Trem dos Vales 'flutua no precipício' em viaduto a 143 m de altura no RS
Plataforma de trem lotada de turistas vindos dos quatro cantos do Rio Grande do Sul, além de visitantes dos estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Assim tem sido a rotina durante os fins de semana na pequena e tranquila cidade de Muçum, no Vale do Taquari, distante apenas 115 quilômetros de Porto Alegre.
É da estação de Muçum que o trem parte pontualmente às 14 horas, ostentando seus vagões originais das décadas de 1920 e 1930, onde circula lentamente, a uma velocidade média de 20 km/h pelo interior dos municípios de Vespasiano Corrêa, Dois Lajeados e Guaporé.
Os turistas que embarcam nesta jornada, conhecida como Trem dos Vales, têm a oportunidade de registrar a célebre fotografia do comboio sobre o V13 — o mais alto viaduto ferroviário das Américas com 143 metros de altura e 509 de extensão, e o segundo mais alto do mundo, perdendo apenas para o Mala Rijeka em Montenegro, pequeno país montanhoso situado nos Balcãs, no sudeste da Europa.
O passeio leva cerca de 2h30m para percorrer 46 quilômetros sobre os trilhos. No trajeto, a locomotiva a diesel elétrica norte-americana dos anos 1950, puxa 12 vagões e passa por 23 túneis, sendo que um deles com mais de 2 quilômetros de extensão e 15 viadutos.
Além do V13, o comboio atravessa outros distintos viadutos como o Mula Preta e o Pesseguinho, que são vazados em curva, sem muretas de proteção, ao contrário do V13. Essas obras de engenharia compõem a Ferrovia do Trigo (EF-491), construída no início da década de 1970 no RS. Para quem vê da janela do trem, a sensação de estar flutuando sobre o precipício é contínua e parece não acabar.
O emocionante da viagem é que, sempre após a travessia de um túnel, vem um presente da natureza. Pode ser uma cascata, vista lá de longe em meio às montanhas, o rio Guaporé, que em um dos seus percursos forma uma ''ferradura'' esculpindo a paisagem ou até mesmo moradores locais que acenam cada vez que o trem passa dando seu apitaço ensurdecedor.
Abaixo do percurso da Ferrovia do Trigo, em alguns pontos, há campings, pequenas pousadas e alguns chalés para locação. Os locais ainda têm bares, restaurantes e até estacionamento para quem pretende passar o final de semana com a família, seja para andar de trem ou fazer trekking, hábito muito praticado na região.
Apaixonados por trens, dados históricos e lembranças que os remetem ao passado, o casal de Porto Alegre, Sidnei da Rosa, de 39 anos e Roseli Figerói, 48, ambos microempresários, ficaram encantados com o passeio.
A viagem é linda. Os viadutos são enormes e extensos. Me lembra muito a minha infância. Roseli Figerói
''Como eu nasci no interior do Paraná, essa viagem foi maravilhosa para mim. Tenho uma lembrança muito bonita quando vejo os diferentes tipos de montanhas de cada região, os rios, tudo isso me remete ao passado. Eu sou daqueles que quando era pequeno ia correndo olhar o trem passar junto com meus avós '', lembrou Sidnei.
Segundo Marlon Ilg, de 35 anos, presidente da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), somente em 1982, após o sucateamento das máquinas, se deu início às primeiras operações turísticas com trens no Brasil. ''Hoje a associação mantém operações em cinco estados brasileiros que incluem nove passeios de trem, entre eles o Trem da Serra da Mantiqueira - Passa Quatro. Maravilhoso esse passeio que ocorre em Minas Gerais'', recomendou Marlon, que além de presidente da associação é engenheiro mecânico e tem o vagão como a sua ''segunda casa''.
Vagão Getúlio Vargas
Além dos 12 vagões puxados pela locomotiva, dois vagões são considerados especiais pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF): o carro administrativo presidencial AD-09 e o carro administrativo AM-01.
O primeiro foi fabricado em 1925 no município de Rio Grande, no extremo sul do estado gaúcho, e transportava diretores da ferrovia. Também foi batizado pelos funcionários de ''vagão Getúlio'', devido às viagens constantes do ex-presidente Getúlio Vargas, durante as décadas de 1930 e 1940.
Já o segundo vagão, o AM-01, construído em 1924 por oficinas de Curitiba, era utilizado para transporte de diretores de ferrovia e outras personalidades, como o ex-presidente da República, Nereu Ramos, durante suas viagens pela malha ferroviária do Paraná e Santa Catarina.
Os bilhetes para a edição deste ano, cuja temporada vai até o fim de outubro, já estão à venda no site oficial do Trem dos Vales.
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