'Quem converte se diverte': preço de vinhos conquista turistas na Argentina
Se o ditado para o viajante é de que "quem converte não se diverte", os brasileiros na Argentina têm se beneficiado justamente do contrário. "Aqui, a gente converte para se divertir", diz, animada, a médica carioca Marcela Almeida, que está na cidade de Mendoza com os pais, o namorado e um casal de amigos, após passar três dias na capital argentina.
Ela conta que para o brasileiro acostumado a se preocupar com a cotação do real quando viaja para a Europa ou para os Estados Unidos, a lógica acaba sendo inversa na Argentina.
"Em Buenos Aires, fomos no Don Julio, que é um dos melhores restaurantes do mundo, e pagamos o preço que você paga em qualquer restaurante de carne do Rio de Janeiro", diz Marcela.
Há cinco dias na região vitivinícola de Mendoza, o grupo está fazendo três degustações de vinho por dia e conta que levará para o Brasil cerca de dez garrafas por pessoa. "Só compramos vinhos top", diz Marcela, numa frase que acaba completada pelo pai, Luiz Gastão, de 57 anos: "os gran reserva e aqueles diferenciados, que a gente não encontra no Brasil".
Na cidade pela sexta vez, o empresário afirma que nesta visita os preços estão praticamente a metade dos encontrados no Brasil — e há casos de pechinchas ainda maiores.
Tradicionalmente, os turistas já encontravam em Mendoza rótulos com boa diferença de valor na comparação com os que chegaram em terras brasileiras — pois é a região produtora, sem incidência de impostos e custos de importação. Porém, a desvalorização do peso argentino alargou essa margem.
De garrafa em garrafa
A programação que o grupo carioca está fazendo, com visita a três bodegas por dia, tem preço fixo que varia de 175 a 250 dólares. O valor precisa ser pago na moeda norte-americana — e aí não tem como fugir do custo alto. Mas Gastão explica que a vantagem é pagar o hotel, os vinhos e os jantares em pesos argentinos.
Por via das dúvidas, ele anda com um maço de dinheiro no bolso com pesos argentinos, reais e dólares, sempre fazendo contas para ver em qual cotação os preços ficam melhores.
O grupo está utilizando um serviço de van denominada "winebulance", palavra que brinca com a junção das palavras "vinho" e "ambulância" em inglês. Um dos pontos do roteiro foi a bodega Lagarde, localizada em Luján de Cuyo, nas proximidades da cidade de Mendoza, onde eles comeram uma refeição de sete passos harmonizados com vinho. Nesta bodega, os brasileiros são 90% do público.
"No Rio de Janeiro, se você for comer um menu degustação de sete etapas, em um restaurante bom da zona sul, nada exagerado, mas tomando um vinho médio, sairia mais ou menos R$ 250 por pessoa. Aqui estamos calculando que vamos gastar a metade do valor", dizem.
Câmbio paralelo
Os preços mais convidativos aos turistas brasileiros estão relacionados à utilização de uma cotação informal do peso argentino, chamada de "blue", à qual recorreu a maioria dos entrevistados por Nossa em Buenos Aires e em Mendoza. Enquanto o dólar na cotação oficial está 140 pesos, na paralela estava mais do que o dobro nesta terça (9): 292 — durante a instabilidade econômica do país em julho, chegou a passar de 350 pesos.
Para conseguir cotações melhores do que a oficial sem expor-se ao risco dos cambistas informais que circulam nas zonas turísticas de Buenos Aires e de Mendoza, os turistas "descobriram" recentemente as transferências via pix pela Western Union, com retirada em agências da Argentina (veja no final dessa reportagem como funciona). O casal Gercílio e Raissa Macedo utilizou este sistema e conseguiu trocar cada real por quase 55 pesos.
A viagem deles começou em Buenos Aires, passa por Mendoza, onde eles estão visitando bodegas, terá um pernoite em uma vinícola em Valle de Uco, e duas noites em Las Leñas, ainda na província de Mendoza. "O real está valorizado em relação ao peso, porém as coisas estão bem mais caras do que antes, como as roupas", diz Raissa, de 30 anos, que é publicitária e influencer.
O que compensa, conta o casal de Teresina (PI), são as refeições e os vinhos, uma paixão do casal. "Já temos quase três caixas de seis vinhos", diz a influencer. Número que deve aumentar no resto do roteiro: "Vamos levar vinte e poucos rótulos, só para nós", diz o advogado Gercílio, de 37 anos.
Como exemplo da economia, ele cita a compra de um El Enemigo Cabernet Franc 2015 pelo equivalente a R$ 180. No Brasil, o mesmo vinho pode chegar a custar três vezes mais. "Estamos levando vinhos de categoria, que têm um custo mais elevado, mas que compensam muito em relação ao Brasil", explicam.
"Os brasileiros compram vinhos de alta categoria como se fosse água", diz Carolina de Marcos, gerente comercial da Fincas Patagónicas, que tem as bodegas Tapiz e Zolo. Segundo ela, é comum levarem um ou duas caixas para continuar se divertindo com a conversão depois que voltarem para casa.
Trocando reais
Bancos e empresas como a Western Union fazem legalmente o serviço de câmbio paralelo do real para o peso argentino. O valor de R$ 1 era equivalente a cerca de 54 pesos argentinos nesta semana — mais que o dobro da cotação oficial do país.
Segundo informou UOL Economia, no caso da Western Union, o câmbio utilizado é o chamado blue chip swap, que é o destinado a transações correntes na Argentina — ou seja, reflete um valor real da moeda americana, no dia da definição da troca, e não um número fixado pelo governo, como ocorre no caso do câmbio oficial.
Você pode fazer a troca cambial com pix, enviando reais para a Western Union e sacando em pesos em uma das lojas da empresa na Argentina. As taxas cobradas são: 3% do valor da transação e 1% de imposto federal.
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