Além do Insta: fotógrafa mostra realidade de pontos turísticos superlotados
Acostumada à rotina exaustiva de fotógrafa de viagem, que envolve disputar espaço para sua câmera em frente a cartões postais com muitos turistas interessados não em admirar a paisagem, mas fazer o clique perfeito para as redes sociais, a belga Natacha de Mahieu criou uma série de imagens questionadoras a respeito do propósito do turismo.
Batizada de "Teatro da Autenticidade", o conjunto de fotos lançadas oficialmente na última semana de julho é, na verdade, uma gama de colagens. Cada imagem é composta por centenas de cliques realizados em diferentes momentos durante uma hora no mesmo local e que revelam o alto fluxo de viajantes que procuram o melhor ângulo para as redes, e não o ponto mais interessante para curtir seus entornos.
"Esta série é inspirada por jornadas pessoais, questões sobre a maneira como viajamos e os motivos que temos para ir a locais específicos", justifica em seu site a profissional de 26 anos.
Entre os pontos visitados por Natacha para seu Teatro estão o Mont Blanc, nos Alpes Franceses; a Capadócia, na Turquia; Pont d'Arc, em Gorges de l'Ardèche, na França; lago Obersee, na Alemanha; o deserto Bardenas Reales, na Espanha; os cânions Gorges du Verdon, na França; o Parque Nacional Peneda-Gerês, em Portugal e Calanques em Marselha, na França.
Os locais foram selecionados com base no alto número de posts que os marcam em redes sociais. Ao jornal britânico The Guardian, Natacha revelou que planejou uma outra série, em cartões postais ainda mais famosos como a Torre de Pisa, na Itália, ou a Grande Muralha da China.
No entanto, estes destinos denunciavam melhor o "turismo invisível", em que um post de um influenciador digital tem o poder de transformar um local em um destino obrigatório para milhares de outros turistas, mesmo que você se sinta sozinho no local no momento da foto.
"Posts de viagens nas redes sociais parecem responder a uma certa estética e códigos sociais que as pessoas estão usando como se fossem atores, criando sua própria performance online em paisagens que se tornam commodities visuais", diagnostica.
"O quão estranho é que turistas tentem escapar das convenções sociais em busca de momentos autênticos e introspectivos e acabem nos mesmos ambientes naturais, vivendo as mesmas experiências e se comportando da mesma forma que outros milhares de viajantes?", questiona ainda em seu "manifesto" digital.
Natacha não se distancia do objeto de sua investigação: ao Guardian, ela admitiu que adora redes sociais e viajar, vê influências da "estética de Instagram" em suas fotos — que privilegiam tons pastel — e que enfrentou "um dilema da geração Z" ao ver em seu feed imagens repetidas dos mesmos lugares feitas por pessoas diferentes.
"A fotografia perdeu sua objetividade, aumentando o distanciamento entre figuras idealizadas no Instagram e a realidade do ambiente na qual elas foram tiradas, reduzindo a presença humana a uma textura que cobre frágeis e majestosas partes da natureza", acredita.
Para Natacha, "as mudanças climáticas são bem reais e bem óbvias", disse ainda ao The Guardian. Então, era "natural" que seu trabalho retratasse também estas preocupações. Veja mais de sua série:
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