Dez prédios que estão entre os mais controversos da história da arquitetura
De Nossa
05/08/2022 04h00
Seja por falta de apreço estético, perrengue nas obras, ou até por destoar da vizinhança, algumas construções parecem fadadas ao "arranca-rabo" desde a planta. Afinal, quem nunca avistou um arranha-céu meio abandonado e se perguntou por que o imóvel não vai para frente?
Alguns destes mal-estares, no entanto, não se limitam à reclamação dos moradores, vizinhos ou profissionais envolvidos nos projetos: há quem tenha levado sua discordância com uma mudança de paisagem até os tribunais — em algumas disputas que são, por vezes, difíceis de serem resolvidas, dependendo das cifras e questões em jogo, como preservação de patrimônio histórico, por exemplo.
Nem mesmo megaedifícios que envolvem milhões e são assinados por verdadeiras "grifes" arquitetônicas estão imunes a estas saias justas. Muitas vezes, são aquelas construções mais aguardadas que acabam criando imbróglios mais complexos.
Este é o caso destes dez prédios, que entraram para a seleção da revista especializada Architectural Digest como alguns dos mais polêmicos edifícios da história da arquitetura. Saiba por quê:
Prefeitura de Boston, nos EUA
Construído em 1968 para substituir o antigo prédio da prefeitura, uma obra de 1865 erguida em estilo do Segundo Império francês e portanto, mais rebuscada e alinhada ao gosto das elites locais, o atual edifício se tornou alvo de polêmicas desde o berço.
Isto porque ele destoa e muito do antecessor em estilo. Um exemplo da arquitetura brutalista do pós-guerra britânico, que destaca formas geométricas, prioriza o minimalismo nos detalhes e coloca a estrutura como elemento central, ele recebeu o prêmio de honra do Instituto Americano de Arquitetos em 1969.
Sua importância teórica, histórica ou influência no meio arquitetônico não impedem, contudo, que o Boston Globe (um dos jornais mais influentes do mundo) o rotule, assim como muitos locais, como o "prédio mais feio do mundo" cerca de 50 anos depois.
Antilia Tower, Mumbai, na Índia
Com 4.532 m² e pouco mais de 173 m de altura, a torre indiana tem 27 andares. Ou seja, ela não está entre os maiores arranha-céus do mundo (o maior, Burj Khalifa em Dubai, tem 828 m), mas parte de sua fama vem por uma outra ostentação: este prédio inteiro é a residência privada do bilionário Mukesh Ambani, a 11ª pessoa mais rica do mundo, de acordo com a revista Forbes americana.
Assinado pela firma americana Perkins+Will, ele teria custado US$ 2 bilhões — e já foi considerado a residência privada mais cara do mundo, segundo a Vanity Fair. Por que gerou incômodo então? Justamente pelo tal fator ostentação. Outro magnata indiano, Ratan Tata, criticou publicamente ao jornal The Times of London o Antilia como exemplo da falta de empatia dos ricos do país pelos mais pobres.
"Uma pessoa que vive ali deveria estar preocupada com o que vê no entorno dele e se perguntar como pode fazer a diferença. Se ele não puder, então é triste, porque este país precisa de pessoas que destinem parte de suas enormes riquezas para encontrar formas de mitigar as dificuldades que as pessoas têm. [A torre] me faz pensar por que alguém faria isso. É assim que revoluções se formam".
Ryugyong Hotel, Pyongyang, na Coreia do Norte
Apesar de suas obras já durarem 35 anos, o edifício triangular de 105 andares parece nunca ficar pronto — e continua como um símbolo vazio na paisagem da cidade. Sua fachada, no entanto, está completa, são seus interiores que parecem ser a causa de tantos atrasos e ofereceriam até risco estrutural para os seus arredores.
Mesmo assim, o formato não escapa às críticas de quem passa por ali por seu estilo, pelas intenções por trás dele e até justamente por nunca ficar pronto. Nascido no meio da Guerra Fria como um competidor do hotel Swissôtel The Stamford in Singapura, ele ganhou o apelido nos últimos anos de "Hotel da Maldição".
20 Fenchurch Street, Londres, no Reino Unido
Conhecido como o "prédio Walkie-Talkie", por seu formato parecer com os aparelhos portáteis de rádio, esse prédio de 38 andares que foi assinado por Rafael Viñoly e finalizado em 2014 ganhou, menos de um ano depois, a Carbuncle Cup — um prêmio "de brincadeira" entregue pela revista Building Design como o "prédio mais feio do Reino Unido completado nos últimos 12 meses".
Seu prestígio, desde então, não aumentou. Ao longo dos anos, ele já se tornou manchete algumas vezes por alguns problemas no projeto. Por exemplo, quando a luz bate na superfície da estrutura, ele funciona como um espelho côncavo que joga a luz direto na rua, podendo atrapalhar quem dirige na região.
Em 2013, quando a obra estava em seus estágios finais, graças a ele a temperatura no asfalto chegou a um ponto tão alto — 117,2 ºC — que danificou carros estacionados em seu entorno, segundo o The Guardian. O problema foi corrigido com um toldo, mas o arranha-céu voltou a receber críticas por criar um efeito de túnel de vento na rua abaixo.
Solomon R. Guggenheim Museum, Nova York, nos EUA
Apesar de o edifício de Frank Lloyd Wright para o museu nova-iorquino ser hoje considerado histórico e icônico na paisagem da cidade há mais de 60 anos, ele nem sempre foi visto com bons olhos.
Quando o design foi divulgado, o arquiteto recebeu críticas pesadas que comparavam suas formas a de uma máquina de lavar roupa ou de uma tigela invertida. Ele foi ainda acusado de querer aparecer mais do que as obras dentro de seus corredores, e 21 artistas enviaram cartas à Fundação que administra o museu protestando a construção.
Segundo os arquivos do Smithsonian, museu de história americana em Washington D.C., a principal queixa era de que suas curvas representassem um desrespeito "à fundamental moldura de referência retilínea necessária para a contemplação visual adequada às obras de arte".
Pirâmide do Louvre, Paris, na França
Assinada por I.M.Pei, um arquiteto sino-americano, a pirâmide foi bastante criticada desde o começo — em 1988 — por ter sido idealizada por um profissional que não teria "um entendimento adequado" do estilo renascentista francês do palácio onde hoje está o museu e que, por isso, a obra destoaria demais do seu entorno.
Além disso, outra crítica acusaria a inspiração escolhida de ter sido inadequada e, por isso, a homenagem seria de mau gosto. Isto porque pirâmides no Antigo Egito representariam a morte, afinal eram usadas como tumbas dos faraós e não poderiam estar no cerne do museu, segundo o The New York Times. Até hoje, ela divide opiniões na sociedade francesa.
Tour Montparnasse, Paris, na França
A "torre da discórdia" causou tanto mal-estar também entre os franceses que mudou até a legislação local. Construída nos anos 70, ela criou frustração entre os residentes também por projetar luzes e criar sombras no coração da Cidade Luz.
Outros ainda acusaram a torre de destoar do estilo Haussmaniano (e bastante romântico) que prevalece em boa parte da arquitetura parisiense — exceto no distrito empresarial de La Défense.
Com 210 metros de altura, ela perdeu a briga para os parisienses: em 1975, depois de dois anos de debates por causa da torre, a prefeitura de Paris baniu a construção de prédios de mais de 36 metros de altura dentro do coração da cidade. Em 2005, no entanto, foi encontrado amianto dentro do edifício e especialistas trabalham há anos para remover toda a substância cancerígena de lá.
A Sagrada Família, Barcelona, na Espanha
Inacabada há 140 anos, a Sagrada Família é o pomo da discórdia de Barcelona por diferentes motivos. De alto valor histórico, afinal a obra é assinada (também) pelo maior arquiteto espanhol, Antoni Gaudí, ela foi reassumida diversas vezes ao longo dos anos por diferentes profissionais e a escolha dos nomes é sempre altamente debatida — e contestada — na sociedade catalã.
Com os planos de Gaudí destruídos durante a Guerra Civil espanhola, há também bastante questionamento em relação às alterações modernas, que são frequentemente acusadas de não fazerem parte do seu projeto original. A propriedade ainda mantém uma dívida de milhões de dólares com a prefeitura de Barcelona há mais de um século.
Prédio do Parlamento, Edimburgo, na Escócia
Quando a construção começou em 1997, o valor estimado para erguer o novo edifício estaria entre £10 milhões e £40 milhões (entre R$ 63,1 milhões e R$ 252,5 milhões). No entanto, após uma série de atrasos e mudanças nos planos, em 2004 a cifra chegou a £430 milhões ou R$ 2,7 bilhões.
O público, que pagava pelo prédio com os impostos, é claro que protestou as circunstâncias em que a construção se dava e um plebiscito foi organizado para definir o futuro da obra, discutido oficialmente pelas autoridades. Com o prosseguimento, outras alfinetadas se seguiram, a respeito da localização do prédio e da escolha de Enric Miralles, um arquiteto espanhol, para desenhá-lo.
Uma vez inaugurado, o alarido acabou, mas até a rainha reconheceu todo o tumulto em seu discurso na inauguração do novo Parlamento.
John Hancock Tower, Boston, nos EUA
Construída no fim dos anos 60 também como parte da "onda modernista" que tomou Boston e produziu o prédio da prefeitura, a torre foi assinada pela firma do mesmo arquiteto da Pirâmide do Louvre, I.M.Pei, com o intuito de ser o edifício mais alto da cidade. No entanto, sua proximidade com a Trinity Church, uma igreja histórica, trouxe sua fatia de dor de cabeça aos arquitetos.
Inicialmente, as críticas da imprensa e dos cidadãos se baseavam no fato de que a obra formaria uma sombra imensa sobre a igreja, patrimônio reconhecido pela prefeitura de Boston. Os planos para a torre então tiveram de ser alterados, segundo o Boston Globe. No entanto, durante o processo de escavação para erguer o edifício, a igreja foi danificada em sua estrutura.
A congregação, então, processou a equipe por trás do projeto e recebeu uma indenização de milhões de dólares. Este foi apenas o segundo de uma série de outros problemas, como vidraças das janelas caindo sobre os pedestres devido a fortes ventos. Eventualmente, as falhas de engenharia foram corrigidas.