quando voltamos para o Brasil, depois de curtir as férias, o imóvel fica alugando, dando um rendimento em dólar", diz.
O brasileiro enquanto inquilino
Não é de hoje que o mercado de locação de casas em Orlando encontra no Brasil um público fiel. A baiana Fabiana Tourinho mora há duas décadas em Orlando, onde é CEO da Intelli, empresa que administra e aluga casas de férias, entre outros serviços prestados.
De acordo com Fabiana, a proximidade de Orlando é ponto crucial na escolha dos condomínios para locação. Em média, os brasileiros locam por 7 a 14 noites, ficando atrás apenas dos ingleses, que reservam as casas por 20 a 30 dias.
Para se ter uma ideia, uma diária no condomínio Storey Lake, em Kissimmee, um dos "queridinhos" entre os brasileiros, custa, em média, US$ 210 para uma casa de 5 quartos, com churrasqueira e piscina.
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