Por que o look transparente de Rihanna prova que ela sabe, sim, se vestir
Nesta semana, um vídeo repercutiu nas redes sociais: nele, uma empresária e influenciadora de moda era questionada sobre a sua opinião a respeito do vestido transparente usado por Rihanna no CFDA Awards, em 2014.
Entre os pitacos estavam: "Dinheiro não compra elegância, muito menos bom gosto", "Não tinha necessidade nenhuma" e "Eu fico me perguntando por que apelar dessa maneira".
O vídeo terminava então com a declaração: "Rihanna pode saber cantar, mas se vestir não" — provavelmente a que mais irritou os usuários no Twitter, por exemplo.
No entanto, a peça usada por Rihanna provavelmente é uma das de suas mais icônicas ao longo de sua carreira. À época, por mais que já se destacasse como um nome importante na moda — inclusive venceu o prêmio de Ícone Fashion no CFDA nesse ano —, a cantora começava a trilhar o caminho que faz dela hoje um fenômeno fashion.
O look foi desenhado por Adam Selman, que já trabalhou com Lady Gaga e Gwen Stefani. O "naked dress", como são os chamados os vestidos que fazem referência ao corpo nu, demorou uma semana para ser feito, contou com vinte pessoas por trás de sua confecção e tinha 230 mil cristais Swarovski colados ao tecido fino.
Para a "Elle" norte-americana, o estilista contou ainda que Rihanna teve grande participação para o desenho e execução do look: ela alterou os esboços, para que o vestido modelasse melhor ao seu corpo, participou na escolha do tecido para que se aproximasse fielmente ao seu tom de pele e decidiu misturar cristais simples aos coloridos.
Sobre essa última decisão, Selman acrescentou: "Pessoalmente, fez uma diferença incrível. Acrescentou uma profundidade que eu não esperava".
Vale lembrar que as percepções como designer de moda da artista, ainda iniciantes em 2014, hoje em dia compõem a marca de lingerie mais poderosa do mercado: a Savage x Fenty, que desbancou a Victoria's Secret. Há pouco tempo, ela também lançou a Fenty, sua própria coleção de roupas, que posteriormente foi suspensa para que ela focasse nas modelagens íntimas e em sua linha de maquiagens.
Na mídia, o vestido foi comparado como um "renascimento" do look usado por Marilyn Monroe, em 1964, quando cantou o "Parabéns" ao então presidente John F. Kennedy. A nova versão, usada por Rihanna, causou uma repercussão completamente diferente como ao que vimos com Kim Kardashian no Met Gala 2022.
Enquanto muitos acusavam a clã da família Kardashian-Jenner de ter danificado a peça histórica, Rihanna, por sua vez, foi aclamada por dar uma nova história ao visual icônico de Monroe.
Mas esse vestido é apenas um dos usados por Rihanna que fizeram história.
No próprio Met Gala, por exemplo, ela é anualmente a mais esperada para o tapete vermelho. Na mais edição de 2022, sua não-aparição foi sentida por muitos. Para "contornar" a ausência, o Metropolitam Museum of Art, em Nova York, criou uma estátua digital reproduzindo sua capa, enquanto grávida, para a revista "Vogue" norte-americana.
Como se dissessem: sem Rihanna, sem credibilidade. Mesmo que computadorizada.
Em 2021, quando todos já desistiam de vê-la no evento, a artista foi a última a chegar ao tapete vermelho, acompanhada do namorado A$AP Rocky. Nessa edição, Rihanna surgiu vestindo um modelo volumoso da Balenciaga. Quando questionada sobre como o look se encaixava no tema: "Na América: Um Léxico da Moda", que tinha o intuito de celebrar a moda norte-americana, ela respondeu:
"Eu queria um visual que parecesse muito poderoso, mas feminino. Como um moletom preto, que geralmente é o que nos incrimina como negros ", disse a cantora de Barbados à "Essence".
Nas três edições anteriores a essa, em que esteve presente, Rihanna foi considerada a mais bem vestida. Em todas elas.
No Met Gala, o maior evento de moda do mundo, Rihanna é recorrentemente símbolo de elegância.
Em 2015, surgiu deslumbrante — e extravagante — em um vestido amarelo com uma capa do designer chinês Guo Pei para a edição honrando a cultura chinesa.
Dois anos depois, quando homenageou-se a estilista Rei Kawakubo, fundadora da Comme des Garçons, a cantora vestiu uma peça da casa de moda lançada na coleção de Outono/Inverno 2016.
Nas palavras do jornal "The New York Times": "Muitos designers trabalham com o objetivo de fazer as mulheres ficarem bonitas. Ms. Kawakubo trabalhava com o objetivo de fazer as mulheres serem olhadas repetidas vezes". Assim fez Rihanna.
Já em 2018, vestiu-se como uma papisa com um look assinado por John Galliano da Maison Margiela, no tema que abordava a moda e o catolicismo.
Mais recentemente, Rihanna foi além de ser uma referência na moda para reescrever a história da moda gestacional. Com toda a necessidade.
"Quando descobri que estava grávida, pensei comigo mesma: Não vou fazer compras em nenhum corredor de maternidade de jeito nenhum", disse ela em entrevista à "Vogue".
"Me desculpe, é muito divertido se vestir bem. Não vou deixar essa parte desaparecer porque meu corpo está mudando".
Desde a revelação da gravidez, quando ostentou um longo puffer rosa da coleção de outono de 1996 de Karl Lagerfeld para Chanel, até as aparições em eventos públicos, fossem ele jantares com o namorado, de Miu Miu à Alexander Wang, ou passagens pela Semana de Moda de Paris, de Dior, Rihanna aparentava tudo. Menos o ordinário.
Dizer que Rihanna não sabe se vestir é ignorar um dos maiores nomes da moda. Não só um nome, mas uma mudança de curso nesse universo — seja como mulher negra, grávida ou fora dos padrões de corpo.
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